Fogo nas barbas do vizinho

Por Paulo Moreira

Os políticos que perdoem o colunista, mas esta semana eles não vão ser o assunto da coluna. Era uma sexta-feira como tantas outras quando a notícia de uma explosão na Usiminas, em Ipatinga, lá no estado do pão de queijo, nos chamou a atenção. O gasômetro da aciaria explodiu, deixando feridos entre os trabalhadores e causando abalos sentidos na cidade. As barbas do vizinho arderam.

A primeira coisa que veio à cabeça do colunista foi “o que aconteceria se acidente semelhante ocorresse na CSN?”. E a resposta é: não seria nada bonito.

Basta olhar os mapas das duas cidades, que o colunista conseguiu no Google. Em Ipatinga, a usina está distante das áreas mais densamente habitadas da cidade. Assim, quando houve a explosão, os moradores ouviram um barulho alto, o chão tremeu e todo mundo está preocupado com a hipótese de ter vazado algum gás, mas ninguém que não estivesse dentro da usina foi ferido diretamente pela explosão.

Agora, olhe o mapa de Volta Redonda. A cidade fica literalmente ao redor da Usina Presidente Vargas. Há um gasômetro separado da Vila Santa Cecília apenas pela BR-393 e pela Avenida dos Trabalhadores. Se ele explodir, vai sobrar pra gente que nunca viu uma corrida de aço ao vivo.

Um caso que o colunista conhece apenas de ouvir falar dá conta de um acidente em Volta Redonda, nos anos 80, quando vazou gusa sobre um chão molhado pela chuva. A explosão (que era de vapor d’água) quebrou vidraças em toda a Vila Santa Cecília e conta-se que pessoas que andavam pela rua foram feridas pelo vapor de água em alta temperatura.

Mas era vapor d’água. O gás natural usado na produção de gusa e de aço explodiria com muito mais força e em temperatura mais alta; além disso, se ele vazar para a atmosfera, vai ficar próximo ao solo, por ser mais pesado que o ar, é tóxico e as pessoas nem sentiriam que estão sendo envenenadas, porque ele não tem cheiro. Aliás, o gás de cozinha também não: ele só fede daquele jeito porque uma substância é adicionada para que ele cheire assim.

Isso tudo acontece porque a cidade está perto demais da usina. Por erro de projeto, Volta Redonda foi feita assim. A ideia era que os trabalhadores não tivessem dificuldades para chegar à usina.

Além do risco de vítimas “civis” (pessoas que não trabalham na CSN) em caso de acidente, a proximidade com a UPV submete o voltarredondense a problemas ambientais como a famosa poeira preta e os ruídos normais da operação da usina. Quando criança, o colunista brincava de astronauta e seu “foguete” era lançado sempre que a usina fazia a descarga de gases do alto-forno.

Solução? Em termos práticos, apenas caprichar nos equipamentos antipoluição para reduzir o impacto ambiental. E que os religiosos mantenham o caderninho de rezas e orações em dia, porque acidentes, bem… acidentes acontecem.

Errado: Volta Redonda cresceu literalmente em volta da usina imagen: Google Maps
Certo: Em Ipatinga, usina fica afastada da cidade - Imagem: Google Maps

VOCÊ PODE GOSTAR

5 Comentários

Eu mesmo 14 de agosto de 2018, 15:13h - 15:13

Meu caro colunista
Aqueles “pirulitos” que ficam na beira da 393 são de oxigênio, da White Martins.
O gasômetro da CSN que se assemelha ao da Usiminas fica la no meio da UPV.

PRONTO FALEI 12 de agosto de 2018, 12:51h - 12:51

O acidente foi no inicio da decada de 60, uma panela de gusa que estava sendo içada para o misturador na aciaria velha e caiu, foram 23 mortos.

Alexsander 14 de agosto de 2018, 20:06h - 20:06

Acho que o acidente que o colunista está se referindo não é esse terrível do qual você oportunamente se lembrou. O do início dos anos 80 teve menor gravidade, mas mesmo assim algumas pessoas de dentro da usina se machucaram, inclusive meu pai que trabalhava na Sobremetal, antecessora da Harsco, e teve parte das costas, cintura e pernas queimadas…

Smilodon Tacinus 12 de agosto de 2018, 09:02h - 09:02

Se quem estava dentro da usina mineira, uma área confinada, não se machucou com gravidade, não há motivos para acreditar que um acidente similar a ocorrer na CSN traria maiores prejuízos… Fora isso, analisando apenas o esquema de localização das usinas, a Usiminas teve um projeto muito melhor elaborado, e não sei por qual motivo não destruíram o imenso parque florestal que lhe faz divisa junto ao rio não foi ocupado… A área contígua ao rio aqui também não deveria ter sido loteada (Retiro, Belmonte, Vila Mury, Vila Brasília, Açude, Padre Josimo, etc.), mas foi, e com pressão, tanto que é a área mais densamente povoada do município hoje…
A diferença talvez seja porque lá é Minas Gerais e, aqui, Rio de Janeiro…

Que troquem os filtros 12 de agosto de 2018, 08:44h - 08:44

E os filtros da CSN continuam estragados, aqui no Belvedere a poluição chega com força total, algo que antes , não acontecia…
Já tive leucopenia, diversas vezes, doença comum em quem trabalha em usina, sendo que nunca trabalhei…
Que coloquem multa pesada para a CSN, por não trocar os filtros!!!

Comments are closed.

diário do vale

Rua Simão da Cunha Gago, n° 145
Edifício Maximum – Salas 713 e 714
Aterrado – Volta Redonda – RJ

 (24) 3212-1812 – Atendimento

(24) 99926-5051 – Jornalismo

(24) 99234-8846 – Comercial

(24) 99234-8846 – Assinaturas
.

Image partner – depositphotos

Canal diário do vale

colunas

© 2024 – DIARIO DO VALE. Todos os direitos reservados à Empresa Jornalística Vale do Aço Ltda. –  Jornal fundado em 5 de outubro de 1992 | Site: desde 1996