Era um fim de tarde de 1985 com uns amigos do Colégio Verbo Divino. Eles disseram “vamos ao Gordo”. Eu perguntei “que Gordo?”. Não sabia do que se tratava, se era uma oficina, uma lanchonete… Não fazia ideia. Chegando lá descobri, era uma escola de música: a “Academia de Música Instrumental”, do saudoso Luiz Paulo Pereira de Paiva.
A maioria desses amigos já estavam estudando violão lá e a academia estava lotada naquele dia. Alguma coisa ali me prendeu por um instante e perguntei a um dos professores quanto era a aula. Quem me atendeu foi o Aurélio. Ele pegou um papel e me explicou como funcionava, quanto custava, quantos dias, etc. Trouxe o papel pra casa e comuniquei minha mãe que gostaria de fazer aula lá.
Estava com 10 anos e já tinha tido por volta dos sete, um contato com o violão, quando nossa prima Ivana Pineschi ensinou duas músicas a mim e a meu irmão, Eduardo “Pança”. Eram “Felicidade”, do Caetano Veloso e uma canção folclórica chamada “Sereno”. Tinha ficado por aquilo mesmo. O lance é que com 10 anos (estamos falando de um ano divisor de águas) tinha acabado de acontecer o primeiro Rock in Rio e minha geração ao ver aquilo pela TV foi imediatamente impactada.
Comecei a fazer aula de violão com o mesmo Aurélio. Ele era baixista de algumas bandas de rock, as primeiras que ouvi falar ali naquele ambiente: Vemaguete 67 e Saldo Negativo. Meu irmão também entrou na aula. Aurélio além de ótimo professor era um gentleman, super educado e atencioso. Em todos os horários que se estudasse você esbarrava com um punhado de outras pessoas também aprendendo.
As bandas de rock estavam indo pro apogeu com seus primeiros discos: Legião Urbana, RPM, Os Paralamas do Sucesso, Titãs e o álbum que mais se via debaixo do braço pela rua, o inigualável “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, do Ultraje a Rigor. Apenas uma música daquele disco não tocou no rádio, as demais eram uma seleção de hits.
Meu irmão logo de cara aprendeu duas músicas: “Tédio”, do Biquini Cavadão e “Ainda é Cedo”, da Legião. Eu demorei a conseguir tocar uma música inteira. O local tinha um baita atrativo, um estúdio de gravação na parte debaixo, capitaneado pelo Serginho Swing (ou Etiópia), certamente dos caras mais engraçados que conheci na vida, cujo bordão até hoje minha galera faz uso: “Não entra nessa não, bicho!”.
Ali embaixo era outro tipo de movimentação, não aprendizes, mas gente que ia para gravar. A mais emblemática que me lembro se deu na música “Pintou Sujeira”. Antes de ser gravada eu a ouvi por intermédio de quem veio a cantar a cantão, Júlio “Boca” (Julinho Marassi), do Boca Atentada. Ele veio mostrar a música pra minha prima no violão e disse que a gravariam. A autoria era do Peça O’Hara.
Gravaram-na Paulo Candonga, na bateria, Gordo no baixo e guitarra, e o Julinho na voz. Naquela gravação o Gordo pegou a guitarra de um aluno que estava por ali. Este morava perto de minha casa e acabou se tornando um dos grandes amigos que tenho até hoje, Aloísio Camargo, que acabou se tornando rapidamente um dos tantos professores da Academia de Música Instrumental.
Esta era uma característica da escola do Gordo, muitos professores pra poder dar conta de imensa demanda de alunos. O violão naqueles tempos era não somente um objeto de desejo, como que saber tocá-lo poderia te abrir portas, sociabilizar no colégio, etc. Além do Gordo e Aurélio (que era seu primo e sócio naquela academia), naquele período em que entrei também davam aulas lá: Luciano “Minotauro” e Alexandre “Macarrão”, ambos eram guitarristas do já citado conjunto “Boca Atentada”.
Esses apelidos pareciam ser necessários pra se estudar ou dar aulas ali, pois ninguém escapava de ter um, criado pelo próprio Gordo. O nome artístico que carrego até hoje foi inventado por ele. E outros tantos que não cabem aqui nessa coluna. A história é longa e ela continua na próxima semana.
1 comment
Muito legal figura, e um pouco da minha história também. Não me tornei músico mas lembro com muita saudade daquela época. Parabéns pela matéria.
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