Há 50 anos, em abril de 1968, chegava aos cinemas a superprodução “2001: Uma odisseia no espaço” do diretor Stanley Kubrick. O filme deixou os críticos confusos e as plateias maravilhadas. E mudou a história do cinema. Foi o marco zero do moderno cinema de efeitos especiais. Um espetáculo visual puro que influenciou toda uma geração de cineastas. Para Steven Spielberg (O diretor de “Jogador número um”) “2001” foi o “big bang” que criou todo um novo universo cinematográfico. George Lucas viu a odisseia no espaço e teve a inspiração para fazer sua “Guerra nas Estrelas”.
Para James Cameron, o cineasta de “Titanic” e “Avatar”, “2001” nos lembra que a ideia por trás do espetáculo ainda é o maior de todos os efeitos especiais”. E ideias é o que não faltam no filme de Stanley Kubrick. O roteiro especula sobre a origem e o futuro da humanidade, a evolução das máquinas em direção a inteligência artificial, nosso conceito de Deus e a possibilidade de existirem, no Universo, inteligências muito superiores a nossa.
Mostrar tudo isso num filme não foi tarefa simples. Além de Shepperton, a produção tomou conta dos estúdios da MGM em Borehamwood. Cientistas da Nasa, como Frederick Ordway, foram contratados para garantir a veracidade de todo o equipamento espacial sendo projetado pela equipe de desenhistas e cenógrafos. O escritor Arthur C. Clarke se trancou num quarto do hotel Chelsea em Nova Iorque para escrever o roteiro enquanto o filme era rodado. Empresas como a IBM, a Gruman Aircraft, a General Electric e a RCA foram convidadas a apresentar sugestões para o equipamento e a visão da tecnologia futura que seria mostrada.
Na época a indústria aeroespacial estava projetando naves para levar astronautas a Marte e Vênus. No caso dos russos chegarem a Lua antes dos americanos. A maioria dos projetos incluía centrífugas e tambores giratórios para produzir uma gravidade artificial. Kubrick queria que a Discovery do filme tivesse uma sala de controle assim e contratou a fábrica de aviões Vickers Armstrong para construir uma centrífuga de 25 metros de largura para colocar os atores astronautas no estúdio. Keir Dullea, que interpretou o comandante Dave Bowman, explica que essa roda gigante podia se dividir em duas, para que as câmeras pudessem focalizar em ângulos diferentes. Mas quando era unida e começava a rodar, o diretor precisava comandar os atores através de um circuito fechado de televisão.
Mas o maior desafio para o diretor seria mostrar um encontro da humanidade com inteligências extraterrestres. No início, Kubrick imaginou criaturas inspiradas nas esculturas de Giacometti, seres de três metros de altura, esguios e longilíneos. Mas não era possível mostrar algo assim com a tecnologia de 1965 e o roteiro passou a visualizar os alienígenas através de seus artefatos. Uma pirâmide negra que aparece na Terra pré-histórica e na Lua do futuro, emitindo sinais que penetram na mente dos seres que a encontram. A pirâmide se revelou difícil de iluminar e foi substituída por uma placa de material negro, o famoso monolito de 2001.
O futuro imaginado no filme não chegou no ano 2001. Mas continua a ser uma inspiração para os engenheiros aeroespaciais. Que sonham um dia criar o hotel espacial giratório mostrado logo no início. Os 50 anos da estreia do filme serão festejados com uma exibição especial no Festival de Cannes e com o lançamento de vários livros, inclusive aqui no Brasil.
“2001” transformou a ficção científica num gênero respeitável do cinema. E de 1968 para cá os estúdios produziram dezenas de filmes sobre viagens espaciais e encontros com extraterrestres. Ótimos filmes como o “Contato” de Robert Zemeckis ou o “Interestelar” do Christopher Nolan. Mas nenhum superou a beleza e o estilo daquela primeira odisseia no espaço.
JORGE LUIZ CALIFE | [email protected]
2 comments
Excelente filme! Para entender bem é preciso ler também o romance. Tomara que a Editora Aleph se anime e lance as continuações, pois 2010 é fenomenal.
Assisti quando eu tinha 10 anos de idade e claro que não entendi tudo, mas fiquei fascinado. E nesse meio século que passou fui sempre fazendo interpretações do que vi no filme, que é uma obra-prima justamente porque coloca para pensar. Aliás, todos os filmes do Kubrick que assisti são assim.
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