Outro dia um colega aqui da redação teve um ataque de nostalgia e começou a cantar a antiga canção de Natal da Varig. Foi um dos comerciais de maior sucesso na televisão e tocou em todos os natais das décadas de 1960 e 1970. Quando a Varig era uma das maiores empresas aéreas do mundo. Um orgulho para os brasileiros, como era a Petrobrás de antes da Dilma. A Varig faliu, em 2006, e no melancólico fechar das portas algumas das ex-comissárias de bordo da empresa ganharam um dinheirinho tirando o uniforme na Playboy.
Mas vamos à canção, que todo mundo que tem mais de 40 anos conhece. Segundo o YouTube a letra é de Caetano Zamma e o arranjo, que ainda pode ser ouvido na internet, é do maestro Chiquinho de Moraes. O comercial era um desenho animado, com a silhueta de um Boeing cruzando o céu enquanto o coral cantava:
“Estrela brasileira no céu azul
Iluminando, de norte a sul
Mensagem de amor e paz
Nasceu Jesus, chegou o Natal
Papai Noel voando a jato pelo céu
Trazendo um Natal de felicidade
E um ano novo cheio de prosperidade”
O trecho do “Papai Noel voando a jato” era uma lembrança de que a empresa introduziu os jatos na aviação comercial brasileira. Primeiro com o bimotor Caravelle, fabricado na França, que era usado nos voos domésticos e nas rotas para a América Latina. Depois com o Boeing 707. O primeiro 707 tinha o prefixo PP-VJA ou Victor Juliet Alfa no jargão das torres de controle. Ficava estacionado ali no aeroporto do Galeão sempre que não estava voando para Nova York via Miami.
Memórias
As minhas memórias de infância estão cheias de lembranças da Varig. Meu pai trabalhava em uma gravadora de discos de vinil e ia a São Paulo pela Ponte Aérea. Ele adorava o Electra da Varig, um turbohélice que decolava do aeroporto de Santos Dumont e voava para São Paulo por sobre a costa, evitando as turbulências da serra do Mar. Ele tinha medo de avião mas se sentia seguro dentro do Electra. A Revell, que fabricava miniaturas para montar, lançou um modelo do Electra com 29 cm que hoje vale mais de três mil reais na eBay.
Mas nem tudo era perfeito no universo da Pan American brasileira. Em 1973 um dos Boeings 707 da empresa caiu em Paris depois de um incêndio em um dos banheiros. Morreram 123 pessoas entre elas o cantor Agostinho dos Santos, a socialite Regina Lecléry e o ex-torturador e chefe da polícia política do Getúlio Vargas, Felinto Muller. Entretanto, comparada com outras linhas aéreas até que a Varig tinha poucos acidentes, em média um a cada dez anos. O Electra, que meu pai adorava, nunca teve acidentes e fez a Ponte Aérea Rio-São Paulo durante mais de vinte anos, aparecendo até no filme “007 contra o foguete da morte” do James Bond.
A falência da Varig foi o resultado de uma crise que atingiu toda a aviação mundial. Nos Estados Unidos empresas tradicionais como a TWA e a Pan American também deixaram de operar.
Da Varig restou a musiquinha, que pode ser ouvida no YouTube, e um Electra, que se encontra preservado no Museu Aeronáutico da base aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Na internet também é possível ver os anúncios publicitários da empresa, que vendiam aquela imagem do país tropical, cheio de cores, tucanos, música e mulheres de biquíni. Só que naquele tempo o Brasil era mesmo um lugar alegre e seguro para o turista estrangeiro, diferente do que acontece hoje em dia, infelizmente.
JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]
3 comments
Só faltou o link para o YouTube.
Empresas são como pessoas, vem e vão, cedo ou tarde. Aliás, empresas são pessoas também, só que jurídicas…
Dilma deve ter parcela de culpa, mas o certo seria “Petrobrás antes do preço do barril cair de 100$ para 30$”. Porém hoje a Petrobrás é muito maior do que ao final do governo FHC.
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