As utopias costumam ser sonhos sobre mundos perfeitos que não tem a menor chance de serem implementados na vida real. Elas podem ser no máximo um ideal para ser perseguido mas nunca alcançado. “Emburrecimento programado – O currículo oculto da escolarização obrigatória”, do americano John Taylor Gatto (Dumbing us down no original) é um livro antigo, publicado em 2010, e escrito no final do século vinte, mas que ainda costuma ser comentado e discutido na internet. Existem até vídeos no Youtube sobre este livro. Talvez pelo título chamativo, que provoca a curiosidade do leitor.
Gatto critica o currículo das escolas tradicionais e o sistema de ensino obrigatório. Ele acha que as escolas são mecanismos de engenharia social. Sua função é produzir em massa trabalhadores medíocres, de baixo custo, obedientes e conformados. E propõe uma separação entre a verdadeira função da escola, que seria a escolarização da educação propriamente dita. Até aí tudo bem o problema é a solução imposta pelo autor, que seria a educação das crianças pelos próprios pais, em suas casas. Poderia funcionar naquele mundo ideal da utopia, mas não no mundo real em que vivemos.
Aqui no Brasil, por exemplo, a grande maioria dos pais não tem educação suficiente para empregar no seu dia a dia, quanto mais para dar aos filhos. A escola não serve apenas para preparar a maioria das pessoas para o mercado de trabalho, ela impõe aqueles limites necessários para a vida em sociedade, e faz com as crianças aprendam a trabalhar em equipe e a se socializarem o que também é fundamental.
A menos que o indivíduo seja um artista nato, com grandes talentos, ou um gênio, capaz de aprender por si mesmo, ele vai precisar do ensino básico, proporcionado pela boa e velha escola. Durante a minha vida eu conheci pessoas que fugiram da escola e tentaram viver sem uma educação formal. Acabaram na miséria, vivendo de biscates, como lavagem de automóveis ou empacotamento de mercadorias em supermercados. Como não tinham uma instrução básica, e muito menos especializada, eles acabaram excluídos do mercado de trabalho e tendo que viver do subemprego. Portanto leitor, a menos que você seja um Albert Einstein ou um Picasso, vai precisar, e muito, da escola tradicional.
Jorge Luiz Calife