A grande mancha vermelha de Júpiter está encolhendo e pode desaparecer em 20 anos. É o que disse o cientista Glenn Orton, que comanda a missão da sonda Juno no Laboratório de Propulsão a Jato de Pasadena, na Califórnia. Quando foi observada pela primeira vez, em 1830, a Grande Mancha Vermelha tinha quatro vezes o tamanho da Terra. Agora, encolheu para duas vezes o diâmetro do nosso mundo. A mancha é um gigantesco furacão que pode ter durado séculos, mas está perdendo força, como acontece com toda tempestade.
Orton acha que ela vai virar um círculo e sumir nos próximos vinte anos. A mancha só durou tanto tempo porque a atmosfera de Júpiter tem milhares de quilômetros de profundidade. E a mancha é alimentada pelas correntes de jato, que sopram com velocidade em torno dos 500 quilômetros horários na atmosfera joviana. Com ou sem mancha vermelha o maior planeta do nosso sistema solar não vai perder a sua beleza exótica. Como mostram as fotos recentes dos redemoinhos da atmosfera de Júpiter transmitidas pela sonda Juno.
A observação de Júpiter mudou a história de ciência e revelou que os seres humanos não eram tão importantes quanto imaginavam. Até o século XVI a humanidade acreditava que a Terra era o centro do universo e tudo girava em torno do nosso planeta. Essa crença, apoiada pela igreja católica, começou a ser abalada em 1610, quando o físico italiano Galileu Galilei apontou sua luneta para o céu estrelado. Ele descobriu que Júpiter tinha quatro luas girando ao seu redor. E se Júpiter era o centro de um sistema de luas a Terra não era o centro de tudo.
A construção de telescópios cada vez maiores revelou que Júpiter é um mundo de nuvens coloridas, com tonalidades em torno do amarelo, marrom, azul e branco. Com a mancha vermelha se destacando nesta atmosfera fantástica.
Até meados do século passado ainda se acreditava que Júpiter tivesse uma superfície sólida oculta embaixo do mar de nuvens. Seria um mundo proibido para os seres humanos, com uma gravidade cinco vezes maior que a da Terra e ventos violentos. Para explorar a superfície de Júpiter os homens de futuro teriam que abdicar de sua condição humana, transformando-se em criaturas alienígenas, capazes de sobreviver no mundo hostil.
Foi o que imaginou o escritor americano Clifford Simak, no conto “Deserção” da antologia clássica “Cidade”. Na história um homem e seu cachorro viajam para Júpiter e passam por uma metamorfose que os transforma em criaturas semelhantes a focas. Assim eles não são esmagados pela gravidade alta e resistem ao frio e aos ventos. O cachorro adora a transformação porque fica livre das pulgas que o atormentavam. E depois de experimentar o ambiente de Júpiter os dois personagens desistem de viver na Terra.
As pesquisas modernas mostram que nem mesmo uma foca alienígena conseguiria viver em Júpiter. Porque o planeta não tem uma superfície sólida. Júpiter é um mundo gasoso onde a atmosfera vai ficando cada vez mais densa com a profundidade até se transformar em um oceano de gases liquefeitos, borbulhando a altas temperaturas.
Em 1971, no conto “Encontro com Medusa”, o escritor Arthur C. Clarke imaginou seres que flutuariam na atmosfera de Júpiter como balões vivos. Na vida real é pouco provável que algum tipo de vida conseguisse resistir aos furacões jupiterianos e aos relâmpagos de milhões de volts que atravessam as nuvens do planeta.
Ao contrário do herói canino de Simak só podemos admirar Júpiter de bem longe. Já é suficiente. As imagens enviadas pela sonda Juno mostram uma paisagem que parece ter sido criada pelo delírio de um artista, como Van Gogh. Júpiter é uma obra de arte mutável com onze vezes a largura da Terra. Com ou sem mancha vermelha continuará sendo um dos mais belos espetáculos da natureza.
JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]
1 comment
Muito bom o artigo! É muito legal poder ler esta mistura de ciência com história e ficção científica. Júpiter e suas luas são os locais mais interessantes do Sistema Solar.
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