Pais, alunos e escolas passam por adequação com ensino à distância

by Diário do Vale

Volta Redonda – Em tempos de pandemia, isolamento social, quarentena, muitos pais precisaram se adequar a uma nova realidade: as aulas online. Muitas escolas particulares e públicas aderiram ferramentas para que alunos, pais e professores não perdessem o contato e pudessem dar prosseguimento aos estudos. Mas, nem tudo são flores. Como explica a psicopedagoga Fátima Maria Ribeiro Silva Cardoso, que trabalha no Espaço Ideal, realizando atendimento psicopedagógico e reforço escolar. Pais e profissionais estão enfrentando esse momento de pandemia e EaD (ensino à distância) com grande surpresa e muitas dificuldades.

– Ninguém esperava por isso, nenhuma das partes, nem pais, nem profissionais da educação e nem os alunos. Foi tudo muito rápido, novo e incerto com relação à duração do período da quarentena. Demorou um pouco até todos entenderem o que deveria ser feito e como fazer, do mesmo modo que nos outros segmentos da sociedade. É diferente de quando existe planejamento prévio, que é a prática das escolas no início do ano letivo – disse.

De acordo Fátima, não tem sido fácil para essa tríade tão complementar: alunos-escola-pais. Com grandes esforços professores e alunos estão se adaptando à nova realidade e fazendo o que podem para continuar o processo de desenvolvimento escolar. “Professores estão resilientes, usando de muita criatividade para que o trabalho seja de qualidade e equidade para crianças e jovens”.

Provavelmente você já deve ter ouvido, inclusive, algum pai falando sobre a possibilidade de tirar o filho da escola nesse momento, até mesmo para não ter gasto com mensalidade, em caso de escola particular. Mas, segundo a psicopedagoga, são casos isolados, de pais que não têm como acompanhar o ensino à distância de seus filhos, por exemplo, pais profissionais da saúde, que estão nesse momento na linha de frente do combate à Covid-19, também pais que perderam sua fonte de renda e não têm como manter os gastos com a escola.

É claro que tanto pais quanto escolas estão vivenciando um momento de total adequação. Há escolas que conseguiram se organizar mais rapidamente para oferecer o ensino à distância, e já incorporaram essa prática com as rotinas diárias dos alunos, enviando aulas virtuais e atividades diárias, garantindo assim o hábito de estudo. Outras demoraram um pouco mais, devido ao acesso à tecnologia e preparação de professores para a nova forma de ensinar.

– A maioria dos pais tem dificuldade para conciliar seu trabalho em casa com o acompanhamento escolar de seus filhos. Momentos de muitas dificuldades iniciais como tudo que é novo e que exige mudanças de rotinas. A questão fundamental a meu ver é a reorganização da rotina, que de fato não é fácil, porém, não impossível. É preciso que todos os envolvidos entendam que não estamos de férias, que existem perdas significativas como a falta da convivência diária com os amigos da escola, mas muita aprendizagem com as novas formas de ensinar e aprender – disse Fátima, ressaltando que devemos considerar que a grande maioria dos alunos sente falta da rotina escolar, da socialização que a as aulas presenciais proporcionam, por isso a necessidade de encontros virtuais com atividades onde eles possam conversar, rir e receber apoio coletivo.

Acompanhamento

Segundo a psicopedagoga Fátima Maria, a escola deve compreender que muitos pais não podem acompanhar seus filhos em determinado período do dia e que nem sempre tem alguém disponível para fazê-lo, por isso a necessidade de flexibilizar prazos de entregas de atividades por exemplo.

– Então, é hora de muito diálogo, entendimento das partes, respeitando cada caso e os pais também entendendo que a escola está tentando fazer a parte dela da melhor maneira possível, que não é sua escolha estar longe dos alunos, portanto, quanto mais escola e pais estiverem dispostos a dialogar, melhor será para o desenvolvimento dos alunos – falou.

Realidade do dia a dia

Patrícia da Fonseca Ferreira Moreira é mãe da Eduarda da Fonseca Moreira, de 5 anos, aluna da Educação Infantil 3 no colégio Macedo Soares, e conta que tem conseguido se adequar bem à rotina nova com a filha.

