Um dia de cão

Por Diário do Vale

Foto: Reprodução Rede social

A morte de um cachorro ganhou status de medo e chamou a atenção para a crueldade humana, para o lado “animal” de algumas pessoas que, no afã de cumprir ordens, não são capazes de mensurar a gravidade de seus atos e os fazem sem perceber o rastro de violência que deixam pelo caminho.
A morte a pauladas do cachorro Manchinha, cometida por um segurança da rede de supermercados Carrefour, unidade de Osasco, em São Paulo, no último dia 28, teve uma repercussão meteórica, e em questão de horas tornou-se conhecida de todos os brasileiros, provocando protestos em muitas das 570 lojas da rede espalhadas pelo país.
O animal morto na porta do mercado gerou imensa revolta e deixou marcas sem tamanho na imagem da empresa francesa, tornando-se ainda pior por causa da morosidade e da falta de treinamento dos funcionários da companhia para lidar com o problema, porquanto uma simples ação que levasse ao afastamento do animal para um centro de acolhimento – ou a tentativa de doação ou qualquer coisa que não culminasse com a sua morte – certamente seria melhor do que uma ação absurda em que a falta de amor foi patente.
Tudo isso ocorreu devido a uma ordem que partiu de um superior, ordenando que o segurança “limpasse” a loja, que receberia naquele dia a visita de executivos da empresa. Assustado com a repercussão negativa da ação do funcionário, o Carrefour, mesmo atrasado emitiu nota informando que reveria seus procedimentos e que passaria imediatamente a treinar seus funcionários para que situações como essa não mais se repetissem.
Perdidos no mar de protestos que a foto de Manchinha fez circular por jornais, revistas e por todas as redes sociais, o supermercado tomou inicialmente duas medidas, tentando apagar, não a mancha, mas sim o rastro de sangue deixado com o assassinato do animal: realizar feiras de doação de animais em toda a rede e promover todos os anos, sempre no dia 28 de novembro, data em que o animal foi espancado e morto, ações de conscientização da importância da causa animal a todos os seus colaboradores, em conjunto com a sociedade.
Foi necessária uma nova brutalidade contra um animal para que muitos acordassem para o fato dos animais abandonados pelo país afora e se buscassem ações efetivas de atenção a esse grave problema. A Organização Mundial da Saúde estima que no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados, sendo 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães.
Certamente muito do que se faz em prol de animais abandonados, parte de pessoas comuns e muito pouco do governo. São pessoas apaixonadas pela causa que se dedicam quase que ininterruptamente, buscando criar abrigos, quando não o fazem em suas próprias casas. Ainda recolhendo dinheiro para resgatar, vacinar e castrar, além de promover outros tratamentos devido ao abandono, bem como uma incessante peregrinação para alimentar cada um desses animais, pelo menos com o básico.
E o descaso não fica restrito somente a cães e gatos; há, em muitos abrigos espalhados pelo país, cavalos, burros, cabras, entre outros. E casos como este do mercado, além de ser um crime previsto em lei, com pena de detenção e multa, torna-se ainda um problema social e de saúde pública. Muitas pessoas que veem animais vagando sem destino pelas ruas das cidades não percebem que estes animais sentem frio, dor, fome, medo, entre outros problemas que muitas vezes são capazes de levá-los à morte. Este abandono pode trazer sérios riscos para a população, que fica totalmente exposta ao contágio de zoonoses, como leptospirose, leishmaniose, raiva, larva, toxoplasmose, entre outras.
Somados a esses abandonos, temos ainda casos de outros animais que também sofrem a ação perversa do homem. São exemplos as rinhas de galo, os rodeios, as farras do boi, além da retirada de animais silvestres dos seus habitats naturais, buscando transformá-los em simples mercadorias; muitos chegam mortos às feiras livres, uma vez que são confinados em espaços minúsculos, sem ar, sem comida e sem água.
Assim, casos como o que aconteceu no supermercado são comuns no dia a dia das cidades, onde o desamor é imenso. Quem abandona animais não é capaz de enxergar o valor desses seres: são excelentes companhias para crianças, idosos e, principalmente para portadores de necessidades especiais. Quem abandona animais, não os enxerga como corajosos personagens salvando vidas, quando lotados na polícia, bombeiro e outras forças.
Enfim, o valor dos animais mesmo como “simples” companhia caseira é por si só um delicioso presente, pois eles, com seus enormes carinho, amizade, companheirismo e, sobretudo, fidelidade, são capazes de dar provas de amor singulares, mostrando que a irracionalidade deles é questionável, bem diferente da nossa que está quase sempre pronta a trair e desprezar, de forma avassaladora, animais e humanos.

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1 Comentário

Baiano 23 de dezembro de 2018, 09:42h - 09:42

O ser humano é de uma crueldade sem tamanho!

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