Empréstimo de R$ 1 mil no cheque especial vira dívida de até R$ 2 milhões em cinco anos

by Diário do Vale

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 Taxas de juros no Brasil disparam, lucro dos bancos cresce e cheque especial vira armadilha

 O Brasil ostenta hoje as maiores taxas de juros do planeta. Taxas oficiais. Selic a 12,75% ao ano, ou seja, taxa real de 5,28% ao ano (descontada a inflação) contra 3,18% da China, segunda colocada. Índia em terceiro com 3,17% e Taiwan em seguida com 1,47%.

Mas a maior taxa do mundo, mesmo no valor bruto de 12,75%, é quase nada se consideradas as taxas que são verdadeiramente pagas pelos brasileiros aos bancos. Hoje a taxa média anual do cheque especial é de 246% e, em alguns bancos, chega a 357% anualizada.

Resultado: se você pegar R$ 1 mil no cheque especial à taxa média dos bancos (10,9% ao mês) e não puder pagar, em cinco anos estará devendo quase R$ 500 mil.

Em 10 anos, você vai dever R$ 246 milhões.

Tomando a mais alta taxa de cheque especial hoje (13,5% do Santander), você terá, em cinco anos, uma dívida de quase R$ 2 milhões.

Em 10 anos a dívida vai para quase R$ 4 bilhões.

Ou seja, no Brasil, com R$ 1 mil em dívida, em cinco anos você vira um milionário às avessas.

Em dez anos, um bilionário, também pelo avesso.

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Veja, abaixo, os efeitos dos juros nos empréstimos do cheque especial

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Maior taxa em mais de 20 anos e maior lucro dos grandes bancos

“Quando a economia brasileira vai bem, os bancos vão bem. Quando a economia vai mal… bem, ao menos alguns bancos parecem ir melhor ainda”.

(Reportagem da BBC Brasil, 23 de março de 2015)

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A taxa média de 246% ao ano é a maior dos últimos 20 anos. Há apenas um ano, em abril de 2014, era de 162%. E já era absurda.

Não por acaso os bancos brasileiros são as empresas de capital aberto mais lucrativas de toda a América Latina. Em 2014, Itaú liderou e o Bradesco ficou em segundo. Banco do Brasil em quarto.

Das 30 empresas da América Latina com maior lucro, dez (um terço) são bancos. Em sua maioria brasileiros.

Já neste primeiro trimestre de 2015, a expectativa da consultoria Goldman Sachs é lucro recorde para os grandes bancos brasileiros.

Um banco brasileiro tem rentabilidade quase três vezes maior que um banco americano. Em época de crises mundiais esta diferença aumenta. Os bancos brasileiros ficam ainda mais lucrativos.

Explicação?

Em épocas de crise, o Banco Central aumenta ainda mais os juros. Costuma também subir o chamado “spread”(a diferença entre o que o banco paga para captar dinheiro e o que cobra dos clientes).

Agiotas americanos vão presos por taxas de juros bem menores

“Os juros praticados no Brasil fariam um agiota americano sentir vergonha”

(The New York Times, dezembro de 2014)

Mafioso americano que foi preso cobrava juros de  200% ao ano, ou 9,6% ao mês
Mafioso americano que foi preso cobrava juros de 200% ao ano, ou 9,6% ao mês

Há sete meses – em 10 de setembro do ano passado – uma ação conjunta nos EUA da polícia do Estado de New York e da procuradoria de  Rockland County prendeu Anthony DePalma, o Harpo. Motivo: emprestava dinheiro a “taxas de juros exorbitantes” e “usurárias” de até 200% ao ano, nas palavras da procuradoria do distrito.

Um mês antes, também em Rockland County, o FBI prendeu Daniel Pagano de Airmont, sob a acusação de agiotagem e jogo. Pagano seria um membro graduado da família mafiosa Genovese.

Em março do mesmo ano, em Detroit, Michigan, uma investigação do FBI levou à condenação, a 41 meses de prisão, de Tomo Duhanaj, 44 anos, por atividades de agiotagem dentro da comunidade albanesa.

O réu se declarou culpado das acusações de fazer extensões exorbitantes de crédito e lavagem de dinheiro. Emprestou centenas de milhares de dólares “com altas taxas de juros, por vezes, superior a 100% ao ano”, diz a nota da procuradoria federal em Michigan, divulgada no site do FBI e da própria procuradoria:

– “Este réu usou seus contatos em sua comunidade para saquear as pessoas que estavam desesperados por dinheiro”, afirmou a procuradora federal Barbara L. McQuade.

