O jatinho esquecido e enferrujando na praça

by Diário do Vale

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Todo dia, quando vou para o trabalho, passo por aquela praça que fica ali no bairro Niterói, na curva da Radial Oeste, em Volta Redonda. Talvez pela proximidade com o Aeroclube, a praça ostenta um antigo avião a jato Embraer Xavante, do tipo que foi usado pela Força Aérea Brasileira entre as décadas de 1970 e 2000. Não é uma réplica, trata-se de um avião real que já teve dias melhores. Atualmente encontra-se em um estado lamentável de abandono, com a pintura descascando e marcas de oxidação em vários pontos da fuselagem e das asas.

Em anos passados a prefeitura costumava colocar um Papai Noel inflável montado em cima da cauda, no mês de dezembro. Este ano o estado de abandono do avião chegou a tal ponto que nem o Papai Noel apareceu para montar nele. A única coisa que ainda mantém aquele avião em pé é o fato de ser feito de alumínio, material que resiste mais a corrosão. Deviam doá-lo para algum museu aeronáutico já que o poder público se revela incapaz de cuidar dele.

No Rio de Janeiro teve um caso semelhante, de um Gloster Meteor, que foi abandonado e depredado em uma praça. Até que perceberam o valor histórico da aeronave – o primeiro jato usado no Brasil – e o levaram para um repouso merecido no Museu Aeroespacial, que fica na zona oeste da cidade. No museu o Gloster recebeu nova pintura e uma nova capota, já que a antiga tinha sido destruída.

O Xavante aqui de Niterói também tem sua importância. Ele foi o primeiro jato fabricado no Brasil pela Embraer. Trata-se de um projeto italiano, o Aermacchi MB-326, desenvolvido na década de 1950 para servir como treinador para os pilotos de caças supersônicos. Na época as principais forças aéreas da Europa estavam montando esquadrões com os novos caças supersônicos como o Mirage francês e o Lightning britânico. Havia um mercado para um jato subsônico que pudesse servir de aeronave de transição entre os aviões a hélice e os supersônicos.

Abandonado: Xavante precisa de uma pintura e manutenção (Foto: Felipe de Souza)

Abandonado: Xavante precisa de uma pintura e manutenção (Foto: Felipe de Souza)

A empresa italiana também percebeu que um avião desse tipo poderia ser adaptado para ataque ao solo. No final dos anos cinquenta existiam conflitos envolvendo guerrilhas pipocando em várias partes do mundo. Um jato de treinamento como o MB-326 podia receber armamento para atacar bases de guerrilheiros nas florestas da África e da América Latina. Os americanos tinham um projeto semelhante, o Cesna T-37, que também virou avião de ataque ao solo.

O primeiro MB-326 voou em 1957 e foi um sucesso. Além de adotado pela Força Aérea Italiana o jatinho foi exportado para países como Argentina, África do Sul, Emirados Árabes, Zaire e Austrália. Fez mais sucesso do que o seu rival americano, T-37. No Brasil ele atendeu a uma necessidade da FAB, que precisava de um jato subsônico bem manobrável para treinamento e ataque ao solo. O governo militar queria um jato onde seus pilotos poderiam se preparar para voar nos Mirage III adquiridos na França no início da década de 1970. Para os italianos o avião já era obsoleto em 1970 e eles deram a permissão para que a nascente Embraer o produzisse no Brasil.

Como era costume o MB-326 feito no Brasil recebeu um nome bem nacional, o da tribo de índios Xavantes. Quase duzentos Xavantes foram fabricados pela Embraer, sendo 166 destinados a FAB e os demais exportados para Togo e o Paraguai. Depois da Guerra das Malvinas onze Xavantes foram doados para substituir as perdas dos argentinos naquela guerra.

E os Xavantes prestaram bons serviços na Escola de Aviação da FAB, até que os últimos foram desativados pela FAB em 2013. Sendo substituídos pelo turbo hélice Super Tucano. Um deles, coitado, veio apodrecer em Volta Redonda.

