Para surpresa da maioria dos fãs do cinema o grande vencedor do Oscar 2015 foi “Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância” do mexicano Alejandro González Iñárritu. Com Michael Keaton no papel principal, o filme conta a história de um ator que ficou famoso interpretando um super-herói em três filmes de muito sucesso. Ele tenta montar uma peça na Broadway para se livrar do seu passado e enfrenta uma série de dificuldades. O problema do ator marcado por um papel é real e levou ao suicídio um dos primeiros interpretes do Super-homem. George Reeves deu um tiro na cabeça quando ficou desempregado após o fim do seriado em 1959. Mas o modelo para o Birdman do Iñárritu pode ter sido o Christopher Reeve, que interpretou o Superman em quatro filmes na década de 1980.
Reeve ficou paraplégico depois de cair de um cavalo o que é diferente da história do Birdman. Talvez um personagem real, mais parecido com o do filme é o Adam West, o simpático ator que ficou conhecido pelo papel do Batman, na série dos anos 60. West continua vivo e bem de saúde, mas depois do Batman sua carreira mergulhou em um caso melancólico. Atualmente ele ganha a vida fazendo dublagens em desenhos animados. Isso não o transformou em um personagem amargurado ou melancólico. Ele se diverte com as lembranças do seriado que o tornou famoso e gravou uma trilha de comentários para a edição em DVD.
West estreou no cinema fazendo um papel pequeno no clássico da ficção científica “Robinson Crusoé em Marte”, que comentei aqui nesse espaço, terça-feira passada. Tudo indicava que ele seria um galã importante no cinema americano, mas o papel do Batman acabou com seus planos de virar um astro. Mesmo assim a filmografia de Adam West tem mais de 50 títulos, a maioria em pequenos papéis como coadjuvante, e ele até chegou a dirigir um episódio de um seriado de TV. Mas não tentou ser diretor de teatro como o personagem do filme.
Sean Connery
O medo de ser ator de um papel só marcou a carreira do Sean Connery, o primeiro e mais famoso James Bond do cinema. O ator escocês fazia papéis de vilão em filmes de pequeno orçamento até ser chamado para interpretar o superespião do escritor Ian Fleming. O sucesso estrondoso deixou Connery apavorado e depois do quinto filme ele declarou que nunca mais interpretaria o 007. Tentou uma série de papéis dramáticos, mas seus filmes sérios renderam muito pouco. E Connery aceitou ser James Bond de novo em 1983, na produção independente “Nunca Mais Outra Vez”.
Embora seja lembrado até hoje pelo 007, Connery teve mais sorte do que Adam West ou George Reeves. Ele conseguiu se tornar um ator respeitado e estrelou dezenas de filmes de ação como “A Caçada ao Outubro Vermelho”, “A Rocha” e atualmente vive em um estado de semi-aposentadoria. Mas quem consultar sua biografia na internet movie database vai ler no resumo: “Sean Connery – ator – 007 contra o satânico doutor No”. Assim como Adam West jamais se livrou da sombra do Batman, Connery será o “eterno James Bond”. É o preço da fama e um artista nesta situação deve aproveitar o lado bom de ser conhecido por um papel marcante.
Helen Slater
Foi o caso da loira Helen Slater. Seu primeiro papel no cinema foi como Super-moça, a prima do Super-homem em um filme que fracassou na bilheteria em 1985. Depois da super-heroína Slater apareceu em dezenas de filmes, de comédias a dramas e filmes de aventura. Mas nunca conseguiu ser estrela. Durante anos ela renegou sua personagem mais famosa, dizendo que o filme era ruim e que ela não queria lembrar do personagem. Até que um dia, trinta anos depois, ela foi a uma Comic Con e descobriu que era adorada por centenas de fãs de todas as idades. Slater então se reconciliou com seu passado e até aceitou o papel de Lara, a mãe biológica do Superman no seriado “Smallville”. O que foi muito bom para ela.
4 comments
Calife… em ótima forma como sempre, trazendo assuntos interessantes. Esperando ansiosamente uma coluna sobre Leo Nimoy.
Parabéns!!
Teve algumas atrizes de novela que sofreram insultos e hostilidades da plebe após encarnarem personagens malévolas de grande repercussão midiática. Elas só não ficam estigmatizadas porque fazem muitas novelas interpretando papéis diferentes, mas os marcantes são sempre mais lembrados… No caso de heróis, as pessoas sempre associam o ator ao personagem. Uma criança da década de 80 que via Stallone na tv logo dizia: – Olha lá, o Rambo!…
Que coincidência, hoje faleceu outro ator mais conhecido por seu personagem que pleo proprio nome, Leonard Nimoy, o eterno Sr. Spock. Nimoy apesar de ter participado de outros filmes e seriados ficou marcado sem duvida pelo seu desempenho como Spock da serie da tv e longas para o cinema de Jornada Nas Estrelas. Ele parece ter “brigado” um certo tempo contra seu papel mais famoso por temer ficar limitado a ele, mas acabou aceitando que Spock era maior que ele e parte indissociável de si. Soube aproveitar a fama que o personagem lhe trouxe, e até aceitava se parodiar em dublagens de Simpsons, Futurama e Big Bang Theory. Evitou a melancolia ao reconhecer o impacto que seu desempenho marcante provocou e provoca em milhões de pessoas. Talvez milhares de carreiras na ciencia e tecnologia tenham sido originadas com a influência de Spock e demais tripulante da Enterprise e do seu criador Gene Roddenberry, só por isto já deveríamos ser gratos, além de horas preciosas horas de divertimento.
Teve uma vida prolífica e longeva, espero que tenha vivido em paz com seus personagens… Algumas vezes o trabalho toma conta da vida das pessoas, passando a fazer parte dela em tempo integral, e quando isso implica em encarnar um personagem famoso mundialmente, o “alterego” pode sufocar seu intérprete, que se sente diminuído com ele e inútil sem…
Que descanse em paz em algum lugar do universo.
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