Parafraseando Ancelmo Gois, deve ser horrível viver em um país onde a máfia e os agiotas exploram pessoas desesperadas por dinheiro, cobrando juros anuais de 100% a 200%.

Nos EUA este tipo de atitude dá cadeia.

No Brasil o dobro disso é parte da cultura local e da política econômica.

Agiota condenado a mais de 3 anos de cadeia emprestava dinheiro a 100% ao ano, ou 6% ao mês

Agiota condenado a mais de 3 anos de cadeia emprestava dinheiro a 100% ao ano, ou 6% ao mês

 

AURÉLIO PAIVA| [email protected]

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7 comments

Pietro 27 de abril de 2015, 10:31h - 10:31

Se são juros tão escorchantes, porque se recorrem aos empréstimos? Por necessidade? E de onde vem a necessidade? Ou seria desejo?

ÊTA POVINHO 27 de abril de 2015, 13:59h - 13:59

Eu recorro aos amigos quando preciso de empréstimos, e pago o juros da poupança. Mas atenção: o pagamento das mensalidades é RELIGIOSAMENTE PONTUAL e COMO RELÓGIO ATÔMICO.

Eu tenho crédito com qualquer amigo e quando quiser. Simples assim!

Coruja 27 de abril de 2015, 08:16h - 08:16

No Brasil, país da impunidade, tudo é permitido, tudo é a lei. Os ladrões podres são presos, os ricos, fazem uso da delação premiada, iniciam suas penas no semi aberto, rapidamente conseguem emprego, isso quando não vão cumprir prisão domiciliar, mas enfim, todos fazem o que querem nesse país de m*rda.
Então nessa linha de raciocínio, façamos o seguinte, não deu pra pagar não pague, afinal, SPC e SERASA caduca com 3 anos e banco central com 5 anos, vamos usar o direito que nos cabe!

Al Fatah 27 de abril de 2015, 09:31h - 09:31

Um erro não justifica o outro. Não se pode generalizar a cultura da impunidade e com base nela sair por aí prejudicando quem quer que seja, isso sim seria condenar não só a estabilidade do país como um todo, mas a própria existência da sociedade num ambiente de mínima organização…

Os bons devem dobrar os maus, não se juntar a eles com base em pretensas vantagens que cedo ou tarde contarão seu preço…

Coruja 27 de abril de 2015, 12:42h - 12:42

Lindas palavras, excelente senso social, entretanto, quando a sociedade está do jeito que se encontra a sociedade brasileira, tudo tem que ruir para que seja novamente iniciado.
Por enquanto só o que eu vejo é uns se dando muito bem e muitos se dando muito mal.
Respeito seu pensamento, mas acho que temos que dar uma resposta! As vezes é preciso morrer 100 para que sejam 1000 salvos. É minha opinião.

ÊTA POVINHO 27 de abril de 2015, 13:54h - 13:54

Caro Coruja, a sociedade começa contigo. Se Vc pensa assim então a sociedade tbm pensa assim. Então pense diferente para a sociedade pensar diferente, vai.

Vc dando calote no SPC e SERASA, Vc está dando calote na sociedade, a começar por mim e no Al Fatah.

Os juros que Vc devia pagar para o banqueiro, o banqueiro repassa a sociedade, a começar por mim e para o Al Fatah, nos demais comentaristas daqui, os leitores que não comentam, enfim, para a sociedade. Por isso esse juros estratosférico.

Eu conheço bem a estratégia desse juro alto, mas meus argumentos não passam pelo moderador do DV.

Al Fatah 26 de abril de 2015, 14:09h - 14:09

Infelizmente, para o brasileiro – seja ele rico ou pobre – não vale aquela máxima que diz: nunca dê um passo maior do que as pernas permitem. Vejo muita gente se endividando por querer ter um padrão de consumo maior do que suas disponibilidades financeiras suportam. Isso alimenta esse círculo vicioso de juros altos e especulação…

O Brasil costuma estimular os consumo, aferindo o desempenho da economia apenas com base em valores de venda, conforme vimos no início da década e cujos reflexos sentimos agora… Economia se faz com recebimentos, não com vendas. Se eu compro e não pago é ruim para mim que fico com crédito negativado, não podendo comprar; é ruim para o vendedor que não tem venda e/ou receitas da venda para investir, tendo que recorrer a empréstimos para garantir o giro dos negócios e sua própria sustentabilidade; é ruim para quem empresta, por motivos semelhantes aos de quem vende: não há garantias de recebimento, e por isso os juros sobem…

Algo que não serve de solução para crises desse tipo, mas ajudariam a minorá-las no futuro: aulas de economia básica nas escolas…

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