 

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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31 comments

Andante Mosso 16 de janeiro de 2018, 00:01h - 00:01

Falando em avião aposentado, alguém tem notícia da Madga Cotrofe?

Indignado 15 de janeiro de 2018, 20:01h - 20:01

Esse Xavante deveria ser retirado e substituído por um Paulistinha (Teco-Teco). Seria mais relevante para um bairro chamado Aéro Clube.

Indignado 15 de janeiro de 2018, 19:41h - 19:41

Radial Leste, Calife.

hil 14 de janeiro de 2018, 21:13h - 21:13

Sugiro ao ilustre autor da reportagem que relate a história e a atual situação calamitosa do Moto Clube de Volta Redonda , que também já teve seus dias de glória.

Smilodon Tacinus - O Emir Cicutiano 15 de janeiro de 2018, 21:44h - 21:44

Nunca mais de dei conta de que um dia existiu o glorioso Moto Clube da 207!… Lendo sobre ele, me lembrei do programa de rádio do Ivan Martins, que ouvia quando era moleque sempre que alguém sintonizava, lá pelos idos dos 80/90’s. O Ivan costumava anunciar shows no Moto, que na época era ativo… Inclusive, zapeada agora fiquei sabendo de sua morte, que ocorreu no começo do ano passado. Não me lembro de terem noticiado aqui!!…

Foi uma página importante (e faltante) nos registros de uma cidade que só evoca aquilo que é relacionado à siderúrgica…

Edison Siqueira 14 de janeiro de 2018, 16:39h - 16:39

O nosso atual prefeito, infelizmente, não tem a percepção de como este desmazelo com o Xavante exposto em praça do Aero Clube depõe contra sua administração. Não é tão oneroso, para a prefeitura, a manutenção do exemplar da aeronave que, localizada onde antes tínhamos nosso aeródromo, nos faz relembrar o prazer da prática da aviação desportiva e mesmo executiva, com os pousos e decolagens que ali aconteciam.

lei 14 de janeiro de 2018, 14:41h - 14:41

lá na praça monte castelo também tem um avião xavante apodreçendo, junto com outras peças militares.

Admirador AERONÁUTICO 13 de janeiro de 2018, 22:12h - 22:12

Parabéns pela iniciativa de relatar e denunciar o que muitos já vem percebendo a muito tempo. A manutenção dos nossos monumentos públicos não é levada a sério. Nem a coleta seletiva. Nem a manutenção e conservação nas nossas ruas. O que é levado a sério mesmo são as cobranças dos impostos e da manutenção dos carteis de combustível, de transporte público, etc. Tenho especial apreço pelos aviões que estão expostos pois me lembro quando criança, quando passavam sobre nossa cidade. O Xavante tinha um barulho e uma cilueta característicos. Então parabéns pela matéria. Um grande abraço!

Maycon Rodrigues 13 de janeiro de 2018, 20:34h - 20:34

Caro Sagu e Michel. Fico feliz quando fico sabendo de pessoas que reconhecem o valor histórico do extinto Aero Clube de Volta Redonda. Possuo uma comunidade no Facebook onde podem encontrar parte das relíquias da aviação em Volta Redonda. AERO CLUBE DE VOLTA REDONDA.

Cidadão VR 13 de janeiro de 2018, 20:32h - 20:32

Será que só eu percebi “radial oeste”?

chup chup 13 de janeiro de 2018, 20:14h - 20:14

Nossa vcs tem certeza que aquilo é um avião, pensei ser um latão de sardinha de Itu. Que coisa mais horrorosa!

Zero 13 de janeiro de 2018, 12:01h - 12:01

Tinham é que retirar aquela sucata do logradouro público e fazer a limpeza e manutenção do local. A cidade está toda esburacada e a cada tapa buraco feito espalha piche pela rua e os buracos reaparecem, vide próximo ao batalhão. Prefeito só quer saber de tratar a causa e não a consequência, ou seja prevenção. Gestor de Caos.