– No início tive um pouco de medo por não ter a didática do professor, e achei que a Duda não estava conseguindo acompanhar. Mas, a professora dela me tranquilizou muito, dizendo para eu não me cobrar tanto, pois são dificuldades normais da pré-alfabetização. Tenho acompanhado com ela as aulas todos os dias e tem sido um momento muito satisfatório para nós duas, um momento nosso. Tenho certeza de que no futuro vou contar para ela desses momentos com ótimas lembranças. Tudo que é novidade causa um pouco de medo, mas tem sido uma experiência única – disse Patrícia, que ainda é mãe da Geovana, de 7 meses.

Públicas e particulares

A psicopedagoga Fátima Maria Ribeiro afirmou que pelo que tem acompanhado, a maioria das escolas de Volta Redonda está caminhando bem, elaborando vídeos com aulas expositivas e enviando atividades para os alunos, isso na rede particular. A rede pública iniciou um pouco depois, mas já está enviando material para os alunos via aplicativo da rede, além disso, está promovendo ações sociais como a distribuição de alimentos para as famílias.

– Ressalto que as escolas devem continuar com o trabalho de inclusão escolar, elaborando atividades adaptadas para os alunos matriculados com essa particularidade. É importante considerar que a rede pública de ensino atende crianças que nem sempre têm acesso à internet, e aí é possível perceber mais de perto a desigualdade e as dificuldades enfrentadas por elas. Muitas famílias não têm condições de acompanharem seus filhos pela baixa escolaridade dos pais – disse a psicopedagoga.

Ela sugere que uma opção é a impressão do material pela escola e entrega do mesmo aos alunos/responsáveis, na própria escola, junto com a explicação das atividades através de vídeo aulas, com a elaboração de uma escala para retirada desse material preparado para os alunos para que não haja aglomeração.

“O importante é oferecer aos alunos atividades, e não precisam ser de grande volume, porém, que estimulem a prática da leitura e interpretação de textos, que promovam o raciocínio lógico e desenvolvam habilidades no campo da matemática dedutiva, argumentativa e quantitativa, indispensáveis no dia a dia”.

Sobre a redução da mensalidade de escolas particulares, Fátima mais uma vez diz que só é possível chegar a um entendimento com muito diálogo.

“Os pais precisam da escola e a escola precisa das famílias para existir. É uma troca muito valiosa que permeia o período da escolaridade. Penso que agir com inflexibilidade não é o caminho ideal nesta situação excepcional, num momento de muitas incertezas, o melhor é usar o máximo de bom senso”.

Retorno

Durante a Pandemia o CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão colegiado ligado ao MEC (Ministério da Educação), destaca a importância das atividades à distância para manter o vínculo entre aluno e escola.

“É preciso ter em vista que um longo tempo de inatividade escolar retrocede a aprendizagem dos estudantes e quebra vínculo com a escola, o que pode levar a algumas consequências muito complexas, como a evasão no Ensino Médio, por exemplo. As atividades realizadas nesse momento ajudarão a cumprir o calendário letivo”.

– Na educação infantil é primordial oferecer atividades que proporcionem interação entre as crianças, vivências concretas e atividades lúdicas, por isso, mediante conversas entre autoridades locais, escolas, representantes das famílias, a ideia é voltar aos poucos à rotina escolar, com rodízios dos alunos durante a semana com as devidas precauções e cuidados durante a permanência na escola, seguindo o protocolo e respeitando o que dizem os especialistas – salientou a psicopedagoga.

Dicas na rotina

Para finalizar, Fátima ressaltou que é preciso garantir o hábito de estudos e procurar sempre o diálogo com as crianças. É preciso determinar regras para que isso aconteça estabelecer horário de estudos, que pode ser o da escola ou mudar de acordo com a necessidade da família. O essencial é que o aluno mantenha o hábito de estudar. Os pais devem combinar com as crianças e tentar não flexibilizar as regras para que elas sigam mais seguras com a aprendizagem. Oferecer local tranquilo para o estudo, se não tiver um lugar apropriado, que seja uma mesa, nesse período sem interferências de aparelhos eletrônicos com barulhos.

