Quando as previsões viram realidade

by Diário do Vale

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A Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, foi um acontecimento inesquecível na minha carreira de jornalista. Na época eu morava na capital carioca e escrevia sobre ciência para o JB. Fui credenciado para cobrir a reunião, que aconteceu lá no RioCentro, perto de Jacarepaguá. O carro do jornal me levava até lá pela manhã e eu passava o dia conversando com climatologistas e ambientalistas.

Naquela época, na última década do século XX, coisas como aquecimento global e mudança climática eram apenas teorias, com previsões que lembravam filmes de ficção científica. Na paisagem ensolarada do Rio de Janeiro elas pareciam bem distantes da realidade. Mas ao contrário das profecias dos místicos e povos antigos elas acabaram fazendo parte do nosso dia a dia, duas décadas depois.

Em 1992 os cientistas diziam que o aquecimento do planeta ia aumentar a violência das tempestades. Trazendo para as regiões temperadas fenômenos restritos aos mares quentes e as planícies norte-americanas. Como os furacões e os tornados. No mês passado uma tempestade com características de um tornado matou uma pessoa e arrasou uma cidade no Rio Grande do Sul. Outros tornados já foram vistos e fotografados em Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e até em São Paulo. Era um fenômeno desconhecido no Brasil e que agora está se tornando frequente.

Outra previsão da Rio Eco 92 era de que o aquecimento do planeta aumentaria a incidência de doenças tropicais, antes restritas a regiões da África e da Amazônia. Em 1992 os moradores do Rio de Janeiro nunca tinham ouvido falar em zika, chikungunya e dengue. E a febre amarela era uma preocupação exclusiva de quem viajava para regiões de selva tropical, lá para o norte e o oeste do país. Agora essas doenças estranhas viraram parte do nosso vocabulário. E uma campanha de vacinação em massa contra a febre amarela está acontecendo este mês em todo o estado do Rio de Janeiro.

Apesar de todos esses indícios o aquecimento global e a mudança climática ainda são vistos como uma simples teoria. O governo do presidente Donald Trump, por exemplo, acha que é tudo uma fantasia criada pelos chineses para provocar o colapso econômico dos Estados Unidos. Não é o primeiro presidente americano a pensar assim. George W.Bush também condenava a ideia da mudança climática. E proibia os cientistas do governo de tocarem ou pesquisarem o assunto.

Bush mudou de opinião depois que o super furacão Katrina devastou Nova Orleans em 2004. Furacões são um flagelo comum no sul dos Estados Unidos, e em toda a região do Golfo do México. Mas a violência do Katrina ultrapassou todas as previsões. Ele destruiu os diques naturais que protegiam a cidade das ondas provocando uma inundação geral. Além disso, as ondas gigantes criadas pelo Katrina destruíram oleodutos e instalações da indústria do petróleo por toda a região do Golfo, provocando um prejuízo de bilhões de dólares.

Depois do Katrina vários outros super furacões, como o Mitch, foram registrados. Mas o dano maior tem sido em países pobres, como a Indonésia e o Haiti, que ficam na rota dos furacões e ciclones. Essa era outra previsão dos climatologistas da Rio92. Eles diziam que o impacto da mudança climática ia afetar muito mais aos pobres do que aos ricos.

E aqui estamos nós, em 2017 vivendo em um mundo que ficou ainda mais perigoso. Caçamos mosquitos nos quintais de nossas casas, tomamos remédios contra doenças tropicais de que nem tínhamos ouvido falar. Como a chikungunya que pode provocar danos neurológicos permanentes. Ou a zika que produziu uma legião de bebês com microcefalia.

E apesar de tudo isso a humanidade continua a queimar combustíveis fósseis e a destruir florestas para criar gado e vender madeira. Navegando as cegas para um futuro catastrófico.

 

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JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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1 comment

Anderson 4 de abril de 2017, 07:03h - 07:03

A mudança nos hábitos só ocorrerá quando ficar evidente inviabilidade econômica da matriz energética existente, ou seja, quando os prejuízos causados pelas catástrofes naturais forem maiores que os lucros e este preço for passado a todos, empresas e consumidores.

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