Em defesa do ‘jeitinho’

by Paulo Moreira

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Nós queremos um país livre de corrupção, uma classe política em que honestidade seja um traço comum e não uma vantagem, uma sociedade justa e igualitária. Queremos mesmo? Muita gente compra lugar em fila, dá “cervejinha” para evitar multa de trânsito, paga o cara da companhia de TV por assinatura para colocar um ponto extra disfarçadamente… Enfim, os brasileiros usam “jeitinhos”.

O “jeitinho” não é necessariamente ruim, mesmo que algumas vezes ele drible algumas regras. O que é necessário é evitar justamente a criação excessiva de regras e distinguir entre o que é uma forma de superar uma limitação e o que gera prejuízo a outras pessoas.

Por exemplo, se você compra um lugar em uma fila, está pagando a alguém que chegou cedo e ocupou aquele lugar por você. Quem chegou depois só pode se queixar de não ter dinheiro para fazer a mesma coisa.

Já a “cervejinha” para evitar a multa faz com que o agente que deveria lhe multar cometa um crime, chamado prevaricação. Isso pode gerar punições graves tanto para quem oferece quanto para quem recebe a tal cervejinha.

O caso do ponto extra de TV é uma questão que fica entre as duas anteriores. Nesse caso, quem obtém essa vantagem está recebendo de graça um serviço pelo qual a empresa fornecedora esperava pagamento, mas, ao mesmo tempo, não há prejuízos para terceiros.

O risco que se corre é, caso a irregularidade seja descoberta, perder-se o ponto extra ou receber-se uma cobrança retroativa. Ou ambos.

Complicação desnecessária

A tendência de proibir as coisas só ajuda a complicar mais os processos, gerar mais burocracia e criar espaço para os “jeitinhos”.

Por exemplo, as empresas não podem mais contribuir para campanhas políticas. A intenção é impedir que essas contribuições virem investimentos a serem recebidos de volta, com lucro, depois da vitória de quem recebeu o dinheiro.

Aí, para substituir isso, os políticos querem o financiamento público de campanhas, pegando o dinheiro dos impostos que todos pagamos para bancar propagandas destinadas a nos convencer a votar em alguém que vai decidir onde aplicar esses mesmos impostos.

Seria mais fácil manter a permissão para as empresas contribuírem para as campanhas e punir exemplarmente os casos de favorecimento ilícito do governo a empresas, mantendo o suado dinheiro dos impostos intacto para outros usos.

Os interesses

Empresas, pessoas e organizações têm o direito de apresentarem argumentos e fazerem pressão sobre parlamentares para que esses votem de acordo com seus interesses.

As empresas do setor de aviação, por exemplo, podem pedir que o Congresso Nacional baixe os impostos sobre o combustível de avião, argumentando que isso ajudaria a baixar os preços das passagens aéreas.

E um grupo de cidadãos que não viaja de avião pode querer que os impostos sejam mantidos. Cabe aos deputados e senadores decidir se essa medida é ou não benéfica para a sociedade como um todo.

Talvez seja o caso de permitir que os diversos interesses de diferentes setores da sociedade sejam defendidos abertamente, e que os parlamentares tomem posição sobre esses assuntos.

Afinal de contas, para isso é que elegemos políticos: para defenderem nossos interesses.

Só precisamos lembrar que nem sempre os interesses são iguais, e que vai vencer quem tiver mais capacidade de articulação e organização.

Símbolo: ‘Cervejinha’ virou apelido para prática que pode ser entendida como corrupção (Foto: Fotos Públicas)

Símbolo: ‘Cervejinha’ virou apelido para prática que pode ser entendida como corrupção (Foto: Fotos Públicas)

Mudando de assunto: sobre as mudanças de nomes de partidos

O PTN virou Podemos, o PEN vai passar a se chamar Patriota, a Rede já nasceu assim, sem usar siglas, o antigo PFL virou Democratas há anos, o PSL passou a usar o nome de Livres, e temos o Solidariedade.

Há notícias também de que o PMDB vai fazer uma convenção para tirar o “P”, passando a se chamar Movimento Democrático Brasileiro. A impressão é que as agremiações partidárias estão se reinventando, buscando renovar sua imagem e estabelecer um novo tipo de contato com a população.

Talvez funcione. Os eleitores estão desiludidos e a grande maioria tem a impressão de que todos os políticos estão envolvidos com algum tipo de irregularidade.

Uma sacudida no cenário, trocando as siglas por palavras inteiras, pode realmente ajudar a criar uma identificação mais fácil. As siglas são substituídas por palavras que remetem a conceitos valorizados pelas pessoas.

Resta saber se o eleitor vai acreditar que esses novos nomes de partidos expressam uma nova maneira de fazer política.

 

 

PAULO MOREIRA | [email protected]

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14 comments

الفتح - الوغد 2 de setembro de 2017, 22:30h - 22:30

Solução? Monarquia…

VAI VENDO 3 de setembro de 2017, 20:48h - 20:48

Sim! E Monarquia Constitucional onde tem um rei chefe de Estado e um ministro e parlamentares eleitos pelo povo.

Se temos o Brasil continental hoje é graças a monarquia. Se o Brasil teve mais de 60 anos de avanços, estabilidade, respeitado no mundo inteiro e de paz foi justamente no Brasil imperial, mais precisamente com D. PEDRO II.

Ai veio a Princesa Isabel assinando a Lei Áurea, libertando os escravos para favorecer a era industrial começado na Inglaterra, deixou os fazendeiros mais rebeldes que junto a alguns militares TOMARAM o poder (uma elite proclamou a república) obrigando D. PEDRO II a sair do país.

