Do livro para o cinema, adaptações exigem mudanças

by Diário do Vale
astronauta em orbita

Real: Capacetes ocultam rosto dos astronautas
(Foto: Divulgação)

Transformar um livro de sucesso em um filme não é tarefa simples. Os fãs da obra literária vão criticar qualquer mudança na história original. O roteirista enfrenta um trabalho delicado. Ele precisa condensar um livro de 300 páginas em um filme de duas horas de duração. Mantendo a essência e o espírito da obra. Um bom exemplo é o romance “Perdido em Marte” de Andy Weir, transformado no filme de Ridley Scott, exibido nos cinemas ano passado. Quem gostou do livro curtiu o filme e não houve fãs irados reclamando das poucas diferenças entre livro e filme. Que existem, é claro.

O trecho da história, em que os astronautas decolam de Marte às pressas, fugindo de uma tempestade de areia, foi reproduzido com fidelidade. Só que, no livro, esta sequência acontece como um flash back, no meio da história. Ridley Scott preferiu abrir o filme com a tempestade, que é um dos acontecimentos mais empolgantes da trama. Um filme precisa capturar a atenção da plateia logo nas primeiras cenas. É diferente do livro que permite uma leitura mais lenta, mais tranquila.

“Perdido em Marte” é uma história sobre astronautas que passam boa parte do tempo usando aqueles escafandros pressurizados. As viseiras dos capacetes são espelhadas, para proteger os olhos do brilho intenso do Sol no espaço e dos raios ultravioleta. O filme adota uma certa licença poética, com os atores usando viseiras transparentes. Seria desperdício de dinheiro contratar atores caros como Matt Damon e Jessica Chastain e manter o rosto deles oculto boa parte do tempo. Por isso o diretor do filme pediu ao desenhista de produção que criasse capacetes transparentes para mostrar a expressão dos atores o tempo todo.

A espaçonave Hermes também é bem diferente no livro. No filme é uma nave enorme, que parece um pedaço da estação espacial internacional. Já Andy Weir descreve uma nave compacta, desenhada para frear na atmosfera dos planetas. A descrição no livro lembra um projeto de módulo de missão a Marte que a empresa TRW desenhou para a Nasa durante a corrida espacial, em 1964. Apaixonado pela história dos voos espaciais o autor do livro deve conhecer esse projeto, que está disponível em vários sites da internet.

No clímax da história, quando a tripulação precisa explodir uma porta para alterar a direção da nave, a comandante Lewis diz: “Quero que a comporta externa fique intacta, mantendo o formato liso da nave para a aerofrenagem”. O que é essa tal de aerofrenagem? É quando uma nave resvala na atmosfera de um planeta para perder velocidade. Para fazer isso a Hermes precisaria ter um formato de bala, ou de ogiva de míssil, como o projeto da TRW aí em cima.

Lewis deixa sua nave em um momento crítico, e pilota uma mochila de manobra orbital para resgatar o astronauta Mark Watney. Coisa que um comandante da vida real nunca faria. No livro Weir é mais realista, e a comandante fica no seu posto enquanto o médico da expedição se encarrega do salvamento.

Outra diferença entre filme e livro é a parte do acidente com o carro Rover. Descendo as encostas da cratera Schiaparelli nosso herói termina capotando com seu caminhão marciano. No livro ele leva quase um capítulo inteiro para endireitar o veículo, usando um sistema de cabos e alavancas. O filme omite toda essa parte. Mesmo com a baixa gravidade de Marte, desemborcar um veículo de várias toneladas é algo que forçaria a credibilidade das plateias dos cinemas.

Apesar das mudanças, “Perdido em Marte” o filme, é tão bom quanto “Perdido em Marte” o livro. As mudanças são pequenas e o filme ainda mostra o que aconteceu com os personagens depois que eles voltaram do espaço sideral.

Por Jorge Luiz Calife

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