Há cinquenta anos, no dia 23 de março de 1965, a agência espacial americana Nasa iniciava seu projeto Gemini. Um programa de voos com uma espaçonave capaz de levar dois homens para missões de encontro em órbita da Terra. As missões Gemini terminaram em novembro de 1966 e colocaram os americanos na frente da corrida espacial. Foi com as Gemini que a Nasa testou as tecnologias que seriam usadas nas viagens lunares do projeto Apollo. As duplas de astronautas bateram todos os recordes de permanência no espaço e desenvolveram tecnologias que acabaram fazendo parte do nosso dia a dia.
Uma delas foi a asa Rogallo. A Nasa queria que as Gemini pousassem em terra firme, penduradas de uma asa delta inflável. Várias experiências foram feitas na base aérea de Edwards na Califórnia, mas a tecnologia acabou não sendo aprovada. Mas serviu de base para um novo esporte, o voo de asa delta, que tornou-se popular no mundo inteiro. Pouca gente se lembra que a finalidade daquelas coloridas asas de tecido, que vemos no céu do Rio de Janeiro, era fazer pousar cápsulas espaciais.
Quase tragédia
O projeto Gemini levou a União Soviética a adotar medidas extremas para acompanhar seus rivais. Quando a Nasa anunciou que os astronautas da Gemini sairiam da nave para passear no espaço os russos tentaram acompanha-los com uma solução improvisada e perigosa. Eles instalaram uma câmara de ar de borracha em uma nave Vostok modificada, a Voskhod. E tiraram o assento ejetável para permitir que dois homens voassem em uma nave projetada para um tripulante. No dia 18 de março de 1965 a Voskhod 2 decolou com os cosmonautas Alexei Leonov e Pavel Belyaev. Depois que a nave entrou em órbita Leonov saiu pela câmara de ar e deu um passeio de 12 minutos no espaço. E quase morreu. A roupa espacial inflou como um balão e Leonov ficou entalado na câmara de ar, incapaz de reentrar na nave. Teve que despressurizar o traje arriscando-se a uma embolia. Na reentrada na atmosfera o sistema de navegação falhou e a nave desceu em uma floresta da Sibéria. Onde os russos passaram a noite enregelados, cercados por lobos.
Gemini 4
Diante dessa quase tragédia as missões Gemini foram tranquilas. No dia 3 de junho de 1965, o americano Ed White abriu a porta da Gemini 4 e fez o primeiro passeio no espaço de um astronauta da Nasa. Três meses depois do pioneiro Leonov, mas com uma tecnologia muito superior. A roupa espacial de White funcionou perfeitamente e a experiência foi muito agradável para ele. Ao contrário do russo, suando e sufocado em seu traje inflado, White riu e brincou o tempo todo. E não teve o menor problema em voltar para sua nave. Ao contrário da improvisada Voskhod, a Gemini tinha uma cabine que podia ser totalmente despressurizada e portas amplas para permitir a saída no espaço.
Gemini 8
Nas missões seguintes foi aperfeiçoada a técnica do encontro de duas naves no espaço. Que seria vital para o projeto Apollo. O único acidente foi na missão Gemini 8, quando a nave comandada por Neil Armstrong começou a rodopiar sem controle no espaço, depois de se unir a um satélite Agena. Armstrong retomou o controle usando os retrofoguetes auxiliares e fez um pouso de emergência no oceano Índico. Sua perícia e sangue frio garantiram sua escolha para comandante da Apollo 11 e um lugar na história como primeiro homem a andar na Lua.
Missão a Marte
A Gemini 11 bateu um recorde de altitude, subindo a 1300 quilômetros de altura, e testou uma proposta para produzir gravidade artificial fazendo a nave girar.
Hoje, cinquenta anos depois, a Nasa, junto com seus antigos rivais russos, planeja um voo ao planeta Marte. Enquanto a Gemini serviu de treinamento para as missões Apollo, a Estação Espacial Internacional é o campo de provas para a missão a Marte. Os passeios no espaço e encontros de naves de suprimento com a estação são uma rotina. Mas tudo começou com as pequenas e apertadas Geminis.
Jorge Luiz Calife/ [email protected]