Pagador de impostos 13 de janeiro de 2018, 09:13h - 09:13

Muito boa matéria. Parabéns Calife. Agora, como você mesmo ressaltou, esperar que o poder público cuide melhor desses e de outros “monumentos” históricos é pedir muito mesmo. Nunca sobra dinheiro para essas e outras coisas. Mas, quem sabe, com essa cutucada que você deu, alguém responsável se mobiliza e busca fazer a manutenção necessária ? Vamos aguardar. Talvez nossas “incelências” lá na câmara de vereadores também se mobilizem e ajudem a buscar recursos para essa empreitada.

Zé Meleca 13 de janeiro de 2018, 00:00h - 00:00

Pior que o estado de abandono das aeronaves mencionadas, é o estado de abandono da praça dos ex combatentes do Mte Castelo abandono total. Me chama atenção que de uma maneira geral varias praças,logradouros e equipamentos públicos estão abandonados , sucateados pelo poder público municipal. A cidade está precisando que alguém a olhe com mais carinho.

Sagu 12 de janeiro de 2018, 22:59h - 22:59

A torre de controle do Aero Clube também esta abandonada e é uma contrução histórica. Por acaso a torre é tombada pelo patrimônio histórico/cultural ? Por acaso o Samuca tem planos para ajudar na restauração e abrir ao público ? Quando a CSN explusou o aeroporto os as duas aeronaves Paulistinhas que tinham um tremendo valor histórico se perderam. O hangar transpirava história e nostalgia e a CSN por pura ganância colocou tudo no chão e nenhuma autoridade teve a sensibilidade de lutar pela preservação da área como um grande museu da aviação.

VAI VENDO 12 de janeiro de 2018, 20:09h - 20:09

Uma parte importante da Cultura que a SMC não se importa. Talvez ela não entende do assunto.

VAI VENDO aí o que dá votar em candidatos que NÃO CONHECEM a Administração Pública e NÃO ENTENDEM de Gestão Pública.

Prof. Girafales de Pinheiral 13 de janeiro de 2018, 11:15h - 11:15

“VAI VENDO” (ele pronuncia “Vai Veno”), a.k.a. “Eta povinho”, aparentemente aqueles dias ao sol distribuindo santinhos e balançando bandeira de candidato derrotado, alimentado-se com um Guaravita quente e pão com ovo, incineraram seus parcos neurônios.
Deve ser duro ter que de dar adeus à boquinha.
Essa criatura é o pior cabo eleitoral do Universo.

Smilodon Tacinus - O Emir Cicutiano 13 de janeiro de 2018, 17:24h - 17:24

Até se prove o contrário, Samuca é oriundo da área administrativa, mas o fato de entender de administração não significa que será bom gestor… O povo não tem bola de cristal!

Ademais, vivemos numa época de contingenciamento. Vai lá o Samuca lustrar o avião e deixar as praças um brinco que logo aparece o triplo dos comentários feitos aqui, defenestrando o cara por negligenciar as pessoas! Cobertor curto, meu caro!…

Um Cão Andaluz 14 de janeiro de 2018, 11:12h - 11:12

O folclórico pau-mandado “Vai Vendo”, a.k.a. “Eta Povinho”, aparentemente teve seus parcos neurônios incinerados durante as horas sob o sol a distribuir santinhos e agitar bandeiras de candidato derrotado, alimentado-se com pão com ovo e guaravita quente.
Mas o pior cabo eleitoral do planeta não desiste e luta até o fim pela boquinha perdida.

Anderson 12 de janeiro de 2018, 19:25h - 19:25

Muito boa matéria. O seu conhecimento sobre aviação e astronáutica é enciclopédico. Uma pena o que está acontecendo com esta aeronave histórica.
Ainda bem que a Embraer foi privatizada, e, apenas por este motivo, conseguiu escapar de ser dilapidada pelos governos do PT e seus aliados. Caso continuasse estatal, juntamente com o Petrolão e o Eletrolão teríamos o Embraerzão, que seria o escândalo de corrupção em que o presidente da companhia indicado pelo PT teria desviado recursos para campanhas políticas e para os bolsos de políticos do partido e aliados.