Eu que conheço a Administração Pública desde o ano de 1300 em Portugal só vejo um caminho para o Brasil que é a monarquia, a exemplo de muitos países, como por exemplo a Suécia, Japão entre outros bem sucedidos.

HÁ MUITOS QUE DIRÃO que não querem sustentar uma família real, mas não conseguem justificar a nossa república sustentando quadrilhas inteiras a cada governo eleito.

VAI VENDO 3 de setembro de 2017, 21:10h - 21:10

Durante a monarquia tivemos UMA ÚNICA constituição que durou mais de 60 anos.

Durante a república tivemos 6 (SEIS). A última está toda remendada e que precisa se jogada no lixo.

VAI VENDO 2 de setembro de 2017, 11:22h - 11:22

Corrupção é corrupção em qualquer grau. Quem é capaz de obter vantagens com UM CENTAVO é capaz de fazer o mesmo com UM MILHÃO ou mais.
Responda para você mesmo: Eu sou capaz disso?

gilberto 29 de agosto de 2017, 11:36h - 11:36

“Janot abre primeira ação contra reforma trabalhista”. Pelo vasto conhecimento dos senhores c certeza não concordam c o Procurador Geral da República, tendo em vista o mesmo discordar dos “avanços” promovidos pelos seus ídolos.

guto 29 de agosto de 2017, 18:44h - 18:44

O Senador Romero Jucá tem uma sentença curiosa: “O Janot começou bem, mas depois se perdeu”… O que Jucá quer dizer com essa sentença?!
Quando Jucá diz que “começou bem” ele se refere aos primeiros anos de seu mandato até o impeachment da Dilma em que Janot NADA FEZ, em que ele era um Janot ACOMODADO, um Janot MODESTO, PEQUENO…. Ninguém se lembra de uma atuação relevante do Janot até o momento libertador do Impeachment, quando ele (Janot) se libertou com a saída do PT a quem ele é ligado, pois Janot é amante dos petistas….
Com a queda da Dilma, o Janot “se perdeu” de acordo com Jucá, pois começou a trabalhar e aí ficou ruim para o PMDB… Sem o PT no horizonte, o Janot ficou valente, cheio de empenho, trabalhando 25 horas por dia…

Capitalista com celular de cartão 29 de agosto de 2017, 20:26h - 20:26

Ih, o Temer mandou fechar a Farmácia Popular onde o “guto” retirava o tarja-preta dele. O suíno está surtando cada vez mais…

Gilberto 29 de agosto de 2017, 21:32h - 21:32

Quer dizer q o Procurador Geral da República se perdeu? O senhor realmente não pode ser levado a sério Kkkkkkkkkkkk, o senhor é genial.
Agora vc se superou Kkkkkkkkkkkk

Geninha 29 de agosto de 2017, 21:36h - 21:36

Defendendo o Juca? Kkkkkkkkkkkk

geninha 30 de agosto de 2017, 12:41h - 12:41

“Às vezes é melhor ficar quieto e deixar que pensem que você é um idiota, do que abrir a boca e não deixar nenhuma dúvida”. KKKKKKKKKKKK

Severino 28 de agosto de 2017, 18:08h - 18:08

No ano passado eu e minha esposa estávamos viajando em uma excursão de turismo para Goiânia, quando o ônibus fez uma parada para o lanche em um grande restaurante na Estrada. Estávamos sentados em uma mesa com um casal de aproximadamente 40 anos de idade, com um menino de 9 ou 10 anos. O menino foi ao balcão (que estava cheio ) pegou um espeto de queijo e voltou para a mesa. Virou para o pai e disse ” Pai a moça não pegou o tiket do espeto, e o pai imediatamente disse sem o menor constrangimento ” Bota no bolso e depois você come outro “. Não precisa dizer mais nada né ?

guto 28 de agosto de 2017, 15:49h - 15:49

O PT deu um jeitinho de transformar um açougueiro como Joesley Batista no maior empresário de proteína do mundo, mas esse jeitinho acabou com milhares de pequenos empresários, que empregavam milhões de trabalhadores honestos…
O PT deu um jeitinho de esquecer a Lei de Responsabilidade Fiscal através das pedaladas da Presidenta Dilma Roussef, isso acarretou um desequilíbrio das contas públicas, levando o país para a maior crise econômica desde a Proclamação da República em 1889…
A Lei de Gerson foi a única Lei considerada sagrada pelos petistas, contudo essa lei só enriqueceu os petistas e seus amigos, deixando a sociedade brasileira de pires nas mãos…

Liberdade e propriedade 27 de agosto de 2017, 19:07h - 19:07

O brasileiro é corrupto, os políticos são uma amostra do povo. Melhor maneira de evitar ser vítima da corrupção é o dinheiro ficar no bolso do proprietário, nada de fundo comum, nada à ter em comum, nada de comunismo. Desse modo mata-se a corrupção pela raiz. Conhecendo o meu povo, não acredito em outra solução.

Ary Góis 27 de agosto de 2017, 12:51h - 12:51

Tipo o suíno hipócrita que usa mídia pirata, carteirinha falsa de estudante, atestado médico falso para faltar ao trabalho, gatonet, pedido ao vereador para “quebrar aquele galho” na Prefeitura, entre outras pequenas corrupções do dia-a-dia.
E, quando a Globo toca o berrante, se apressa em se juntar à boiada paneleira fantasiado com camisa falsa da CBF a protestar “contra a corrupção”…

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