– Cada família, aos poucos, vai ser organizando da forma possível. Acredito que enxergar pela janela positiva é o melhor caminho, aproveitar a oportunidade de estar mais perto dos filhos e perceber o quanto pode ser agradável, mesmo com todos os obstáculos que surgem. Estar abertos a aprender sempre, alunos, pais e escolas. Os pais precisam por sua vez, confiar, acreditar que as redes de ensino construirão novos calendários onde incluam a realização de um diagnóstico de grau de compreensão individual de cada estudante do que foi ensinado pela forma remota. Avaliar cuidadosamente, com ênfase nas competências de leitura, escrita, raciocínio lógico e matemática. E a partir dai preparar uma recuperação para os alunos que precisarem e replanejar até o fim do ano escolar, onde terá um calendário mais extenso – finalizou.

 

Experiência nova: Patrícia tem adequado sua rotina para ajudar a filha Eduarda, de 5 anos, com as tarefas da escola (Foto: Arquivo pessoal)

 

Professora da rede infantil de ensino conta como tem se adaptado as aulas online

A professora Michelle Bittencourt Menezes, que atualmente trabalha no Colégio Maxx Júnior, no Rio de Janeiro, mas também já trabalhou em escola particular de educação infantil em Volta Redonda, afirmou que é momento de familiares e escolas unirem forças para, juntos, passarem por esse período de mãos dadas pelo bem geral dos alunos.

– Educação não se cancela, apenas foi preciso um novo modo de ensinar. Crianças e estudantes como um todo precisam desse contato com a escola, onde desde sempre se estabeleceu vínculos e rotinas, mais ainda necessárias nesse momento de pandemia. Não tirem seus filhos da escola, existem professores lutando por eles mesmo que à distância – disse Michelle, que tem orientado pais e alunos com vídeos muito divertidos e educativos.

Ela contou que o momento é novo e inesperado. “A escola fechada e os alunos em casa, o que poderíamos fazer? Ou seria o desespero ou seria buscar um novo jeito de fazer a educação acontecer. E nós, como grandes apaixonados pela arte de ensinar, nos tornamos youtubers”, falou, brincando sobre a nova arte de fazer vídeos.

A professora conta que foi preciso aprender a editar vídeos para a nova rotina.

– Pesquisei atividades que os pais pudessem desenvolver com o que tivessem em casa. Foram noites pensando para levar a escola até a casa dos nossos alunos. E hoje posso dizer que nos reinventamos como professores e sabemos que cada aluno, da sua casa, espera por nossas aulas. Eu me sinto feliz sabendo que da minha casa posso dar seguimento ao meu trabalho – disse.

A professora afirmou que sente falta da sala de aula, porém, tem buscado o melhor para diminuir a saudade.

– Isso vai passar e estaremos juntos novamente. Como diz Paulo Freire: “Não se pode falar em educação sem amor”. E é nisso que eu acredito, que os professores, por amor a esse dom de ensinar, seguem, mesmo que com esse novo método de ensino, seu caminho na educação – finalizou.

Educação infantil: Michelle tem se reinventado criando vídeos criativos para os alunos (Foto: Arquivo pessoal)

 

Roberta Caulo

 

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3 comments

Alexander Brito 15 de maio de 2020, 19:14h - 19:14

A EaD em algumas escolas públicas estaduais é um fracasso. Menos de 40%, 30% dos alunos participam das atividades. Não têm acesso a Internet, nem celular ou computador. Não tem apoio dos pais na execução das atividades. Um ano perdido para a grande maioria dos alunos das escolas públicas. A doença desnudou a realidade da educação pública no Brasil. O que se falava nos meios acadêmicos, agora se confirma. A doença tirou a cortina que não nos permitia ver realmente, como a situação financeira da maior parte da população é um fator limitador da aprendizagem. Um país de excluídos, cuja desigualdade tende a aumentar nos próximos anos.

Leitor 16 de maio de 2020, 01:54h - 01:54

Triste realidade!

Mas é preferível perder um ano do que perder a vida!

Pense assim:

Qual a diferença que 1 ano escolar fará no resto da vida de uma criança?

Zita 16 de maio de 2020, 07:57h - 07:57

É uma boa hora para alguns pais aprenderem a acompanhar os seus filhos na atividades escolares !

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