Exclusivo: Ministro descarta atraso tecnológico na siderurgia

by Diário do Vale

Volta Redonda – O DIÁRIO DO VALE fez uma entrevista exclusiva com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, sobre a situação atual do setor de aço no país. Monteiro deixou claro que a siderurgia brasileira está atualizada tecnologicamente em relação aos demais competidores no mercado mundial e admitiu que a crise é por causa do excesso de oferta do produto – o que inclui importações vindas da China, que forneceu mais da metade do aço estrangeiro á indústria nacional em 2014. O ministro, porém, vê com cautela a possibilidade de adotar novas medidas para restringir a entrada de aço estrangeiro no Brasil, já que isso poderia afetar os preços de produtos como automóveis e eletrodomésticos da linha branca.

DIÁRIO DO VALE – A capacidade instalada de produção de aço no Brasil é de 48,9 milhões de toneladas, mas a produção nos primeiros onze meses do ano passado foi de 30,7 milhões de toneladas, o que projeta uma produção de cerca de 33 milhões de toneladas, indicando que mais de 30% dessa capacidade está ociosa. Assim, a suspensão da operação de equipamentos e até fechamento de usinas não chegam a ser surpreendentes. O MDIC está ciente desses números? O problema brasileiro é simplesmente de demanda ou há aspectos de desvantagem tecnológica envolvidos?

Ministro Armando Monteiro – Sim, o MDIC tem contato permanente com os representantes do setor siderúrgico e vem acompanhando, com atenção, a situação. Em novembro do ano passado, a Presidência da República determinou a criação do Grupo de Trabalho Interministerial para o Setor Siderúrgico (GTIS), composto por Casa Civil, do Ministério da Fazenda e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Em 12 reuniões, realizadas tanto com produtores de aço quanto com consumidores da commodity, o GTIS analisou a situação econômica da siderurgia nacional. O grupo ainda avaliou a viabilidade e os possíveis impactos econômicos da eventual aplicação medidas de estímulo, sugeridas pelo setor, levando em consideração efeitos em toda a cadeia. Ao final, o grupo elaborou um documento, ainda em análise, com sugestões de medidas alternativas de apoio e fortalecimento da indústria.
O grupo não identificou desvantagens tecnológicas na produção nacional. Uma das questões verificadas foi o excesso de capacidade instalada, o que causa ociosidade. Esse problema do setor siderúrgico também é verificado mundo inteiro.

DV – Segundo o Instituto Aço Brasil, o país importou, entre janeiro e novembro do ano passado, quase três milhões de toneladas de aço, no valor quase US$ 3 bilhões. A maior parte dessas importações viria da China, que estaria fazendo dumping no Brasil, assim como fez com os EUA. O governo brasileiro pensa em usar as sobretaxas para proteger a siderurgia brasileira?

AM – A siderurgia é um setor de grande relevância para a economia brasileira. Em virtude disso, nas últimas décadas, diversas medidas de apoio vêm sendo adotadas pelo governo, como, por exemplo, a aplicação de 20 direitos antidumping sobre nove produtos siderúrgicos.
Nesta nova situação, ainda não existe qualquer decisão tomada sobre as medidas em relação ao setor siderúrgico, já que o relatório do grupo de trabalho ainda está em discussão. Qualquer medida tem que ser muito estudada, pois o aço é um insumo básico para vários setores da indústria, e qualquer alteração no custo causa impacto em várias cadeias.
O papel da China no mercado realmente é muito relevante, já que é o maior produtor de aço do mundo, e responde por quase a metade da produção global. Em 2014, produziu 822 milhões de toneladas de aço bruto. O Brasil é o nono maior produtor mundial. Em 2014, as importações brasileiras de aço foram de 3,98 milhões de toneladas, volume 7,4% maior em relação a 2013. A participação do aço chinês nas importações brasileiras passou de 1% em 2000 para 52% em 2014.
Embora reconheça que a queda dos preços dos produtos siderúrgicos no mercado mundial e a desvalorização de outras moedas também afeta a competitividade do setor, é preciso observar que a desvalorização cambial sofrida pela moeda brasileira em 2015 pode representar um aumento de competitividade do produto nacional frente ao importado e também das exportações brasileiras.

