A destruição da usina nuclear de Chernobil foi o maior acidente atômico da história. Embora tenha acontecido em 1986, antes do fim da União Soviética, a história dessa tragédia é bem conhecida do público devido ao sucesso da minissérie de TV, que ganhou um Globo de Ouro no mês passado. Um dos melhores livros sobre o desastre é “Vozes de Tchernóbil” da escritora bielo-russa Svetlana Aleksiévitch. Bem conhecida por outros livros abordando a vida na União Soviética.
Aleksiévitch entrevistou os sobreviventes da catástrofe e traça um relato impactante do que aconteceu naquela noite de 26 de abril de 1986. Quando um dos reatores da usina, situada perto da cidade de Pripyat, descontrolou-se e explodiu. Lançando toneladas de poeira radioativa mortal na atmosfera. Se tivesse acontecido em um país democrático, como os Estados Unidos ou a Inglaterra, o desastre de Chernobil já teria sido uma grande catástrofe. Mas, o problema se agravou porque a Ucrânia era parte da União Soviética.
O regime soviético costumava ocultar as falhas e desastres de sua tecnologia. Na União Soviética até os desastres de avião não eram noticiados. Para manter o mito de que a tecnologia soviética era melhor do que a ocidental. Quando Chernobil explodiu o acidente nem foi comunicado aos países vizinhos. E os bombeiros e moradores da cidade vizinha não receberam a proteção adequada. Muitos morreram em poucos dias devido a exposição aos resíduos radioativos da usina.
A magnitude do que tinha acontecido só ficou conhecida quando os alarmes das usinas nucleares suecas começaram a disparar. Não havia nada errado com os reatores suecos. Os alarmes estavam sendo acionados pela nuvem radioativa vinda de Chernobil. Só então o governo de Moscou revelou o desastre ao mundo. Mas, o que aconteceu com as pessoas que estavam lá, no ponto zero, foi ainda pior, como narra a escritora.
“Pessoas comuns, que mantinham a fé no grande império comunista, recebiam poucas informações, numa luta inglória, em que pás eram usadas para combater o átomo. A morte chegava em poucos dias. Com sorte podia-se ser sepultado num jazigo lacrado como um patriota”. As viúvas, os soldados e os cientistas debilitados pela experiência são as testemunhas desta tragédia. Curiosamente o título do livro usa a grafia Tchernóbil que é pouco usada entre nós.
Jorge Luiz Calife