Os caçadores da treta perdida

by Paulo Moreira

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As redes sociais estão cheias de grupos dedicados a determinadas ideias ou causas. São grupos de cristãos católicos, cristãos protestantes, espíritas kardecistas, espíritas de matriz africana, wiccans, bruxos tradicionais, ateus, agnósticos… isso pra ficar nas religiões, porque tem também grupos a favor da causa LGBT, contra a causa LGBT, a favor da Lava Jato e do juiz Sérgio Moro, contra a Lava Jato e o juiz Sérgio Moro… enfim, uma abundância incrível de oportunidades para os caçadores da treta perdida.

Esses intrépidos internautas, munidos de um celular, tablet ou computador, passam horas e horas em busca de grupos nas redes sociais que defendem determinados pontos de vista… com o objetivo de contrariá-los.

É mais ou menos como entrar com a camisa do Flamengo no meio da Torcida Jovem do Vasco, ou chegar na arquibancada da Gaviões da Fiel com a camisa do Palmeiras. Só que no espaço virtual não vão te bater fisicamente.

Por quê?

Quando a maior parte das pessoas adere a um grupo nas redes sociais, está em busca de aceitação. Quer ver gente que pensa como elas. O fato de estar conversando com gente que pensa como você vai reforçar suas ideias, mostrar que você não está sozinho e te dará “combustível” para seguir a sua vida no meio de tanta gente que tem opiniões diferentes.

Aí, o sujeito está lá, feliz da vida no seu grupo de gente que defende que a Terra é plana, e não redonda, quando vem um chato e mostra uma foto do planeta tirada do espaço. Claro que os integrantes do grupo apresentam argumentos para refutar a foto, e a treta se instala.

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Os ‘missionários dos teclados’

Muitos dos que postam o ponto de vista discordante afirmam que fazem isso imbuídos dos mais nobres objetivos, como “levar a luz àquelas pobres almas que vivem na escuridão”. O resultado, no entanto, dificilmente é uma mudança de ideia. Isso porque quem está num grupo que defende determinada posição em uma rede social está em busca exatamente de gente que pensa igual. Não se trata da busca da discussão.

Essas pessoas se sentem em uma missão. Na maioria das vezes, vão falhar, mas na cabeça delas o importante é apresentar o que consideram  a “verdade”.

É o cristão que vê no ato de entrar em uma página de ateus um cumprimento do “ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Evangelho de Marcos cap.16 vers15), ou o esquerdista que vai à página de fãs do Bolsonaro para divulgar o “trabalhadores do mundo, uni-vos”, do Manifesto Comunista de Marx e Engels.

A ‘treta pela treta’

Mas tem gente que vai ao debate pelo puro prazer de discutir. Trocar, nem tanto ideias, mas argumentos, ironias e, no fim das contas, xingamentos.

São os que cultivam o prazer de discordar dos outros, com o único propósito de “ver o circo pegar fogo”. O sujeito sabe que não vai convencer ninguém naquele grupo de pessoas com ideias diametralmente opostas às que ele está defendendo, mas não está nem aí pra isso. É mais ou menos como o valentão de escola, que quer é uma briga.

E quem não entra em treta?

Do mesmo jeito que existem os caçadores de treta, tem gente que passa a vida nas redes sociais sem discutir com ninguém.

São os sujeitos que estão apenas em busca de diversão e não discutem nada que possa ser remotamente parecido com um assunto sério.

Há também quem prefira “só observar”, avaliar as diferentes opiniões e guardar as conclusões para si mesmo.

E tem também o sujeito que simplesmente não está nem aí para a opinião de ninguém. Ele até diz o que pensa, mas acha que ninguém que pense diferente merece sua preciosa atenção.

E nós com isso?

Quer o leitor seja ou não um “treteiro juramentado”, existem algumas dicas úteis:

1 – Se você gosta de tretar, prepare-se para as consequências, como gente que vai te bloquear e gente que vai responder argumentos com xingamentos. Isso é parte integrante do sagrado esporte da treta.

2 – Se você não gosta de tretar, não pense que simplesmente não responder vai mantê-lo livre de treteiros. Há quem considere a ausência de resposta uma ofensa maior do que a resposta malcriada.

3 – Tem muita gente que se sente mal em desfazer uma amizade no Facebook ou bloquear alguém no WhatsApp. Ou que sente ofendida quando fazem isso com ela. Vai uma dica: use sem pena as opções “bloquear” ou “desfazer amizade”, se as pessoas estiverem incomodando. A maior parte dos amigos de redes sociais são gente que tem pouca ou nenhuma relevância em nossa vida diária no mundo real.

4 – Amizades de verdade não se desfazem por discordância de ideias. Alguns dos amigos mais próximos deste colunista pensam de forma totalmente diferente nos mais diversos assuntos. Mas são pessoas que têm inteligência suficiente para saberem que, como dizia Nelson Rodrigues “toda unanimidade é burra”.

 

PAULO MOREIRA | [email protected]

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6 comments

Maniac 13 de maio de 2017, 06:25h - 06:25

Então… gostei muito! As pessoas que se acham donas da verdade e vivem sob princípios maniqueístas precisam evoluir!

Bárbara 12 de maio de 2017, 15:57h - 15:57

Muito bom !

BM-VR 11 de maio de 2017, 16:04h - 16:04

e o Parmeira não tem mundial… isso é o q mais vejo nas tretas.

Luciano Fernandes 9 de maio de 2017, 18:04h - 18:04

Texto inteligente !

Tito Aguiar 8 de maio de 2017, 16:33h - 16:33

Trata-se de uma opinião exclusiva do autor, ou compartilhada com o Diário do Vale?

Augusto 7 de maio de 2017, 11:34h - 11:34

De acordo total com o autor. O debate e a treta são úteis à democracia. O problema são as interferencias da mídia manipuladora, que vizam interesses próprios.

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