No interior da nossa caverna

Por Diário do Vale

Foto: Reprodução

Há poucos dias, em plena Copa do Mundo, o planeta voltou seus olhos um pouco menos para os jogadores em campo e passou a olhar, com amor e uma incondicional torcida, para um outro time de futebol: os Javalis Selvagens, um grupo composto por 12 meninos e um adulto. Eram treze tailandeses, personagens de uma história de medo e apreensão, e que ao final de 18 dias terminou de forma feliz, encerrando-se o drama com o resgate de todos com vida.

A Tailândia, com sua história fantástica, uniu o mundo em oração e fé, quando os olhares acessos e emocionados se voltaram para a caverna Than Luang Nang Non, que significa “caverna da dama reclinada”. O local foi batizado com este nome, pois segundo a lenda, ali nas profundezas da terra, uma linda princesa havia cometido suicídio depois de ter sido proibida de ficar ao lado do homem que amava.

Quem conhece o local, apaixona-se de imediato. Sua entrada é larga e convidativa; de suas paredes, durante o período de chuvas, a umidade toma conta, fazendo escorrer água pelo seu interior. A boca da grande caverna parece a porta para um novo mundo, algo que provoca sensações indescritíveis e que, talvez, somente estes jovens jogadores, seu técnico e a princesa da lenda, poderão responder o que ela verdadeiramente provoca.

Do lado de fora da caverna, estamos nós, apreensivos e esperançosos, procurando respostas para tantas perguntas que nos norteiam, antes mesmo dessa história começar, sem nunca termos sabido da existência desse local distante de nós, há milhares de quilômetros.

Quantos de nós estamos presos em cavernas interiores, atrelados a medos e dúvidas, inúmeras perguntas sem resposta, sempre à espera de um salvador que venha nos resgatar, trazendo no olhar o carinho e um suprimento extra de oxigênio que nos permita voltar à superfície. Um resgate, muitas vezes, complicado, mas não impossível.

Na Tailândia, neste episódio que terminou com sorrisos e lágrimas de alegria, foram mais de mil pessoas envolvidas diretamente no resgate, além de milhares de outras pelo país e milhões pelo mundo afora. Não faltou fé e oxigênio nesta união de forças. Mas, e quando estamos sós, presos na caverna escura com espaços limítrofes e, muitas vezes, hostis dentro de nós? Na mitologia da Tailândia, em suas muitas cavernas, cada uma delas é habitada por um ou mais espíritos, seres que as governam algumas vezes para o bem ou para o mal.

E esta história, mesmo muito distante de nós, pode nos ter ensinado algumas lições, pequenas e grandes, apresentando-nos perguntas que temos a responder sobre o nosso individualismo, o narcisismo, que muitas vezes nos domina; a desenfreada busca por algo que aplaque a nossa voracidade, sobre o qual muitas vezes não sabemos o que é e nem conseguimos divisar, já que o escuro da nossa caverna interior é tão grande e, portanto, humanamente impossível enxergar a um palmo dos olhos.

Nossa caverna não pode ser escura, ela precisa, sim, ser segura e próspera. Por isso, temos que cuidar dela toda e respeitá-la acima de tudo, afinal de contas, é nela que habitamos, é neste espaço onde guardamos sonhos e desejos, amores e saudades, planos e emoções. É neste mesmo lugar que habitam as expectativas de um amanhã sonhado para nós e para quem amamos. É nesta caverna, que devemos manter acessa e aquecida, na qual guardamos os nossos maiores tesouros, não peças em ouro e prata, mas sim, personagens de carne e osso, figuras singulares os quais nos acompanham no dia a dia, na expedição dos nossos deveres.

O mundo é uma grande prisão, e frio e abandonado como está, encarcera-nos cada vez mais dentro de nossas casas e, principalmente, dentro de nós. Dessa forma, mantém-nos refém por tempo indeterminado, muito mais do que aquele dos Javalis Selvagens. Então é ai que entra o oxigênio. É neste momento que temos que estar preparados para o mergulho salvador, para a busca por caminhos tortuosos e escuros. É exatamente neste instante que temos que acreditar no outro, porque se fraquejarmos teremos ao nosso lado um, dois ou inúmeros outros iguais a nós, seres capazes de nos dar a mão, de permitir que usemos o oxigênio do seu tanque por alguns instantes de forma que consigamos respirar melhor, readquirindo forças para chegarmos à tona.

Portanto, fora da escuridão da caverna, sob olhares amigos e emocionados é que iremos encontrar o nosso eu interior, e assim, poderemos, de maneira firme e decisiva, festejar a volta à vida e ao convívio de quem amamos.

 

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