O avanço da tecnologia facilitou muito a vida dos críticos de cinema e televisão. Primeiro foram os discos de DVD, depois os sites de vídeos como o enciclopédico Youtube, que permitem assistir filmes e series antigas, algumas quase esquecidas. Não precisamos mais recorrer a cinematecas ou esperar por relançamentos. Todo o acervo de um século de produção cinematográfica está ao nosso alcance, a um toque de botão ou de mouse. Ver filmes ou series antigas mostra como a tecnologia evoluiu na forma, enquanto o conteúdo decaia.
É o caso do “Anjo do Espaço” (Space angel) uma série animada que está disponível em DVD e no site do Youtube. “O anjo do espaço” é uma relíquia dos primórdios da animação na TV. A série foi produzida entre 1962 e 1964, usando uma técnica de animação limitada chamada Syncrovox. Porque animação limitada? Devido ao alto custo dos desenhos animados naquela época.
Quando a televisão começou, nos anos de 1950, existiam filmes e programas ao vivo, mas não havia desenhos animados na TV. Um minuto de animação custava 2500 dólares o que era considerado caro demais na televisão. Alguns “entendidos” diziam que seria economicamente impossível produzir desenhos para a TV. Quem mostrou que eles estavam errados foi o estúdio Hanna-Barbera, que lançou, em 1960, as primeiras series animadas dos “Flintstones” e dos “Jetsons”.
O segredo era usar e abusar dos mesmos cenários e limitar os movimentos dos personagens. Um estúdio pequeno, o Cambria, seguiu o exemplo produzindo duas series, “Clutch Cargo” (Que apareceu no “Pulp Fiction” do Tarantino) e o futurista “Anjo do Espaço”. Se os personagens não podiam se mexer muito o pessoal da Cambria compensava no realismo e no detalhamento dos cenários.
Para o “Anjo do espaço” eles contrataram um artista famoso dos quadrinhos, Alex Toth, que depois trabalhou para a Hanna-Barbera. Toth desenhou o visual dos personagens, as paisagens dos planetas visitados pelos heróis e a espetacular espaçonave Starduster. Um enorme foguete branco cujas linhas lembram o avião supersônico Concorde, então em desenvolvimento.
Scott McCloud era o comandante do Starduster, percorrendo o sistema solar no ano de 2106. Seus companheiros de aventuras eram o engenheiro Taurus, e a navegadora Crystal Mace. McCloud salvava astronautas em perigo e combatia os piratas do espaço. O que levou a ser chamado de “Anjo do Espaço”. Como todo herói que se preza ele vestia um traje espacial branco, como sua nave imaculada. Já a mocinha Crystal preferia um traje cinza o que ficou meio sem explicação.
Embora fosse feito para crianças, o “Anjo do Espaço” antecipou tramas que seriam copiadas depois por seriados mais adultos, como “Jornada nas Estrelas”. Na verdade muita coisa que se vê em “Jornada nas estrelas” é imitação das tramas do desenho da Cambria. Outra coisa que os produtores levavam a serio era a ciência e a tecnologia das tramas. O episódio “Light Barrier” envolve a dilatação do tempo perto da velocidade da luz. E mostra como funciona um motor iônico, como o usado, hoje em dia, pelas sondas da Nasa.
Será que as crianças de 1962 eram mais inteligentes que as de hoje? Acho que não, era a televisão e o cinema que não subestimavam a inteligência da plateia naqueles tempos. O “Anjo do Espaço” ficou esquecido durante décadas, até reaparecer no século 21. Primeiro com o lançamento da serie em DVD, depois com a exibição dos primeiros episódios no Youtube. Ele é um símbolo de como a ficção da TV e do cinema decaiu nas últimas décadas.
O ‘Anjo do Espaço’ e os primórdios da animação na TV
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1 Comentário
Legal a indicação, sou fã de Star Trek e de ficção científica em geral e nunca tinha ouvido falar deste desenho. Quanto às diferenças entre o público de hoje e o de ontem, acredito que hoje somos voluntariamente imbecis; nem mais nem menos inteligentes que as pessoas de outras épocas.
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