Conselho Deliberativo ‘tira’ Neto da presidência de honra do Voltaço

Volta Redonda – A última reunião do Conselho Deliberativo do Voltaço, a na semana passada, decidiu por dar a Rogério Loureiro o posto de presidente de honra do clube, honraria que até então cabia a Antônio Francisco Neto. Os dois são ex-presidentes do Volta Redonda e têm folhas extensas de serviços prestados à instituição.

O presidente do conselho, Wilton Arbex, ressaltou que o nome de Neto nunca havia sido oficializado no cargo e diante disso foi decidido pela maioria adequar o estatuto, mas com o nome de Loureiro no lugar.

“Em 2015, com objetivo de se adequar à nova legislação brasileira, foi aprovado um novo Estatuto para o Voltaço, prevendo a figura de um presidente de Honra. Porém, até o presente momento não havia sido oficializado um nome para a posição. Em recente reunião, decidiu-se por ampla maioria eleger o ex-presidente do clube, Rogério Loureiro, como Presidente de Honra, por conta de seus mais de dez anos de dedicação ao clube, período em que o Voltaço alcançou grandes conquistas, como a Taça Guanabara de 2005, e se firmou como a quinta força do futebol do Rio de Janeiro”, disse Arbex, em nota, para prosseguir:

“O Conselho Deliberativo esclarece ainda que a eleição se deu apenas com objetivo de preencher o cargo de Presidente de Honra, que estava em aberto desde a aprovação do Estatuto, obedecendo ao estatuto e totalmente dentro da lei”, fecha a nota do presidente do Conselho.

No entanto, a votação do conselho foi alvo de questionamentos e críticas por parte de alguns dos próprios conselheiros. Gelver Gilliard Correa da Cunha, que atua no conselho e é torcedor fanático do Voltaço, disse que chegou para a reunião e foi pego de surpresa com a pauta. “Fomos pegos de surpresa, pois isso não estava na pauta oficial de convocação. Um conselheiro ligado ao Rogério puxou um papel, começou a ler sobre os feitos do ex-presidente. Aí colocaram em votação o nome do Rogério para presidente de honra”, disse Gelver.

O conselheiro disse que, diante de alguns questionamentos, foi explicado que não havia em qualquer ata de reuniões antigas a homologação do nome de Neto no cargo. “Isso (nome de Neto como presidente de honra) deve ter em alguma ata, sim. O Neto era reconhecidamente o presidente de honra do clube. No artigo 78, o estatuto aponta que só pode haver troca em caso de falecimento ou renúncia. Não é o caso”, disse ele, que propôs uma solução consensual:

– Não há nada que impeça ter dois presidentes de honra. Não acho correto é do jeito que está sendo feito. Todo mundo sabe que o Neto e o Loureiro têm diferenças políticas. Todos sabem também que o conselho tem maioria de pessoas ligadas ao Rogério Loureiro, inclusive o presidente Wilton Arbex. Se há uma falha e o nome do Neto não havia sido homologado, que se corrija a falha. Não acho certo – disse o conselheiro.

Diretoria pedirá nova reunião

Apesar de reconhecerem a legitimidade do nome de Rogério Loureiro em possíveis homenagens e honrarias no Voltaço, tanto alguns conselheiros como a diretoria atual não digeriram bem a “troca” do nome de Antônio Francisco Neto da presidência de honra do clube. Tanto que uma nova reunião quanto maiores explicações serão pedidas para discutir o caso com mais profundidade.

O diretor jurídico e vice de futebol do Volta Redonda, Flavio Horta Júnior, disse que “a diretoria não foi consultada e sequer instada a se manifestar sobre tal decisão do Conselho Deliberativo. Pelo estatuto isso é prerrogativa do Conselho Deliberativo”.

E afirmou o que deve ser feito a respeito:

– Pretendemos convocar uma nova reunião de conselheiros para que se esclareça a informação de que o Neto não possuía mais o título de Presidente de Honra e fundamentem a sua explicação – disse o diretor.
Da mesma maneira, Flavinho garantiu que pode haver uma solução pacífica para o caso.

– Como dito, a explicação remete a uma supressão em 2015 e não agora. Mas, de qualquer maneira, seja agora ou em 2015, não achamos justa (a troca). Por outro lado, achamos muito justa a homenagem ao ex-presidente Rogério Loureiro. O ideal seria ter os dois – disse ele.

 

Neto tem histórico de ações para beneficiar o Voltaço

O ex-prefeito Antônio Francisco Neto foi presidente do Volta Redonda Futebol Clube por 12 anos, entre o fim da década de 80 e a década de 90. Entre as maiores conquistas dentro de campo, estão um acesso á Série B do Campeonato Brasileiro, após o vice-campeonato da Série C em 1995. Além disso, foi campeão da Copa Rio em 1994.

Fora das quatro linhas, Neto teve uma administração sem apoio da prefeitura ou do governo do estado. Na época, a valorização das categorias de base era uma obrigação para o clube formar elenco e negociar jogadores com alguma renda para o clube. O Estádio Raulino de Oliveira estava longe de ser o que é atualmente e não havia o Centro de Treinamento.

Entre os maiores feitos está a venda do atacante Darci, para o Belenenses de Portugal, cuja renda garantiu pagamento das folha salarial do Voltaço por sete meses. O mesmo ocorreu com Elson, que saiu do Volta Redonda rumo ao futebol nacional em uma negociação que garantiu a saúde financeira do clube.

Sobre a decisão do Conselho Deliberativo no caso da presidência de honra, Neto se disse surpreso.

– Não é uma atitude comum se retirar uma honraria destas. No entanto, a história não se apaga. Medalhas perdem o brilho, diplomas se decompõem com o tempo. Mas aquilo tudo que fiz junto com meus diretores, jogadores e, principalmente, torcedores, está na história do clube. A história não se apaga – disse Neto.

O ex-presidente também negociou a aquisição de um terreno no bairro Siderópolis, onde ficaria uma nova estrutura do clube. Recentemente, no entanto, esse terreno foi usado para quitar uma dívida do Voltaço com a Transportadora Excelsior, que emprestou dinheiro por vários meses ao clube sem cobrar juros.

Já como prefeito, Neto remodelou o Estádio Raulino de Oliveira e criou o CT do bairro Aero Clube. Sob sua gestão no Palácio 17 de Julho, por determinação do TCE-RJ, foi cortada uma subvenção que a prefeitura repassava ao clube. Ele, no entanto, foi o prefeito que mais repassou verba ao Voltaço na história.