Brasília – Enquanto o senador Romário (PSB-RJ0 e o deputado João Derly (PCdoB-RS) articulam a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) mista sobre o escândalo na Federação Internacional de Futebol (Fifa), a Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados aprovou ontem a criação de uma comissão externa para ir aos Estados Unidos acompanhar as investigações da Justiça norte-americana sobre as denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, um dos presos.
Os deputados federais ligados ao esporte ficaram com a missão de recolher assinaturas para a criação da CPI mista, que ontem ganhou adesão de Deley de Oliveira (PTB).
– Assinamos aqui na Câmara dos Deputados a petição para instalação da CPI do Futebol, que deve ser mista, tendo também a participação dos senadores. Será uma grande chance de passar o futebol brasileiro e mundial a limpo. Estou ajudando a convencer os demais colegas, mas posso garantir que não será uma missão difícil – disse Deley.
O deputado com base na região Sul Fluminense afirmou que já vinha alertando nas comissões internas da Casa que a situação no futebol estaria chegando a um nível crítico dentro e fora das quatro linhas. Deley, que participa como titular da Comissão Especial da Câmara sobre Futebol, disse que em diversas oportunidades fez o alerta para dirigentes da própria CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
– Venho dizendo faz tempo que o futebol anda mal dentro e fora de campo. Disse isso para a direção da CBF na mais recente reunião da Comissão Especial que discute o futebol. Me rebateram afirmando que a coisa não estava tão feia assim. Hoje está claro que com a bola rolando o espetáculo é horroroso, enquanto fora das quatro linhas vivemos uma tragédia – disse o parlamentar, que conseguiu enxergar na crise uma oportunidade de conseguir uma “virada” no momento ruim:
– Tem muita gente dizendo que hoje é o dia mais triste da Fifa, e eu até concordo com isso. Por outro lado, tenho certeza também que pode ser uma grande oportunidade para recuperar o futebol, dentro e fora do campo – afirmou.
Desdobramentos
A CPI do Senado sobre o tema já foi lida em Plenário, mas, segundo o presidente da Comissão de Esporte da Câmara, deputado Márcio Marinho (PRB-BA), ainda há condições de que a CPI seja mista.
Também foi aprovado convite para uma audiência pública com o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, e os dirigentes esportivos Ricardo Teixeira e Kléber Leite.
O deputado Andrés Sanchez (PT-SP), ex-presidente do Corinthians, disse que esse pode se transformar em um bom momento para o futebol brasileiro: “É muito difícil para nós, que estamos no meio do futebol, mas é um momento também para a gente passar tudo a limpo. Ver até onde os clubes foram prejudicados, até onde os atletas foram prejudicados com todas estas coisas da Copa América, Libertadores, Copa do Brasil. Temos que tirar tudo isso a limpo”.
O deputado Silvio Torres (PSDB-SP) afirmou que a CBF sempre resistiu às tentativas de investigar seus contratos. Ele disse que apresentou um projeto (PL 1429/07) para tornar a seleção brasileira patrimônio cultural com um objetivo específico.
“Para que através dele nós pudéssemos permitir que o Ministério Público auditasse, acompanhasse os contratos bilionários que a CBF faz em nome da seleção brasileira ou se utilizando dela”, destacou o parlamentar.
“A CBF, só no ano de 2014, faturou mais de R$ 500 milhões. Não presta contas de nada, não devolve nada disso”, acrescentou Sílvio Torres. “Tem o monopólio da exploração comercial da seleção brasileira e ainda alega que qualquer iniciativa nossa vai fazer com que a Fifa intervenha no futebol brasileiro e que nos tire dos campeonatos”.