Brasília
O IBGE divulgou ontem os dados definitivos do PIB de 2010 e de 2011 e concluiu que a economia brasileira cresceu mais do que o estimado originalmente, após sua mais recente revisão metodológica. Em valor, o PIB somou R$ 4,375 trilhões em 2011. Na média de 2000 a 2011, a economia brasileira em valores foi aumentada em 2,1% a partir das mudanças metodológicas introduzidas pelo IBGE.
O resultado de 2009 foi alterado de um recuo de 0,3% para uma variação negativa de 0,2%. Em 2010, a expansão ficou em 7,6%, contra um avanço de 7,5% do indicador preliminar. Em 2011, foi apontado incremento de 3,9%, frente aos 2,7% considerados até agora. O ano de 2010 foi marcado pela forte recuperação do consumo e da indústria após o tombo provocado pela crise global iniciada no fim de 2008 e agravada no ano seguinte.
A economia se expandiu baseada em boa medida por estímulos como corte de impostos, como o IPI para veículos, e aumento do crédito subsidiado.
Com a demanda aquecida, a inflação subiu com força em 2010 (ficou no exato limite do teto da meta, em 6,50%), o que obrigou o Banco Central a elevar os juros para até 12,5% (mesmo patamar atual) para segurar o consumo e os preços. O resultado foi um crescimento mais modesto.
Revisão do PIB
Com a inclusão de mais itens considerados como investimento, a taxa de investimento (proporção dessa categoria em relação ao valor do PIB) mudou de patamar. Em 2011, passou de 19,3% do PIB na série original para 20,6% na revisada. O percentual de 2010 mudou de 16,5% para também 20,6% em 2010.
Economistas avaliam que é necessária uma taxa na faixa de 23% a 25% por vários anos para ampliar a capacidade produtiva do país e manter um crescimento sustentado do PIB na faixa de 3% a 3,5% ao ano.
Recessão Afastada
A Folha de S.Paulo revelou na terça-feira que o governo havia sido informado que o resultado de 2011 seria revisto para cima e ficaria em 3,9%. Com isso, a expectativa é que 2014 não mais apresente uma ligeira queda no nível de atividade da economia do país, conforme esperado por analistas.
Isso porque a revisão ampliou a base do PIB e o tamanho da economia brasileira, carregando um efeito estatístico de um base de comparação mais alta. Inicialmente, as previsões apontavam para um variação entre a estabilidade e um recuo de até 0,5% da economia no ano passado. O resultado será conhecido no final deste mês
O instituto revisou os dados e informou com atraso o PIB definitivo desses dois anos por causa de atualização dos métodos de cálculos do PIB, indicador que mede toda a produção de bens e serviços do país.
Historicamente, o IBGE divulga entre fevereiro e março o PIB do ano anterior com base em informações coletadas e divulgadas trimestralmente. No terceiro trimestre de cada ano, havia uma revisão geral e saía o dado final do PIB do ano anterior.
Nova Metodologia
Para ajustar sua metodologia às novas recomendações da ONU, o instituto deixou de apresentar os números anuais definitivos e informou apenas estimativas de cada ano, feitas com base no PIB trimestral.
Também foram recalculados a série histórica de 2000 a 2009. Os números finais de 2012 a 2014 serão divulgados no dia 27 deste mês, junto com o PIB do quarto trimestre e o resultado preliminar de 2014.
Desde 2010, o IBGE trabalha para incorporar novas recomendações metodológicas da ONU, de 2008, para a cálculo do PIB. O instituto já havia alertado que as alterações têm efeito “positivo” no PIB. Ou seja, mostra uma economia com dimensões maiores do que anteriormente estimado.
O motivo principal para um incremento do PIB é que gastos em pesquisa e desenvolvimento, prospecção e avaliação de recursos minerais (mesmo que não sejam encontradas, por exemplo, jazidas de minério ou petróleo) e aquisição de softwares passaram a ser tidos como investimento e foram contabilizados no PIB. Antes, esses itens eram encarados como despesas intermediárias (usadas na produção de bens e serviços) e descontadas do cálculo do PIB.
Saída do Negativo
A mudança na metodologia da estimativa do PIB pode levar o resultado de 2014 sair de negativo e ir para o território positivo, mas não mudará a leitura de que foi um ano de atividade econômica fraca e de que o o país vem perdendo produtividade nos últimos anos, segundo economistas.
O principal fator a levar o resultado de 2014 de uma retração da casa de 0,15%, última previsão do mercado, para uma alta de até 0,6% é o chamado “carregamento estatístico”, uma espécie de crescimento inercial da economia que. Esse “carregamento” depende do ritmo de crescimento do ano anterior, no caso de 2013, cujos dados só serão conhecidos no final do mês.
Nos países desenvolvidos que tiveram essa mudança de metodologia no cálculo do PIB, o impacto médio foi da ordem de 1 ponto percentual, segundo economistas. O Brasil, no entanto, teve aumento de apenas 0,1 ponto entre 2001 e 2010; apenas em 2011 é que o impacto foi de 1,2 ponto percentual (de 2,9% para 3,7%), o que chamou a atenção dos economistas.
Para Fernanda Consorte, economista do Santander, qualquer estimativa do resultado de 2014 será “um chute”, antes de conhecer os dados de 2013. No entanto, ela reconhece que o impacto deverá ser positivo, o que pode facilmente levar o resultado de -0,2% para 0,2 no ano passado. “Mesmo que ocorra isso, a leitura é que o 2014 foi um ano de enfraquecimento da atividade econômica, em que o país continuou perdendo produtividade”, afirmou.
Segundo Ricardo Macedo, professor do Ibmec do Rio, a nova metodologia do cálculo do PIB vai atenuar os efeitos de uma recessão por dois anos [2014 e 2015, como preveem governo e mercado], mas se trata de um efeito meramente estatístico porque a economia se tornou maior do que era estimada.
“A nova metodologia atenua os números, mas não podemos nos iludir nem achar que é uma vitória. O ano foi de fraca atividade econômica”, afirmou.