O futuro está chegando, só falta escolher a roupa que vamos usar

by Diário do Vale

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Sábado passado eu resolvi fazer uma faxina na minha biblioteca. Olhando velhos livros e revistas que os cupins vivem querendo comer. E acabei lendo uma crônica do Sergio Porto, em uma revista de 1965. Porto foi o decano da crônica carioca, sempre bem humorado comentando as manias e as modas do Rio de Janeiro. Que era uma cidade alegre e de bem com a vida naqueles tempos do “yê, yê, yê”. Não tinha tiroteios nos morros nem ciclovias desabando no cenário de cartão postal.

Mas voltando ao Sergio Porto, ele escrevia, naquela crônica, sobre as calças justas que as mocinhas do Rio começavam a usar. Eram uns jeans super apertados e o cronista se perguntava como é que elas conseguiram enfiar tanto dentro de tão pouco. Outra novidade naquela época eram os biquínis que começavam a ficar minúsculos. Tinha uma música que falava do biquíni de bolinha amarelinha, tão pequenininho, que “na palma da mão se escondia”.

De lá para cá não mudou muita coisa. Os biquínis ainda cabem na palma da mão. E a calça jeans ainda é o traje favorito da moçada. Mas surgiram outras coisas. Outro dia eu estava no ônibus pensando no que ia escrever na crônica da semana, quando, de repente, entrou uma moça usando uma legging preta bem justa. Lembrei na hora do Sergio Porto e sua crônica. O que ele teria escrito se estivesse vivo hoje em dia e visse as moças do século XXI usando a legging para ir ao trabalho, à escola ou ao shopping? Acho que ele acharia futurista.

Do passado

A legging não é uma invenção moderna. Ela já existia no tempo do Sergio Porto, mas era usada em ambientes fechados. Em academias de dança ou de balé. Na rua nem pensar. Lembro de uma comédia do Jerry Lewis em que a polícia prendia um grupo de beatniks e uma delas usava uma legging preta. Acho que foi a única coisa que sobrou daquele esquecido movimento rebelde dos anos 60. Aposto como as meninas de hoje em dia não têm a menor ideia do que era uma beatnik, mas estão usando a roupa delas.

Sergio Porto foi um cronista dos tempos da Bossa Nova e da Corrida Espacial. Quando o cinema e a televisão viviam tentando imaginar o futuro, o mítico século XXI. A maioria apostava que íamos usar roupas metalizadas como a família Robinson, do seriado “Perdidos no Espaço”. Erraram feio. Mas houve alguns poucos acertos. No filme “Planeta Proibido”, de 1956, a mocinha Altaira, interpretada pela falecida Anne Francis, exibiu as primeiras minissaias da história do cinema e do mundo.

Qualquer enciclopédia que o leitor consultar vai dizer que a minissaia foi inventada nos anos 60 pela estilista inglesa Mary Quant. Não foi não, ela é invenção da americana Helen Rose que criou as roupas para a heroína de Planeta Proibido. No filme Altaira usa roupas decoradas com diamantes e safiras que são manufaturadas pelo seu criado robô, Robby. Como ela morava sozinha com o pai no planeta proibido do título não tinha que se preocupar com a possibilidade de um assaltante deixá-la nua durante um de seus passeios.

Bons tempos aqueles, em que as mocinhas da ficção usavam minissaias ou roupas metalizadas. Hoje em dia nem dá para imaginar o que elas vão usar no próximo século. No século passado, quando escrevi meu romance futurista “Padrões de Contato” imaginei, meio de brincadeira, minha heroína indo à praia com uma simples pintura corporal. A editora gostou da ideia e botou a minha mocinha pelada, com o corpo pintado, na capa do livro. E não é que dois anos depois a Rede Globo colocou o mesmo visual na sua Globeleza.

A astrônoma americana Jill Tarter acha que os viajantes espaciais do futuro vão se vestir com hologramas.

O que é uma ideia tão “futurista” quanto os trajes metalizados do século passado.

 

Esquecidas: Das beatniks só restaram as calças legging

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JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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