Largados e pelados

by Diário do Vale

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  1. É quase inacreditável que tenhamos chegado até aqui do jeito que chegamos.

Se tiver alguma duvida, assista qualquer dia a um episódio do reality show “Largados e pelados”, exibido no Brasil pelo canal a cabo Discovery Channel.

Nessa série um casal que não se conhece é deixado à própria sorte em algum local inóspito e perigoso, como uma floresta tropical da Costa Rica, uma savana africana do Serengeti ou uma região desértica qualquer onde faça quarenta graus de dia e cinco à noite. Locais habitados por cobras e aranhas venenosas, insetos que transmitem doenças, onças, jacarés ou hienas. E frequentemente pouco acesso a alimento e água.

Para ajudar na missão podem levar apenas um único apetrecho (normalmente um facão) e mais nada. Nada mesmo, nem as roupas do corpo.

O desafio é sobreviver 21 dias abandonados nesse local, e depois se dirigir ao ponto de resgate assinalado num mapa primitivo, localizado a vários quilômetros do ponto de partida.

Na maioria dos casos os participantes mal conseguem coletar comida, e passam 3 semanas apenas tentando fazer fogo, construir algum abrigo rudimentar ou encontrar água. Quando conseguem se alimentar é caçando algum animar selvagem, como cobra, rato, tartaruga ou sapo, algo que só mesmo o estado famélico pode justificar.

No final das contas, terminam o programa exaustos, famintos, magros, desnutridos e desidratados, mas com a sensação de vitória por terem terminado vivos.

Já estamos tão acostumados a todos os confortos que a vida moderna nos trás que é um grande choque perceber o quão frágil somos frente à natureza selvagem que um dia conseguimos domar (e quem sabe estragar).

Como todo reality show, não há grandes questões metafísicas a extrair, mas no caso deste, é difícil não imaginar a saga que nossos ancestrais cumpriram até aqui para que possamos despejar chantilly em cima do morango, resfriar o escritório nas tardes de verão ou matar insetos com o borrifar de um inseticida.

Nos acostumamos tanto aos confortos da vida moderna que já não damos valor a nenhuma dessas conquistas que levaram dezenas de milhares de anos para se incorporar à nossa rotina.

O semblante de prazer dos participantes quando conseguem encontrar água ou comer algum bicho asqueroso qualquer é bastante didático.

Portanto, antes de reclamar do cardápio, da poltrona, do sol ou da chuva, recomendo que assista a um desses episódios.

A vida realmente não é fácil, mas já foi um bocado mais difícil.

 

ALEXANDRE CORREA LIMA| [email protected]

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3 comments

Daniela 10 de julho de 2016, 23:46h - 23:46

Muito bom!!!
Vale a reflexão.

Al Fatah 5 de julho de 2016, 12:06h - 12:06

Belo artigo. A evolução é progressão aritmética, uma subida degrau por degrau… Não importa se estamos na base ou no alto da escada, qualquer avanço ou retrocesso é igualmente sentido…

Alexsander 5 de julho de 2016, 11:52h - 11:52

“Como todo reality show, não há grandes questões metafísicas a extrair (…)”. Excelente a ironia fina, traço típico de pessoas inteligentes…
Achei ótima a tua análise, pois o que a gente mais vê por aí são pessoas com a síndrome do “Seu Lunga” (personagem da literatura de cordel que reclama de tudo, até de mulher apertada!!!)
Temos que ser mais gratos a Deus por udo de bom e também de ruim que temos em nossas vidas, pois na Síria ou em outro canto perdido da África é bem pior…

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