Que o Neymar é um grande jogador de futebol, ninguém nega. Mas os árbitros olham com desconfiança cada vez que ele cai depois de um contato físico com um adversário, porque sabem que ele tende a exagerar a gravidade das faltas.
Já a “Maria do Bairro” entra na história porque é a única novela ao estilo mexicano de que o colunista se lembra. A cada capítulo tem pelo menos umas três choradeiras, outros tantos tapas na cara e mais um monte de acessos de raiva. Tudo em nome da dramaticidade.
É mais ou menos isso que acontece com os militantes ambientalistas e políticos que se envolveram nas reclamações contra o depósito de escória da CSN no Brasilândia.
A pilha é feia, está alta e existe sim a possibilidade de incômodos aos vizinhos por causa de alguma poeira. Mas daí a temer que o material despenque dentro do Rio Paraíba do Sul e comprometa o abastecimento de água do Rio e do Grande Rio vai uma distância gigantesca.
Nesse ponto os atores (pun intended) desse caso agiram como o Neymar. Rolaram no chão e gritaram como se tivessem tido a perna quebrada depois de um simples esbarrão.
A parte “Maria do Bairro” do comportamento deles surge quando fazem declarações dramáticas como a de um deputado estadual que afirmou, em plena audiência pública sobre o depósito de escória, que um problema no local poderia afetar São Paulo. Ele acabou de engrenar a marcha à ré na água do rio.
Quando a gente acha que o exagero atingiu o limite do ridículo, alguém consegue ultrapassá-lo. Foi o que aconteceu com uma deputada estadual que disse que a CSN, com seus 12 mil colaboradores diretos e 20 mil indiretos, “gera pouco emprego”. E ainda acrescentou que são os shoppings que geram empregos. Menos, “incelença”, menos…
Um ativista afirmou, fora da audiência, que haveria cianeto de potássio na escória. Outro absurdo. O KCN é usado em garimpos para separar o ouro da aluvião (o material em que o metal precioso está misturado) e também por agentes secretos de filme para se matarem ao serem capturados. E, sim, alguns dos líderes nazistas teriam usado cápsulas do veneno com o mesmo objetivo. Mas nada disso tem a ver com a coitada da escória.
O mesmo gênio da química menciona o risco do enxofre se misturar com a água e formar ácido. Isso seria possível caso estivéssemos falando de dióxido de enxofre, que é um gás e, portanto não faz parte da escória, ou do trióxido de enxofre, que é obtido industrialmente a partir da combustão do dióxido. O enxofre sólido simplesmente não é solúvel em água.
A propósito
A pilha de escória do Brasilândia se comporta mais como uma pedreira do que como um monte de areia. Há resíduos de cálcio na escória que fazem com que as pelotas do produto se unam. Juntando isso ao peso dessa pilha gigantesca chega-se à conclusão de que, para deslocar esse material, seria necessária uma explosão (por favor não dinamitem a pilha), um terremoto ou uma briga do Godzilla com um dos Transformers bem no meio do depósito.
A propósito, cálcio é aquele negócio que se dá para as crianças crescerem com ossos fortes, não é um veneno. Também faz parte da cal, usada para marcar campos de futebol.
Alguém fala com equilíbrio
Poderíamos ir longe mencionando as infinitas bobagens ditas por gente que quer exagerar o problema, mas é mais construtivo lembrar o que pessoas pensando de forma equilibrada fazem para encontrar as soluções.
A procuradora federal Marcela Harumi propôs que a questão da poeira seja resolvida simplesmente com água. Basta que a pilha de escória seja molhada constantemente. Ficando úmida, ela não emite poeira.
Ela também propôs que a CSN e a Harsco se certifiquem de que saia mais escória do depósito do que entre. Como o produto tem aplicações, poderia ser doado, caso não haja compradores. E a própria CSN já se propôs fazer isso.
2 Comentários
Corretíssimo! É muita gente ignorante e despreparada dando pitaco em assunto que não entende, inventando ou exagerando fatos para defender seu ponto de vista (o “Neymar”). É assim em qualquer lugar, do Facebook à mesa de bar. O pior é que acabam banalizando um assunto importante, fazendo com que perca a credibilidade perante o agente poluidor (o “árbitro do jogo”)…
Estranho mesmo é a raposa tomar conta do galinheiro e reportar a contagem das galinhas. Tipo a CSN, agente poluidor, sendo responsável por informar a qualidade do ar na cidade de VR. O cúmulo do absurdo, e tudo com o respaldo dos órgãos ambientais. É só uma das evidências da falência do Estado do Rio de Janeiro)…
Mais um capítulo da Escória. Concordo com o colunista em termos. Quando a CSN começou a despejar escória naquele local, não haviam residências por lá, e o terreno é da Empresa. Com o crescimento da cidade, nasceram ali os bairros ao redor do depósito a céu aberto. Moro no bairro Conforto em frente a cerca da Usina, e ouço até as reversões das Pontes Rolantes na Laminação.OU SEJA, a cidade foi construída colada na USINA. Nos anos 40 ninguém se preocupava com esse detalhe de Meio ambiente. A CST construída bem depois, anos 70, fica a quilômetros de distância da cidade.
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