Há 60 anos, no dia 12 de abril de 1961, um major da força aérea soviética transformou em realidade o sonho das viagens espaciais. Yuri Gagárin embarcou em uma pequena cápsula, na ponta de um foguete balístico R-7 e subiu até uma altura de 300 quilômetros. Foi uma missão muito arriscada, em uma nave que tinha uma confiabilidade de 50%. Mas tudo correu bem e ele desceu de paraquedas na região de Saratov, onde foi recebido pela camponesa Rita Nurskanova e sua filha. Depois de Gagarin, outros homens e mulheres viajaram em naves semelhantes, mas ele foi o primeiro e virou celebridade instantânea num mundo onde ainda não existia a internet.
A cápsula esférica que transportou Gagárin era derivada de um modelo de satélite espião, o Zenith. Pesava duas toneladas e meia e tinha 2,3 metros de diâmetro. Tinha sido testada várias vezes em voos com manequins e cachorros, e sofrera vários acidentes. A primeira, chamada Korabl-Sputnik 1 (Navio-satélite 1) fora lançada ao espaço um ano antes, em maio de 1960. