Tirando uma folga em Saturno

by Diário do Vale

 

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Longe: Saturno e sua maior lua, Titã, em foto da sonda Cassino (Foto: Divulgação)

Longe: Saturno e sua maior lua, Titã, em foto da sonda Cassino (Foto: Divulgação)

Hoje esta coluna fará uma pausa nos comentários sobre os horrores do nosso mundo e vai focalizar um lugar mais bonito e pacífico do que o planeta Terra. Os leitores que me desculpem, mas nem os jornalistas conseguem aguentar a realidade atual o tempo todo. E o noticiário da semana que passou esteve cheio de notícias terríveis. Mortes no trânsito, o Brasil já é o campeão mundial de assassinatos, guerra no Oriente Médio, refugiados sufocados dentro de caminhões, dólar subindo em disparada, repórteres de TV assassinados ao vivo. Até a Dilma, a redentora, veio a público dizer que 2016 vai ser um ano ruim. E quando ela diz que vai ser ruim podem apostar que vai ser catastrófico.
Diante disso o Espaço Aberto de hoje vai embora para o planeta Saturno. O senhor dos anéis, a joia do sistema solar. Saturno fica a mais de um bilhão de quilômetros da Terra e para chegar lá é preciso viajar durante anos. A sonda espacial Cassini levou sete anos para alcançar Saturno e suas luas, seguindo uma trajetória tortuosa que incluiu visitas a Vênus e Júpiter. No filme “Interestelar” a nave Endurance, movida por propulsores de plasma, faz a viagem em dois anos. Usando um motor de fusão nuclear daria para chegar em Saturno com um mês ou dois de voo. Não importa, podemos voar para lá nas asas da imaginação.
Olhe para o céu hoje a noite, aí por volta das 20h. Se não estiver nublado você vai ver Saturno brilhando como uma estrela amarelada, bem acima de sua cabeça. Ele está na ponta da constelação do Escorpião, que domina o céu estrelado nas noites frias de inverno. A olho nu é só o que dá para ver. Uma simples estrela, com uma cor um pouco menos azulada.
Os seres humanos conhecem Saturno desde a idade antiga. Foram os romanos que lhe deram esse nome. As maravilhas do planeta gigante só começaram a ser descobertas com a invenção do telescópio. Galileu Galileu apontou seu pequeno telescópio para Saturno, em 1610, e achou que estava vendo um planeta com duas alças do lado. Para ver os anéis de Saturno é preciso uma luneta com uns 15mm de abertura e o telescópio de Galileu era bem menor. Outros cientistas do século XVII, como Christian Huygens, apontaram lunetas maiores para aquela estrela no céu e viram um mundo cercado por luas e enormes anéis. Em 1675 os telescópios tinham melhorado tanto que Domenico Cassini descobriu que os anéis tinham uma fenda circular. Que foi batizada com seu nome, Divisão de Cassini.

Observado

Nos últimos 35 anos este mundo distante, belo e majestoso, foi observado de perto por uma série de sondas espaciais. Começando com as Voyager dos anos de 1980 e culminando com a missão Cassini, que homenageia o homem que adorava olhar para Saturno. Pobre Domenico, se ele pudesse ver Saturno como vemos hoje, pelas lentes da nave que leva seu nome. Ficaria maravilhado.
Semana passada a Cassini passou bem perto da lua Dione e descobriu que ela é riscada por fendas brilhantes. Perto de Dione a nossa lua parece tão pálida e sem graça. Saturno tem mais de trinta luas e a maior delas, Titã, tem uma atmosfera alaranjada com chuvas e lagos de metano. Outra lua fantástica é Encelado, que tem um oceano coberto por uma calota de gelo de onde o vapor de água esguicha em plumas que criam filamentos como enormes teias de aranha no céu.
Só de largura Saturno tem nove vezes o diâmetro da Terra. Isso sem contar os anéis que iriam daqui até a Lua se orbitassem o nosso planeta. Eles são formados por milhares de blocos de gelo, com tamanhos que vão de um cascalho ao tamanho de uma casa. É como um rio de icebergs, uma chuva de granizo suspensa na eternidade. A atmosfera de Saturno é cheia de nuvens turbulentas, onde sopram ventos com a força de um furacão. Aurora polares erguem véus de luz fluorescente em direção ao céu estrelado. Onde os anéis formam um arco, de um horizonte a outro, como um arco-íris eterno.
E o melhor de tudo é que não existem seres humanos, em um raio de dois bilhões de quilômetros.

 

JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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2 comments

Compartilhador de idéias 3 de setembro de 2015, 11:02h - 11:02

Compartilho da sua revolta e decepção em relação a raça humana que de humana, no mais profundo sentido da palavra, não tem nada. A cada dia entendo mais quando Jesus Cristo nos disse que para herdarmos o reino dos céus, teríamos que ser como crianças. Então meu camarada se isso se confirmar, vai sobrar muito espaço lá. Peço a Deus que eu esteja enganado. Parabéns ao jornalista pela iniciativa de tentar mudar o foco para algo que nos mostre que a vida ainda valha a pena e que as maravilhas ainda são muitas.

GUEVARA 1 de setembro de 2015, 08:01h - 08:01

Pois é! Sorte de Saturno não haver, por lá, seres humanos. Esta é, também, minha modesta opinião.

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