Um festival de incompetência

by Diário do Vale

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Outro dia comentei aqui, nesta coluna, que o ano de 2017 tinha tudo para ser pior do que 2016. Uma leitora achou que era pessimismo. Não leitora, é realismo. Não estou sozinho em minha opinião. Um pouco antes de morrer, semana passada, o ministro Teori Zavascki confidenciou a seu filho que 2017 ia ser pior do que 2016 devido as revelações gravíssimas da Operação Lava Jato. Mas antes de comentar o acidente que vitimou o magistrado, quero falar da crise nos presídios.

A rebelião em Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, escancarou para o Brasil e o mundo algo que todos já sabiam. Na terra das palmeiras e dos sabiás são os presidiários que controlam realmente as casas de detenção. Depois de dez dias de rebelião, com as facções criminosas controlando o presídio, as nossas autoridades incompetentes continuavam assistindo a barbárie, sem uma solução. Chamaram a tropa de choque, a guarda nacional, o Exército e nada de controlar a rebelião.

A última ideia brilhante é colocar containers dentro de Alcaçuz para separar os presos rebelados. Porque trancafiá-los de novo dentro das celas é algo que está além da capacidade das nossas autoridades, ou da empresa terceirizada que cuidava do presídio. Agora vamos viajar do norte do país para o sudeste e examinar a trapalhada operação de resgate do Beechcraft King Air, um aviãozinho de uma tonelada e meia onde morreu o ministro Teori Zavascki.

O avião caiu no mar no último dia 19 de janeiro, por volta das duas horas da tarde. Desde o início as tentativas de resgate foram feitas na base do improviso. Havia uma passageira viva, dentro do avião, mas ela morreu antes que encontrassem ferramentas adequadas para abrir a fuselagem do bimotor. É uma coisa difícil de explicar para meus amigos estrangeiros. Paraty não é uma localidade remota no interior do sertão. É uma cidade turística, onde ocorre uma feira literária mundialmente famosa. Era de se esperar que o “aeroporto” de Paraty tivesse pelo menos uma equipe de resgate de plantão, com ferramentas e uma lancha adequada para atuar em caso de acidente. Mas isso não acontece.

Levou um dia inteiro para retirarem os corpos de dentro de avião. Depois começaram as tentativas para içar a aeronave. Que não afundou, estava boiando na superfície, bem perto da costa. Em um local onde a profundidade não passa de três metros. Juntaram gente da Marinha, da Força Aérea Brasileira e do Corpo de Bombeiros, passaram três dias colocando cordas e boias e não conseguiram içar o aviãozinho.

Finalmente, no sábado, dia 21, lembraram de uma lei muito conveniente que permite terceirizar esse tipo de resgate. Como terceirizaram o controle dos presídios lá no norte. A empresa contratada para fazer o que as Forças Armadas não conseguiram fazer, trouxe uma balsa de Niterói. Felizmente o tempo estava bom, o mar não estava agitado, e a balsa só levou vinte horas para ir da baía de Guanabara até a costa perto de Paraty. Na segunda-feira, quatro dias depois do acidente, o pequeno King Air foi içado e colocado em uma carreta.

Enquanto isso as teorias de conspiração proliferavam pela internet. Afinal, não estamos falando de um acidente aéreo comum. Foi um acidente que matou um ministro do STF. Ministro encarregado de uma investigação que envolve até o presidente da república.

Mas parece que o governo adora fomentar os boatos. Na segunda-feira decretaram sigilo absoluto sobre a investigação. Sigilo? Sobre uma investigação que interessa a todo o povo brasileiro? Dá a entender que existe mesmo alguma coisa para ser escondida. Se não, porque o sigilo?

A turma da teoria da conspiração está adorando. E tudo isso aconteceu apenas no primeiro mês de 2017.

Resgate: Cinco dias para içar o bimotor

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JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]

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10 comments

ricardo 30 de janeiro de 2017, 01:15h - 01:15

Esse ano de 2017 promete. Governo Temer ainda vai fazer muito estrago.

VAI VENDO 29 de janeiro de 2017, 21:50h - 21:50

Um ex-oficial da aeronáutica americana, especialista em equipamentos de guerra, afirmou em entrevista que o avião com Eduardo Campos foi derrubado remotamente por conhecedores do computador de bordo exclusivo do avião em que viajava o candidato a presidência. Afirmou que o avião era possível decolar e aterrissar sem até o piloto.