VAI VENDO 12 de janeiro de 2018, 20:06h - 20:06

Sem esquecer que cada eleitor do PT e do PMDB recebeu R$ 50,00 desviado da petrobrás MAIS pão e mortadela.

Prof. Girafales de Pinheiral 13 de janeiro de 2018, 11:09h - 11:09

Dona Florindaaaaa! Copie e cole este humilde presente, ops, digo, aceite este humilde Google, ops, digo, aceite este humilde presente!!

Anderson 13 de janeiro de 2018, 16:11h - 16:11

Chiquinha vermelha do PT. Conta tudo pro seu pai Lula!

Prof. Girafales, fã da Dona Flô 14 de janeiro de 2018, 12:11h - 12:11

Dona Florinda, seu filho Kiko aprendeu a usar o wifi da vila e agora é o maior bolsomínion de Pinheiral. Parabéns!

Anderson 14 de janeiro de 2018, 17:09h - 17:09

Chiquinha do PT, você parece uma PTminion vermelha. Depois que o Lula for em cana vai votar em quem?

Chiquinha Madruga 14 de janeiro de 2018, 22:12h - 22:12

Dona Florindaaaaa, estou em dúvida: talvez no Aécio, como a senhora e a Vovó Mafalda votaram nas últimas eleições, talvez no Bolsonaro ou no Huck. Já começou a campanha aí na sua vila em Pinheiral?

Anderson 15 de janeiro de 2018, 09:21h - 09:21

Votar no Aécio? No Huck? Comparando com a opção de votar no Lula, já é um grande avanço. Tome um ENGOV e vote!

Prof. Girafales, fã da Dona Flô 15 de janeiro de 2018, 16:07h - 16:07

Dona Florindaaaaa, já enviou muitas cartinhas pro Huck na esperança de ganhar uma reforma na sua casinha? Imagine a inveja dos seus vizinhos de vila aí em Pinheiral.

Michel Monteiro da Silva 12 de janeiro de 2018, 18:27h - 18:27

Opa, boa matéria, deu até vontade de comprar um, mas olha só, acho que vc poderia contar como e porque o avião chegou até Volta Redonda, poderia ter citado que tem exemplar idêntico na Praça do bairro 60, em frente ao Momorial dos Ex Combatentes, que o Aero Clube de Volta Redonda, era exatamente para ser o local de treinamento dos pilotos na mesma época citada, e que por questões de estratégia acabou sendo trocado o local, que Volta Redonda era Área Militar, Segurança Nacional, que a Torre que se encontra dentro do clube Aero, é uma relíquia da nossa história, talvez tão importante quanto a chaminé no bairro Jardim Paraíba. Mas lhe dou esta dica de história… Professor Ronaldo Gori e Waldir Bede, e o historiador Alquindar Costa possuem bastante informação sobre.

Gust 12 de janeiro de 2018, 14:06h - 14:06

Bela matéria, sempre q passo ali tb reparo no imponente Xavante embicando ao ar.
Parabens pela matéria cheia de informações e da história do nosso e dos Xavantes fabricados no Brasil.
Espero q a prefeitura tenha mais cuidado com ele e que não precise ir para dentro de um museu por falta de manutenção.

Tubinho 12 de janeiro de 2018, 13:30h - 13:30

Já havia observado o estado de abandono dessa aeronave histórica. Aliás a escolha por esse local de instalação foi muito infeliz já que o terreno ao fundo é um matagal e ela é camuflada tornando-a despercebida e não valoriza a peça.
Apesar do Xavante não fazer parte da história da aviação de Volta Redonda há muito tempo falta um resgate da história do nosso Aero Clube que também tinha aeronaves históricas e um excelente centro de formação de pilotos com alojamento que recebia alunos de todo Brasil e era um dos programas na cidade levar a família para ver os pousos, decolagens e ver os aviões de perto no hangar. Recomendo uma matéria sobre esse resgate histórico entrevistando os antigos pilotos e as fotos desse importante clube de aviação.

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