No filme da Capitã Marvel a heroína desce na Terra em 1995 e despenca pelo telhado da locadora Blockbuster. O pessoal com menos de 20 anos não deve ter entendido nada, porque as locadoras de vídeo e as fitas de videocassete se tornaram obsoletas quando eles ainda eram bebês. O apogeu e a queda das fitas de vídeo é um exemplo da obsolescência programada das tecnologias no mundo pós-moderno. Onde tudo precisa ser renovado e substituído rapidamente para dar lucro aos fabricantes.
Os primeiros gravadores de vídeo cassete surgiram na década de 1960, mas ainda eram grandes, caros e só gravavam vinte minutos de imagem e som. A tecnologia só chegou ao grande publico aí por volta de 1985, quando a Sony japonesa lançou o formato Betamax e sua rival, a JVC lançou o VHS (Iniciais de Video Home System). Dizem que o Betamax oferecia uma imagem de qualidade melhor, mas não pegou, apesar dos esforços da empresa que contratou uma estrela das novelas da TV para divulgar a nova tecnologia em seus anúncios.
Todo mundo preferiu o VHS e em poucos anos os aparelhos de gravação se tornavam tão comuns quanto os televisores. Além de reproduzir fitas com filmes pré-gravados, eles permitiam gravar programas através de um timer. Que acionava o aparelho na hora mercada mesmo que o dono não estivesse em casa ou estivesse dormindo.
Para os fãs do esporte e do cinema foi o paraíso. Ninguém precisava mais acordar de madrugada para assistir aquele evento esportivo lá no Japão ou nas Filipinas. Era só colocar a fita de vídeo no gravador e ajustar o cronometro para a hora do evento. Digamos as 3h30 ou 4 horas da madrugada. Naquela hora o aparelho ligava sozinho, fazia a gravação e você assistia horas depois, enquanto tomava o café da manhã.
Os cinéfilos também adoraram. Naquele tempo as emissoras de televisão exibiam filmes antigos e clássicos do cinema de madrugada. Para assistir era preciso ficar acordado até as duas ou três horas da manhã. O videocassete acabou com isso, era só programar o aparelho para a hora marcada para a exibição do filme e assistir no dia seguinte. Sem falar que depois de gravado o filme ou a partida de futebol podia ser assistido varias vezes.
As locadoras de vídeo surgiram quase ao mesmo tempo, aí por volta de 1986. Os filmes de sucesso eram exibidos no cinema e saiam em fita de vídeo alguns meses depois. Mas eram caros, de modo que era mais barato alugar a fita com o filme do que comprar. As locadoras, como a Blockbuster da capitã Marvel, tinham um estoque imenso de fitas com filmes de todos os gêneros, antigos e recentes. Era só ir lá, pagar uns cinco reais e assistir ao filme em casa.
É claro que a fita de vídeo não era perfeita. No nosso clima tropical ela criava uma camada de mofo depois de alguns anos. E se uma fita com mofo fosse colocada no reprodutor ela sujava as cabeças de gravação e reprodução. As vezes era preciso levar numa assistência técnica para limpar. O sistema mecânico dos cassetes também podia travar com o tempo e a fita virava uma maçaroca dentro do aparelho.
A era do videocassete durou 15 anos e acabou no ano 2000, quando surgiram os discos de DVD. Que ofereciam uma imagem melhor, mas inicialmente não podiam ser gravados em casa. Os aparelhos de DVD só reproduziam discos gravados. Daí que acabou a mania de gravar jogos de futebol de madrugada. No inicio os discos de DVD tinham um código de região que era outra aporrinhação. Se você tivesse um disco de região 1 ele não tocava num aparelho de região 4 e vice-versa. Felizmente acabaram com isso quando surgiu o Blu-Ray.
A nova tecnologia, dos discos digitais, durou 20 anos, cinco anos a mais do que o videocassete. E se tornou obsoleta com a internet e os canais de TV por assinatura, que permitem baixar e assistir os filmes nas modernas TVs digitais, com isso as antigas locadoras desapareceram e viraram uma antiguidade, lembrada apenas nos filmes de super-heróis com suas viagens no tempo.
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7 Comentários
E ERA UM EVENTO FAMILIAR, QUANDO NOS REUNÍAMOS PARA RESOLVER QUAL FILME ALUGAR PRO FINAL DE SEMANA. MUITO BOM, SAUDADES DESSE TEMPO. E, NÃO SE PODIA ESQUECER DE REBUBINAR A FITA, TINHA TAXA EXTRA NA HORA DE FAZER O PAGAMENTO.
ERA MUITO CHIC, MAIS AMOR, MAIS FAMILIA…
Também tenho saudade disso…
E, hoje, o armazenamento interno e o streaming de vídeo estão sepultando as mídias gravadas… Não fosse o bom e velho vídeo-cassete, jamais teríamos recordações em áudio e vídeo do que passou na TV dos anos 80, 90 e parte de 2000, ao menos nada que pudesse ser disponibilizado pelo público geral, como aquilo que vemos em profusão em sites como o Youtube. Ficaria tudo restrito às emissoras e produtoras de conteúdo… Aliás, o vídeo-cassete ainda não encontrou quem o substitua na função de gravação “in time” do que passa na tela da TV…
Dessa época eu sinto muita falta das videolocadoras. Era muito bom vagar por elas e se deparar com um filme do qual você nunca tinha ouvido falar, como visitar um sebo ou uma livraria hoje em dia. Acho que o próximo a acabar será o livro impresso. Quando as gerações alfabetizadas em smartphones e tablets nos substituírem, os ebooks dominarão o mundo.
5 cabeças, 7 cabeças… era a modernidade dos vídeos Cassetes. Tenho um que funciona até hoje.
O DVD não matou o VHS de cara.
Trabalhei em uma locadora e durante anos precisávamos comprar o título em VHS e DVD.
Somente com o tempo é que os grandes distribuidores começaram a não lançar filmes em VHS, obrigando os consumidores a migrar para o DVD.
Tinha também o Videodisco, que era um disco gravado a laser, similar ao CD, só que do tamanho de um vinil de 33rpm.
Era uma nota e foi um prejuízo sem tamanho para os early adopters, já que não saiu quase nada nesse formato de mídia.
“…Era uma nota e foi um prejuízo sem tamanho para os early adopters, já que não saiu quase nada nesse formato de mídia…”
Algo parecido acabou acontecendo entre o Blu-Ray, liderado pela Sony, e o HD DVD liderado pela Toshiba. Quem acreditou no segundo acabou perdendo dinheiro.
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