Barra Mansa – “Pra todo mundo, pra mídia, pra imprensa, eu sou o Lucão, que ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio. Mas, aqui no bairro, onde eu nasci e cresci, eu continuo sendo o Luquinha, que jogava bola na Rua de Cima e na Rua de Baixo. E isso me deixa feliz”. É com essa simplicidade que o goleiro Lucas Alexandre Galdino de Azevedo, o Lucão, de 20 anos, agradece e reconhece o carinho que vem recebendo dos moradores do bairro Nova Esperança, em Barra Mansa, assim como de toda população, após ter conquistado a medalha de ouro com a seleção de futebol, nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO VALE, Lucão, que é jogador do Vasco da Gama, falou sobre a experiência vivida em Tóquio e contou como ficou surpreso ao ter sido convocado pelo técnico André Jardine, após a FIFA (Federação Internacional de Futebol) ampliar de 18 para 22 o número de jogadores convocados por seleção.
– Foi a competição mais importante da minha vida, até aqui. Eu estava no treino, lá no Vasco, e esconderam da gente a notícia. Vimos que tinha um burburinho rolando, até pensamos naquele momento que alguém havia sido vendido, mas aí o Alexandre Pássaro, nosso diretor, anunciou a minha convocação e foi uma alegria imensa – recordou o goleiro, que foi para Tóquio faltando cerca de 15 dias para o início das Olimpíadas.
Além da experiência de ter viajado para o outro lado do mundo, Lucão destaca a oportunidade de ter conhecido um país com cultura e costumes tão diferentes dos nossos, no entanto, com uma população muito receptiva e atenciosa com os atletas.
– Eu já tinha ido à Índia, que é muito longe, mas ir a Tóquio foi demais e vai ser inesquecível porque foi onde conquistei uma competição que pra sempre vai marcar a minha vida profissional – acrescentou o atleta, ao reconhecer o seu esforço e dedicação aos treinos.
Isso, segundo ele, foi um dos motivos que o levou às Olimpíadas e que ainda o fará alcançar outras conquistas, já que ele sonha em disputar uma Copa do Mundo, em conquistar um campeonato pelo Vasco da Gama e o acesso à série A pelo Gigante da Colina, onde seu contrato vai até 2023.
– Deus escolhe e abençoa as pessoas que trabalham. Eu estou fazendo a minha parte e sei o quanto me dedico para chegar até aqui. Assim vai ser até alcançar outros objetivos – completou.
O retorno com o ouro
Atração na comunidade, desde que chegou de Tóquio, Lucão não para de receber o carinho dos moradores da comunidade, como fotos, abraços e cumprimentos, principalmente das crianças, para quem ele quer se tornar uma referência sobre a importância do investimento em esportes. O goleiro recorda que passou por projetos sociais, antes de ir para escolinhas, e faz questão de ressaltar que independente da fama e do dinheiro que o futebol proporciona, o mais importante são as lições que contribuem para a formação do caráter de tantas crianças.
– Como muitos meninos da minha idade eu poderia ter me perdido nas drogas e na criminalidade, mas tive o incentivo do esporte por meio de projetos sociais e escolinhas de futsal. Hoje é gratificante demais trazer alegria para essas crianças e saber que elas podem se espelhar em mim para correr atrás dos seus sonhos. O futebol não é só fama, mas ele também nos ensina a ter disciplina, a dividir ser companheiro e o melhor: saber esperar o momento certo – enfatizou o jogador.
Embora ainda não tenha retornado para o Rio de Janeiro, onde volta a treinar pelo Vasco da Gama nos próximos dias, Lucão conta que já foi parabenizado pelo presidente e diretor do clube, Jorge Salgado e Alexandre Pássaro.
– Eles me mandaram mensagem parabenizando. Disseram ter ficado orgulhosos porque eu e o Ricardo Graça, que é zagueiro, estivemos representando o time nos jogos olímpicos e que estão nos aguardando em São Januário – disse o jogador.
Segundo ele, tem sido muito gratificante todo o carinho que vem recebendo não só na comunidade, mas também por onde tem passado, nos últimos dias.
– Saber que tem pessoas torcendo por nós e conspirando a nosso favor torna as coisas mais fáceis. Eu recebia ligação às 5 horas da manhã de pessoas desejando boa sorte, dizendo que estavam acompanhando os jogos, e isso faz toda diferença – observou o atleta.
Tudo pelos pais
Sempre fazendo questão de ressaltar que todo seu esforço foi pensando em oferecer melhores condições de vida para seus pais, a dona de casa Vanda Galdino, de 51 anos e Alexandro Oliveira de Azevedo – que morreu em 2019 – Lucão dedica a medalha conquistada em memória ao pai, que não podia vê-lo jogar por ter ficado cego, mas que fazia questão de saber cada detalhe sobre ele, seu uniforme, cor de chuteira e até como estava o cabelo.
– Tudo o que eu fiz até hoje foi motivado em ajudar os meus pais e se eu perder essa motivação eu perco tudo. Ajudei meu pai o quanto pude enquanto ele estava vivo e queria muito que ele estivesse aqui. Agora meu objetivo é continuar cuidando da minha mãe, para quem já consegui realizar o sonho de ter uma casa própria. Hoje sei que ela vive bem melhor – ressaltou o jogador.
Orgulhosa, a mãe dele, a dona de casa Vanda Galdino, de 51 anos, se recorda que até pouco tempo eles moravam em uma casa de apenas três cômodos, com um total de seis pessoas.
– Graças ao meu filho eu conquistei o sonho de ter essa casa. O Lucão é o meu grande orgulho não só por isso, mas por ser um menino carinhoso, que sempre se preocupou comigo e com o pai dele. Eu fico muito feliz em ver tudo o que está acontecendo na vida dele. Sempre disse pra ele não desistir dos sonhos e agora tudo está se tornando realidade – finalizou Vanda.
Por Roze Martins
3 comments
Esse garoto é digno de todo o reconhecimento, pois, conseguir se destacar no esporte internacional, vindo de um bairro pobre, de uma cidade do interior do RJ(estado onde imperam a violência e a corrupção), sem apoio de governo, sem pistolão ou incentivo de qualquer entidade, não é para qualquer um. Parabéns, garoto! Espero q seu brilho só aumente cada vez mais!
99% dos jogadores brasileiros no futebol internacional vieram da pobreza , muitos da miséria nem por isso devem cometer tolices, que lhe sirva de lição, as vezes é bom ter atitude, opinião para não entrar em furadas.
Vergonha retirarem o casaco para receberem as medalhas. Jogaram na lama uma Vitória olímpica, me lembrou o o Hipólito dedicando medalha pro Cesar Maia sem noção de ridículo . Uma pena.
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