Será que o avião com o ministro estava sujeito a controle por equipamentos de navegação? Será que as informações de navegação estavam confusas? Lembro de uma reportagem afirmando que o piloto desse avião era experiente na rota, e como pode ter feito uma manobra muito próxima do mar?

Cidadão 28 de janeiro de 2017, 18:22h - 18:22

Só que não entende de aviação que acha que houve sabotagem. Se houvesse algum problema no avião já antes de ele decolar, algum alarme soaria ao piloto, não há como sabotar um avião para ele dar problema apenas no pouso.

Al Fatah 28 de janeiro de 2017, 12:37h - 12:37

Prefiro não acreditar que seja sabotagem, mas é algo plenamente possível, afinal só uma das partes diretamente interessadas (a que pode se comprometer) tem acesso ao local do acidente, faz a perícia e dá seu veredicto acerca do incidente, o laudo oficial…

Quanto à privatização, dá certo em alguns setores, mas para outros é temerária… Que tipo de lucro um empresário pretende com um presídio? Eu sinceramente não sei. Só vislumbro a possibilidade de exploração da mão de obra braçal dos detentos…

Astrólogo 29 de janeiro de 2017, 12:25h - 12:25

Se quem é de bem tem que trabalhar para comer, quem está preso também.
Vovó já dizia mente vazia oficina do diabo.
Laboroterapia é utilizada aqui fora para doentes psiquiátricos que nada mais é do que terapia através do trabalho.
O trabalho dignifica, distrai, ocupa o tempo é a mente.
Além do que sairiam de lá com alguma profissão.
Para não continuarem no crime e se enserirem de novo na sociedade.

Al Fatah 30 de janeiro de 2017, 07:12h - 07:12

Astrólogo, vc está vendo a situação sob o ponto de vista de um filantropo, de um cientista político. Eu quero a resposta sob a ótica de um empresário que quer lucrar com a operação do presídio… Veja bem, o trabalho e atividade do detento não seriam um fim, mas sim um meio para que ele faça dinheiro, mas onde e como ele empregaria essa mão de obra remuneradamente sem entrar em conflito com entidades sindicais que representam os trabalhadores “livres”?…

Maniac 28 de janeiro de 2017, 08:23h - 08:23

Muito bem! Faço minhas suas palavras! Foi um show de incompetência e despreparo com uma situação que nada tem de ineditismo… Com relação às suspeitas de atentado, as teorias ( aqui não vai nenhum trocadilho infame ) são pueris, fruto da imaginação do que mais se tem nesse país: desocupados convencidos de seus argumentos frágeis! Se todos aproveitassem seu tempo com opiniões construtivas e atitudes produtivas, certamente haveria aquele socorro mencionado por você e o epílogo dessa história poderia ser outro! Bom sábado a todos, que Deus nos afaste da retórica e histrionismo… a vida é para frente!

VAI VENDO 27 de janeiro de 2017, 20:24h - 20:24

Não conseguiram içar um aviãozinho? E Olhe que o avião com Ulisses Guimarães caiu na mesma área. Eles não aprenderam até hoje? Não existe um plano já consolidado desde aquela época? Lembro, quando garotão, do envolvimento da marinha, exército e aeronáutica na busca do deputado.

Sobre os presídios já era de esperar. Terceirizar empresas públicas no Brasil nunca deu certo. No final os capitalistas a devolvem ineficientes, sucateadas e com mais dívidas. Eu só conheço a EMBRAER que está bem, aindaaaaaaaaa. Outras já privatizadas estão até o teto devendo os impostos e financiamentos cedidos.

Daqui uns dias ou anos será com a CEDAE que vai ser privatizada pelo Pezão, turma do PMDB e autorizada pelos eleitores do PMDB. Os investidores pegarão empréstimos no BNDS para aplicar na empresa, sugarão todo o lucro e depois nos devolvem, sem pagar impostos e tbm os empréstimos.

Eu não sei por que o SAAE-VR está me cheirando privatização. Será que estou errado? Será que a cidade de Volta Redonda permitirá?

Felix 27 de janeiro de 2017, 12:02h - 12:02

Realmente somos muito amadores.

Doidao 27 de janeiro de 2017, 10:19h - 10:19

Tem aeronave particular caindo por aí de gente que incomoda, Eduardo Campos, ministro, Ulisses….
Já sabemos por outros Todos que eles incomodaram gente perigosa, a máfia de um partido…
Máfia existe.
Só que essa é brasileira.

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