Angra dos Reis –
A Usina Nuclear Angra 1 voltará a ser ligada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) no próximo dia 13, anunciou hoje a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras que administra a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, situada em Angra dos Reis.
O retorno de Angra 1 ao SIN estava previsto inicialmente para ocorrer amanhã. Segundo explicou a Eletronuclear, o adiamento se deve à “necessidade da purificação da água do sistema secundário da usina, de forma a atender aos padrões de qualidade estabelecidos em normas internas e internacionais”.
O superintendente da usina, Marcos Melo, disse, em entrevista à imprensa, que no dia 20 de fevereiro passado, tubos danificados em uma das duas caixas do condensador provocaram a falha que levou ao desligamento da unidade do SIN à 0h22 do dia anterior. De acordo com Melo, houve um problema de ruptura em uma tubulação ligada à água do mar que resfria o condensador. Com isso, ocorreu a contaminação por cloreto de sódio da água transformada em vapor nesse equipamento e que é usada para mover o gerador elétrico da usina.
Tubos
Sob a coordenação do superintendente da Usina Nuclear Angra 1, Marcos Melo, técnicos da Eletronuclear identificaram a existência de três tubos danificados em uma das duas caixas do condensador, o que pode ter provocado a falha que levou ao desligamento da unidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) à 0h22 de 19 de fevereiro. O condensador tem quatro caixas com 12 mil tubos cada.
Segundo Melo, houve um problema de ruptura em uma tubulação ligada à água do mar que resfria o condensador. “Como houve essa ruptura, vazou água do mar para o circuito secundário da usina, que não tem nada a ver com o circuito primário”. Não existe nenhum risco de contaminação para os trabalhadores da usina, a população ou o meio ambiente, garantiu. “A usina foi desligada preventivamente pelas nossas equipes de operação e por mim, dentro dos procedimentos, de forma segura e para preservar os equipamentos de uma degradação maior.”
No circuito primário, a água passa dentro do reator e o resfria. Essa água fica confinada o tempo todo, fica ativada. Ela passa calor, isto é, energia térmica, para o circuito secundário, onde é gerado vapor que vai girar a turbina e, em consequência, produzir eletricidade. Melo disse que os circuitos secundário e primário são isentos de contaminação, porque não se comunicam. Ele esclareceu que o vapor tem que ser condensado novamente para ser reutilizado na turbina. A esse processo dá-se o nome de circuito terciário da usina, que envolve a água do mar que passa pelo condensador, cuja função, como o nome diz, “é condensar esse vapor que trabalhou na turbina”.
Melo explicou que essa água, entretanto, é de alta pureza, tratada. Com a ruptura da tubulação, entretanto, ela foi contaminada pela água do mar, que contém cloreto de sódio. “O sódio agride o metal e tende a provocar corrosão”. Como consequência, a Eletronuclear teve que desligar a usina rapidamente, para que que “a contaminação [com a água do mar] não ficasse muito alta e por muito tempo”.
De acordo com o superintendente de Angra 1, é preciso descobrir também qual foi o mecanismo de falha. Não se trata, simplesmente, de tamponar o tubo. Tem que fazer testes com sondas para identificar de forma eficaz por que o tubo falhou. Se não, coloca-se a usina de novo em operação e pode ocorrer outra falha, disse Melo. Angra 1 foi tirada de serviço manualmente. Ele acrescentou que, se a pesquisa identificar que houve um impacto metálico, será preciso descobrir de onde a peça se soltou dentro do condensador, para que se possa fazer o reparo adequado. Por isso, não há estimativa de quando a usina retornará à operação. Os técnicos deram início agora à inspeção da segunda caixa suspeita do condensador para apurar se outros tubos falharam.
O superintendente da Usina Nuclear Angra 1admitiu que há prejuízos em termos de geração de energia elétrica para o país com a paralisação da unidade. “É melhor a gente ficar algum tempo sem gerar do que ter uma degradação maior na usina e a gente ficar um longo tempo sem gerar. Entendemos a situação crítica que passa o país em termos de recursos hídricos, mas nós não tínhamos opção”, avaliou.
Melo disse que Angra 1 foi mantida operando o máximo de tempo possível, mas, quando a contaminação química ocorreu, agredindo os geradores de vapor, a alternativa foi desligar a unidade. “Até que eu descubra a causa-raiz, não posso voltar [a operar a usina]”, indicou. Ele garantiu que os dois geradores de vapor são novos, fabricados pela Areva, e substituíram os antigos equipamentos de Angra 1 em 2009 e envolveram investimentos superiores a R$ 700 milhões.
“[Os geradores] têm capacidade maior e permitiram uma geração mais segura e confiável de Angra 1”. Como ainda estão na garantia de fabricante, Marcos Melo disse que não se pode agredir quimicamente os geradores de vapor, sob pena de perder a garantia. Esse é outro ponto que exige um cuidado adicional maior, explicou.