Os problemas das mulheres no espaço

by Diário do Vale

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Desde a década de 1980 que mulheres astronautas vêm realizando missões cada vez mais longas no espaço. E para isso elas precisam tomar medicamentos para interromper o período menstrual. O assunto nunca foi abordado abertamente pela Nasa e outras agências espaciais. Mas foi objeto de um estudo feito pelas médicas Varsha Jain, do Centro de Ciências Fisiológicas Aeroespaciais de Londres, e Virginia Wotring do Centro de Medicina Espacial do Baylor College do Texas. O trabalho apresenta recomendações visando a futura participação feminina em missões a Marte e foi apresentado na revista Microgravity e no site do Space.com.

A bordo de uma nave espacial a higiene é um problema. Existe pouca água para banhos e a falta de gravidade complica a troca dos produtos de higiene feminina. Além disso, a água que os astronautas bebem, a bordo da Estação Espacial Internacional, é extraída da urina que eles produzem. E o sistema de reciclagem da ISS não foi construído para lidar com a presença de sangue menstrual na mistura. Por esse motivo todas as astronautas que vão para o espaço usam pílulas anticoncepcionais para interromper seus períodos férteis.

Nas primeiras missões do ônibus espacial as mulheres usavam a pílula para regular o ciclo menstrual, de modo que ele não ocorresse nas duas semanas que elas passavam no espaço. Isso foi na década de 1980, quando as mulheres da Nasa começaram a voar nas naves Colúmbia, Discovery e Atlantis.

Com a entrada em operação das estações espaciais, como a Mir russa, e a sua sucessora, a ISS, o problema ficou mais complicado. As missões, que antes duravam 14 dias, foram prolongadas para seis meses. E as astronautas passaram a usar medicamentos para suprimir inteiramente o ciclo menstrual. Elas fazem isso tomando medicações a base de hormônios como estrogênio e progesterona. O que cria outros problemas. Os hormônios aumentam a descalcificação dos ossos, que já é uma das consequências da vida em microgravidade.

Geralmente a medicação é fornecida na forma de pílulas. Na Estação Espacial Internacional isso não é problema. Naves cargueiras como a Dragon e a Cygnus trazem a medicação enviada da Terra em entregas mensais. Mas em uma viagem a Marte isso não será possível.

As autoras do estudo calcularam que uma missão de três anos, de ida e volta a Marte, exigiria que uma astronauta levasse 1.100 pílulas, mais suas embalagens. O espaço dentro das naves não permite isso. A solução será usar dispositivos implantados sob a pele. Ou os famosos DIUs, dispositivos intrauterinos para interromper a ovulação. É preciso levar isso em mente quando se fala em colonizar o planeta Marte. Uma colônia precisa de mulheres férteis, que possam ter filhos e aumentar a população. Se as mulheres não podem ovular, sob pena de contaminar o suprimento de água, a colônia nunca vai passar de uns poucos moradores.

No caso da descalcificação dos ossos das mulheres uma solução seria retomar os antigos projetos de naves com gravidade artificial. Basta fazer a nave rodar a algumas rotações por minuto que a força centrífuga da rotação crie uma sensação de gravidade. A nave do filme “Perdido em Marte” tem uma roda centrífuga, a meia nau, onde ficam os alojamentos da tripulação.

Isso resolve uma parte do problema, mas resta a questão da fertilidade. Para isso será necessário criar outros meios de fornecer água para as tripulações que não envolva a reciclagem da urina. Uma solução seria usar água das reservas que existem no subsolo de Marte ou da Lua. Mas é preciso saber se esta água é potável. Outra solução seria aperfeiçoar o sistema de reaproveitamento da água de modo que ele possa eliminar todo o tipo de contaminação. A primeira missão a Marte está marcada para 2030. Ainda há tempo de encontrar soluções.

Bagagem: Mil e cem pílulas anticoncepcionais

Bagagem: Mil e cem pílulas anticoncepcionais

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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1 comment

charles 21 de maio de 2016, 00:07h - 00:07

ótimas matérias como sempre.

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