O mais antigo super-herói

by Diário do Vale

As histórias sobre super-heróis, que lotam os cinemas do século XXI, têm uma origem muito antiga. Mas, não perdem sua popularidade. No ano passado o canal CW produziu um crossover entre suas séries baseadas nos heróis da DC Comics. Uma espécie de resposta televisiva para o sucesso dos Vingadores da Marvel no cinema. Personagens dos seriados Flash, Supergirl, Arqueiro, Batwoman e Lendas do Amanhã se reuniram para lutar contra um super-vilão, o Antimonitor. Que destrói universos inteiros com ondas de antimatéria.
Os super-heróis representam o sonho humano de perfeição, triunfo e onipotência. Seus ancestrais diretos são os heróis da mitologia grega, como Perseu e Ulisses, que também triunfavam sobre inimigos poderosos superando obstáculos incríveis. Mas, antes mesmo de os heróis da mitologia grega, houve Gilgamesh, o primeiro super-herói da história humana. Ele é o personagem de um poema épico escrito por volta do ano 1600 antes de Cristo por um escriba chamado Sin-lequi-unninni que viveu na Babilônia. Só que este poema é baseado em narrativas ainda mais antigas, que surgiram na antiga cidade-estado de Uruk, aí por volta do ano 2500 antes de Cristo. Uruk foi uma das primeiras cidades da humanidade, o que nos revela uma relação curiosa. Assim que os humanos criaram a civilização eles passaram a produzir e consumir histórias sobre heróis fabulosos e suas façanhas sobre-humanas.
Gilgamesh não era um personagem totalmente fictício. Ele era inspirado em um rei do mesmo nome, que teria governado a Mesopotâmia aí por volta do ano 2800 a.C. Seu governo parece ter sido tão fantástico que ele adquiriu o status de um semideus aos olhos do povo da Suméria. E depois de sua morte os poetas e escribas o transformaram em um herói de narrativas fantásticas.
A influência do épico Gilgamesh não pode ser minimizada. Alguns estudiosos acham que ele serviu de inspiração para a Ilíada e a Odisseia de Homero. Mas, há outra influência que sobrevive até os dias de hoje, quatro mil anos depois. Resumindo, Gilgamesh é um herói que enfrenta inimigos sobrenaturais, viaja para o submundo e se relaciona com as deusas da Babilônia. Depois de vencer todos os obstáculos ele percebe que vai ser derrotado por um inimigo implacável: A velhice e a morte. E parte para sua última aventura, entrar em contato com a deusa Ishtar para obter a imortalidade dos deuses.
O problema é que Ishtar, que devia alguns favores ao herói, tinha sumido sem deixar endereço ou meio de contato. Havia apenas uma dica. Gilgamesh fica sabendo que um velho e sábio eremita, chamado Utnapishtim (esses nomes sumérios são incríveis) tivera um contato com a deusa há muito tempo atrás e poderia revelar um meio de contatá-la. Assim, Gilgamesh sobe uma montanha e encontra o velho sábio que conta sua história.
Bem antes de Gilgamesh nascer, Utnapishtim fora procurado por Ishtar que o encarregou de uma difícil missão. A deusa explicou que uma grande inundação ia destruir o mundo. Para se salvar Utnapishtim devia construir uma grande embarcação de madeira, capaz de alojar toda a sua família e duplas dos principais animais da Terra. O sábio seguiu as instruções e conseguiu salvar a espécie humana do terrível dilúvio.
Se essa parte da história soa familiar ao leitor é porque os Hebreus viveram algum tempo como escravos na Babilônia. Onde ouviram a história da grande inundação e a incluíram em seu livro sagrado, a Bíblia. Mas, tiveram o bom senso de mudar o nome do personagem para Noé, que é muito mais fácil de memorizar e pronunciar do que Utnapishtim.
No final do século XX o épico babilônico recuperou sua popularidade e foi tema de um episódio de Jornada nas Estrelas: A nova geração e de um desenho animado japonês. Nada mal para um super-herói com quatro mil anos de idade.

 

Herói: Um antigo relevo representando Gilgamesh

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1 comment

Emir Cicutiano 6 de fevereiro de 2020, 21:20h - 21:20

Excelente!…

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