O futuro chegou, mas a comida não mudou

by Diário do Vale

wp-coluna-espaco-aberto-jorge-calife

Terça-feira passada, como bem se recordam, comentei aqui, nestas crônicas, sobre a matança de 10 mil cachorros, na cidade de Yulin, na China. Foi durante um festival gastronômico acontecido no mês passado. Do ponto de vista dos chineses comer o melhor amigo do homem é a mesma coisa que comer carne de boi, frango, ou porco. Um leitor vegetariano protestou porque só defendi os cães. Ele acha que todos os outros animais, sacrificados para chegarem as nossas mesas, também sofrem e deviam ser poupados. Como muitos vegetarianos que conheço, meu leitor só come proteína de soja.

O fim do sofrimento animal foi uma daquelas promessas da ficção científica, do século passado, que ainda não se realizou. Quando eu era jovem a gente ria das refeições a bordo da Enterprise, no seriado “Jornada nas Estrelas”. O capitão Kirk e seus colegas, do século XXIII, só comiam uns cubos coloridos, sintetizados pelo processador de alimentos da nave. Um aparelho chamado Food Machine (máquina de comida) que combinava elementos químicos para produzir todo o tipo de proteínas e vitaminas que a tripulação precisava.

O melhor amigo do Kirk, Spock, do evoluído planeta Vulcano, era vegetariano confesso. Kirk e o doutor McCoy aceitavam um bife desde que fosse sintético. Pegar suas armas phaser para matar bicho e comer era algo impensável para esses heróis dos anos 60. A ideia toda tinha a sua lógica. A USS Enterprise era uma nave estelar que levava 400 tripulantes em uma viagem de cinco anos pelo espaço sideral. Se a nave fosse levar comida para essa gente toda se alimentar, durante cinco anos, teria que rebocar um container de alimentos do tamanho de um asteroide.

Missões de longa duração no espaço envolvem algum tipo de síntese de alimentos. É por isso que os astronautas da Nasa andam cultivando alfaces na Estação Espacial Internacional. Outro filme que também previu a era da comida sintética foi o “2001: Uma odisseia no espaço” do Stanley Kubrick. Logo no começo do filme o cientista Heywood Floyd viaja para a Lua. A bordo do ônibus lunar é servida uma refeição que inclui café e sanduíches de frango e presunto. Floyd quer um sanduíche de frango e seu colega comenta que não faz muita diferença. É tudo feito com proteína de soja cultivada nos tanques hidropônicos da base lunar Clavius.

A bordo da nave Discovery, que viaja para Júpiter em uma missão que vai durar dois anos, os astronautas comem umas pastas que parecem cenoura e outros vegetais triturados. Mas não há espaço para hortas dentro da nave, é tudo sintético. O diretor do filme exigia o máximo de realismo, mesmo em um filme de ficção. Ele consultou dezenas de companhias, e a empresa Whirlpool, que fabrica refrigeradores, foi a responsável pela cozinha espacial do filme.

Esse é um caso em que as previsões da ficção não falharam inteiramente. O bife de soja do doutor Floyd já é uma realidade, ainda que seja difícil de encontrar nos supermercados aqui da nossa região. Quando trabalhei em um jornal do Rio de Janeiro passei um fim de semana em um hotel vegetariano situado na serra, lá para os lados de Itaipava. O hotel era mantido pela seita Hare Krishna e lá não entrava carne de espécie alguma. Mas as refeições eram deliciosas. Tínhamos toda a nutrição necessária sem sacrificar bicho algum. Como os heróis espaciais de “2001” e “Jornada nas Estrelas”.

Infelizmente a maioria dos seres humanos não pensa assim. E bichos de todos os tipos continuam a sofrer e morrer para fornecer carne para nossas mesas. Isso faz com que imensas áreas do nosso planeta sejam transformadas em pasto para criar gado. Destruindo florestas e alterando o clima da Terra. É uma questão de conscientização que ainda vai levar tempo. A longo prazo a humanidade vai ter que escolher entre a carne ou a sobrevivência. E como nos filmes, os pioneiros deste mundo novo vão ser os astronautas.

 

 Futuro: A comida sintética de ‘2001’ e ‘Star Trek’


Futuro: A comida sintética de ‘2001’ e ‘Star Trek’

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

You may also like

2 comments

Al Fatah 5 de julho de 2016, 12:40h - 12:40

Matar para comer é a lei da natureza, nada errado aí. Somos crias dela, animais vertebrados, mamíferos placentários, primatas, única espécie remanescente do gênero Homo… Alimento sintético é coisa de ficção científica, o que temos hoje mais próximo disso envolve várias controvérsias nutricionais e de saúde…

O homem é onívoro, assim como o rato e o porco. Somos predominantemente vegetarianos, mas não exclusivamente. Não ruminamos, não temos estômago especializado e dividido em câmaras (diferente de outros primatas), não temos ceco intestinal. O gosto por carne não é aprendido, é instintivo. Uma pessoa perdida numa mata, com fome, sempre procurará se saciar com proteína animal… Os esquimós são uma das populações mais saudáveis do mundo, mesmo tendo dieta restrita ao carnivorismo, já que nas tundras onde vivem praticamente não há formações herbáceas para além de musgos e líquens…

Assim como a diferença entre veneno e elixir está na dose, o pecado humano não é o que come, mas sim como e quanto come. A gula. A pressão sobre o planeta decorre de nossa expansão desenfreada. Onde há mais gente, há menos espaço, seja para o gado, seja para cultivos se toda espécie. É a teoria malthusiana se fazendo valer. O planeta precisa é de menos gente, afinal. Sete bilhões é um número deveras assustador. Incrível imaginar como a Terra comporta tanta gente assim…

Sôninha 6 de julho de 2016, 07:39h - 07:39

AL Fatah professor, finalmente parece esta de volta, agora voltarei a ler seus comentários.

Comments are closed.

diário do vale

Rua Simão da Cunha Gago, n° 145
Edifício Maximum – Salas 713 e 714
Aterrado – Volta Redonda – RJ

 (24) 3212-1812 – Atendimento

(24) 99926-5051 – Jornalismo

(24) 99234-8846 – Comercial

(24) 99234-8846 – Assinaturas
.

Image partner – depositphotos

Canal diário do vale

colunas

© 2024 – DIARIO DO VALE. Todos os direitos reservados à Empresa Jornalística Vale do Aço Ltda. –  Jornal fundado em 5 de outubro de 1992 | Site: desde 1996