DV – Dentro desse cenário, a CSN iniciou na última sexta-feira um processo de demissões, que atingiu 700 trabalhadores e foi paralisado. A empresa aponta como razões para a medida as dificuldades do mercado siderúrgico. Houve algum tipo de consulta ou pedido da CSN ou de entidades representativas do setor siderúrgico ao MDIC, falando sobre as dificuldades do setor e/ou propondo medidas? Se houve sugestão de medidas, quais teriam sido elas?

AM – O MDIC tem interlocução constante com empresas, representantes de entidades setoriais e federações de indústria. Já está estabelecido um amplo diálogo com todos os setores envolvidos na crise do setor siderúrgico. O Instituto Aço Brasil esteve presente nas reuniões do grupo de trabalho instituído pelo governo.
Temos tido um diálogo constante também com as autoridades fluminenses, capitaneadas pelo governador Pezão, que tem acompanhado a situação e buscado construir soluções para o setor, já que sabemos ser grande o impacto econômico para a economia da região e para o emprego dos cidadãos fluminenses. Cumpre destacar também o papel do deputado Deley, que tem sido um interlocutor que faz gestões constantes no Ministério, manifestando sua apreensão quanto à situação da CSN.
Como já foi dito, o grupo de trabalho do governo recolheu todas as sugestões e ponderações dos setores impactados de alguma forma pela crise do setor siderúrgico e elaborou uma lista de recomendações – ainda em análise – com o objetivo de melhoria do ambiente de negócios, fortalecimento das empresas e consequentemente a manutenção dos empregos.

Armando Monteiro: ‘Nesta nova situação, ainda não existe qualquer decisão tomada sobre as medidas em relação ao setor siderúrgico’ (Foto: Divulgação)

Armando Monteiro: ‘Nesta nova situação, ainda não existe qualquer decisão tomada sobre as medidas em relação ao setor siderúrgico’ (Foto: Divulgação)

Entenda a crise na siderurgia brasileira

A recente demissão de cerca de 700 empregados da CSN é apenas parte de um cenário que afeta todo o setor de siderurgia mundial. Em resumo, há excesso de oferta do produto, e não apenas no Brasil. Com isso, grandes produtores, principalmente a China, que tem uma capacidade instalada cerca de 15 vezes maior do que a brasileira, estão sendo agressivos nas exportações.

O resultado é que grandes consumidores do metal, como os Estados Unidos, estão adotando medidas protecionistas, que incluem a cobrança de sobretaxas sobre as exportações de diversos países. O governo americano, inclusive, aplicou recentemente mais uma sobre taxa sobre produtos da CSN e Usiminas.

Com o mercado interno brasileiro desaquecido por causa da recessão, essas empresas, que estavam buscando nas exportações uma forma de manter seu nível de atividade, passaram a enfrentar mais um problema.

Isso causou o fechamento de um alto-forno da Usiminas em Cubatão e o recente anúncio da siderúrgica mineira de que fechará mais um equipamento de sua usina no Estado de São Paulo, deixando três de seus cinco altos-fornos fora de operação: dois em Cubatão e um em Ipatinga.

Em Volta Redonda, as dificuldades das siderúrgicas geraram um processo de dispensas que só foi interrompido depois de uma mobilização promovida pelo Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, que interrompeu a entrada de trabalhadores na Usina Presidente Vargas na última quarta-feira (13) e conseguiu um compromisso da empresa de não fazer mais demissões.

No entanto, a empresa ainda estuda a possibilidade de paralisar equipamentos, como o Alto-Forno 2 e uma de suas linhas de sinterização, o que poderia gerar mais desemprego.

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10 comments

Luque 25 de janeiro de 2016, 11:04h - 11:04

Só faltou uma pergunda:
DV – O senhor ministro já pisou dentro de uma Siderúrguca?

