O Dia Seguinte 35 anos depois

Por Diário do Vale

Horror: Carbonizados na rodovia

Há pouco mais de 35 anos um modesto filme, feito para a televisão, chocou o mundo e mudou a história humana para melhor. Exibido pela primeira vez na noite de 20 de novembro de 1983, “O dia seguinte” do diretor Nicholas Meyer, mostrava os efeitos de uma guerra nuclear sobre a população de uma pequena cidade na zona rural americana. Lawrence no Kansas, uma região bucólica conhecida pelas fazendas de gado leiteiro e plantações de milho. Infelizmente para os fazendeiros e moradores da pequena cidade, Lawrence ficava bem perto da base de misseis nucleares de Whiteman que alojava, na época, 150 foguetes Minuteman 3. E assim era alvo prioritário dos mísseis soviéticos no caso de uma guerra.

Embora tivesse enfrentado uma forte censura da rede de televisão ABC, o diretor conseguiu mostrar o suficiente para deixar a plateia apavorada. Imagens de pessoas sendo transformadas em esqueletos e vaporizadas pelo calor do cogumelo atômico. Sobreviventes com os cabelos e dentes caindo enquanto morrem lentamente pelo efeito da poeira radioativa. E a cidade de Kansas City reduzida um deserto de ruínas e carcaças de automóveis carbonizados. Entre os espectadores chocados com o filme estava e então presidente dos Estados Unidos, o ex-ator de Hollywood, Ronald Reagan.

Até a exibição do filme Reagan achava que a guerra nuclear com a União Soviética era inevitável. E que os Estados Unidos poderiam ganhar apesar das baixas calculadas em 200 ou 400 megamortes (Um megamorte equivale a um milhão de mortos). Reagan tinha lançado um programa de defesa anti-mísseis, apelidado de Guerra nas Estrelas, para reduzir os efeitos de um ataque soviético. Mas depois de ver os horrores da guerra nuclear, mostrados no filme, em horário nobre, ele mudou de opinião. Sentindo-se deprimido o presidente fez um discurso afirmando que tinha o sonho de “ver as armas nucleares banidas da face da Terra”.

Alguns anos depois Reagan e o lidero soviético Mikhail Gorbachev assinaram o tratado INF (Intermeditate Range Nuclear Forces – Forças Nucleares de Alcance Médio) que levou ao desmantelamento de toda uma categoria de mísseis atômicos, como os foguetes Pershing 2 que ficavam estacionados na Europa. Foi o primeiro passo para os acordos SALT que reduziram as forças nucleares dos dois países a um nível mínimo. Os 150 misseis Minuteman que o filme de 1983 mostra decolando dos silos, no meio das fazendas, foram desmontados.

“O dia seguinte” ganhou dois prêmios Emmy, o Oscar da televisão americana, e foi considerado “o filme mais influente de todos os tempos”. Na União Soviética ele foi exibido quatro anos depois, em 1987. Na verdade a ideia original dos roteiristas era mostrar os efeitos de uma guerra atômica sobre uma família russa e uma família americana. Mas o orçamento reduzido de uma produção de TV só permitiu mostrar o lado americano da tragédia. Na verdade dois meses antes da estreia do filme, a guerra nuclear quase começou por acidente. Uma falha no sistema de radar soviético produziu um falso alarme indicando que mísseis americanos tinham sido disparados contra aquele país. Felizmente para a humanidade o general no comando, Stanislav Petrov duvidou das máquinas e salvou o mundo da catástrofe.

Infelizmente, 35 anos depois, o mundo se encontra a beira de uma nova corrida armamentista. Alegando violações dos tratados pelos russos, o presidente americano Donald Trump interrompeu o tratado INF. No início do ano passado o líder russo Vladimir Putin ameaçou os Estados Unidos com uma nova classe de mísseis nucleares hipersônicos. Com o INF cancelado os dois países vão recomeçar sua corrida louca para o apocalipse atômico. Talvez o mundo esteja precisando de um remake do “Dia Seguinte”.

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4 Comentários

Jonas 10 de fevereiro de 2019, 00:01h - 00:01

Excelente filme e parabéns Jorge Calife por recordar esta história tão interessante e polêmica, mas que poucos políticos gostam de comentar. Mas infelizmente nada mudou de 35 anos para cá. E só torço para que este filme não se torne uma realidade bem catastrófica.

Andréa Saviolo de Souza 9 de fevereiro de 2019, 13:37h - 13:37

Excelente lembrança e eu já tinha esquecido que fazia tanto tempo assim, o filme realmente deixou todos assustados com a possibilidade de uma guerra nuclear acontecer, mas infelizmente com exceção do ex-presidente Ronald Reagan e do seu colega soviético Mikhail Gorbachev, ninguém mais se preocupou com o risco de uma guerra nuclear e continuaram produzindo armamentos cada vez mais sofisticados e potentes. Fazer o que? Só rezando mesmo! Amém.

Alexsander 9 de fevereiro de 2019, 11:54h - 11:54

Caraca…me lembro que esse filme foi passado em partes no Fantástico! Eu e meus colegas ficávamos olhando toda hora pro s nossos reloginhos “Cássio” digital pra ver se a hora tinha travado: é que no filme, quando ocorria um ataque nuclear, os relógios digitais paravam de funcionar e tinha uma lenda urbana de que Angra dos Reis, devido a usina nuclear, aparecia num mapa de alvos nucleares americanos que esse filme mostrava!!! Ótima reminiscência!!!

Macelo Figueiredo 8 de fevereiro de 2019, 18:23h - 18:23

Me lembro bem deste filme. Foi impactante. Parabéns pela relação do texto com o momento atual.

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