Lama de negligência

by Diário do Vale

A sexta-feira da última semana prometia ser um dia quente, por causa da temperatura que assola boa parte do país, jamais, porém, pelas notícias que chegariam de Minas Gerais em função do vergonhoso acidente que vitimou até agora mais de uma centena de pessoas: o rompimento da barragem de Brumadinho, mais um episódio negro na biografia da Vale S.A.

Depois do acontecido no dia 5 de novembro de 2015, em Mariana, também em Minas – um crime classificado como o pior acidente da mineração brasileira, tragédia que ocorreu após o rompimento da barragem do Fundão da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton -, jamais se imaginaria que algo semelhante acontecesse novamente, vitimando um enorme número de pessoas e devastando uma cidade inteira.

O rompimento da barragem derramou mais de 40 milhões de metros cúbicos de lama de minério em um vale, na área rural da cidade de Mariana. A avalanche arrasou povoados, e em Bento Rodrigues mais de 200 famílias perderam suas casas e 19 pessoas morreram. Indiscutivelmente, esse foi o maior desastre ambiental ocorrido no Brasil, com impactos em várias cidades mineiras e do Espírito Santo.

Ambientalistas consideram que o efeito dos rejeitos no mar possam continuar por, pelo menos, 100 anos. Segundo a prefeitura de Mariana, a reparação dos inúmeros danos causados ao local poderá custar mais de 100 milhões de reais.

A Vale é uma mineradora multinacional brasileira e uma das maiores operadoras de logística do país e de mineração do mundo, além de ser a maior produtora de minério de ferro, de pelotas e de níquel. No seu site, a empresa tenta mostrar que o seu objetivo é transformar recursos naturais em prosperidade e desenvolvimento sustentável, e que seu compromisso é buscar ser a empresa global de recursos naturais, a número um em criação de valor de longo prazo, com excelência, paixão pelas pessoas e pelo planeta, algo que de 2015 até hoje tem se mostrado frágil e mentiroso diante de sua capacidade de conter catástrofes.

Seus valores são: a vida em primeiro lugar, a busca por valorizar o que faz a empresa, cuidar do planeta, agir de forma correta, crescer e evoluir juntos e finalmente, fazer acontecer. Esses seis pontos buscam marcar a identidade da Vale, empresa que tem 76 anos, fundada em 1 de junho de 1942, na cidade de Itabira, terra do grande poeta Carlos Drummond de Andrade que, se vivo fosse, certamente já teria feito um ou mais poemas para patentear a negligência dessa empresa e homenagear os mortos desse terrível acidente.

A empresa, que vale 300 bilhões de reais, tem, hoje, por ordem do Ministério Público alguns bilhões de reais bloqueados, em função do que acaba de ocorrer, obviamente algo insuficiente diante do terrível quadro de devastação. Suas ações tem caído de forma vertiginosa, cerca de 8% somente nos dois primeiros dias após o rompimento da barragem e que hoje somam perdas de mais de 70 bilhões de reais do seu capital.

Fabio Schvartsman, presidente da Vale, que tomou posse em 2017, quase dois anos após acidente ocorrido em Mariana, buscou, em suas entrevistas, transparecer sensibilidade e até mesmo surpresa com o acontecido, pois, segundo ele, todos os protocolos necessários para se evitarem novas tragédias foram tomados, mas certamente não foram suficientes, pois o que aconteceu agora em Brumadinho soterrou na lama da reincidência dezenas de pessoas. São crimes dolosos que nunca serão esquecidos. Mariana foi uma tragédia ambiental. Brumadinho, uma tragédia humana, com 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos espalhados por centenas de quilômetros, uma imensa mancha de sangue na história do Brasil e de Minas Gerais.

Em muitos locais da tragédia, são mais de 10 metros de altura dessa terrível lama, onde estão inúmeros corpos soterrados; e, com a passagem dos dias e a sua solidificação, teremos apagadas as chances de localizarmos os mortos, algo que me faz lembrar do exército de terracota (os guerreiros de Xian) ou do imperador Qin, uma forma de arte funerária enterrada com o imperador Qin Shi Huang, o primeiro imperador da China. As estátuas incluem guerreiros, carruagens e cavalos. Assim como está hoje, o novo solo de Brumadinho assemelha-se àqueles: homens, mulheres, crianças, animais, além de todos os tipos de bens enterrados de forma criminosa, diante da negligência e ganância de quem pensa em ganhar mais e oferecer sempre bem menos.

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