Resposta: nunca. A CSN está sucateada!!!

André Luis 19 de janeiro de 2016, 09:20h - 09:20

Esse Governo do PT, é assim mesmo, pestigia a compra de aço dos Chineses, enquanto a CSN DEMITE VÁRIOS TRABALHADORES.

Cantinflas 17 de janeiro de 2016, 11:28h - 11:28

Então leia-se tudo ao contrário ! Qualquer afirmativa vindo deste des governo PT incompetente é o contrário, recheada de mentiras.

Al Fatah 16 de janeiro de 2016, 21:23h - 21:23

E outras empresas como CSA e CST, das quais não se ouve ou lê notícias sobre demissões em massa, que milagre elas estariam operando para sobreviver no mercado?…

Amiguinho 16 de janeiro de 2016, 23:13h - 23:13

CSA fechou um grande contrato para fornecimento de aço, e isso está garantindo o emprego do pessoal que lá trabalha, a sorte que isso aconteceu bem antes de todos esses escândalos de corrupção e dessa recessão que estamos vivendo.

Zé Dend`água 17 de janeiro de 2016, 14:33h - 14:33

CSA tem acordo com a BMW e outras empresas alemãs por ter nascido Joint-venture entre a brasileira Vake e a alemã Thyssenkrupp de modo que não depende do mercado interno e NÃO pode vender aço no Brasil.

Ferreira 16 de janeiro de 2016, 20:28h - 20:28

Esse governo é muito fraco, enquanto os americanos protegem seu mercado da concorrência desleal do dono do maior contingente de escravos do mundo (China), aqui vemos a deteriorização do nosso parque siderúrgico, empregos sendo exportados e o país voltando a ter a agricultura como razão de ser, voltamos a meados do século 20

Amiguinho 16 de janeiro de 2016, 23:20h - 23:20

Infelizmente o Brasil está na mão da China.
Se medidas protencionistas forem adotadas contra o aço chinês, eles farão o mesmo com produtos importados do Brasil, e por nosso “azar” eles são grandes consumidores dos nossos produtos.
Para os EUA que tem uma economia sólida é fácil tomar esse tipo de decisão, já para nós que temos uma economia instável fica difícil.

Al Fatah 17 de janeiro de 2016, 10:30h - 10:30

Amiguinho, não é bem assim que funciona. A China compra do Brasil o que ela não tem lá (comida e matéria-prima em geral), enquanto nós importamos dela o que já temos aqui… Nem todo mundo precisa de carro, geladeira nova ou de brinquedo, mas não deixamos de comer, beber e nos vestir. Supermercados, restaurantes e farmácias não vejo fechando, continuam todos vendendo bem. Não ouço falar em demissões na Coca-Cola de Porto Real nem na Ambev de Piraí…

O Brasil tem menos a perder que a China, então PODEMOS E DEVEMOS sim rever esse acordo “caracu” que temos com ela!…

Al Fatah 17 de janeiro de 2016, 10:50h - 10:50

Ferreira, isso depende muito. A Austrália tem a economia baseada nos setores primário e terciário, sendo no entanto um dos países mais evoluídos do mundo. O mesmo vale para a Nova Zelândia. A França, ainda que fortemente industrializada, possui boa parte de sua riqueza fortemente apoiada na agroindústria, além do turismo e outros setores de prestação de serviços. Aqui na América do Sul mesmo, o Uruguai praticamente não tem fábricas, mas goza um padrão de vida bem melhor que o nosso, se aproximando do de Portugal, país europeu… Convém lembrar que o Brasil pré-Vargas era um dos países mais ricos do mundo, chegamos a ter um PIB maior que os EUA, ainda que fôssemos tecnologicamente décadas atrasados em relação aos principais países europeus, notadamente França, Reino Unido e Alemanha…

Num mundo cada vez mais populoso e com menos recursos naturais, quem dará as cartas é quem tem mais presença de espírito, água e comida na mochila. Falta-nos o primeiro item (educação, conhecimento, autoestima, etc.)…

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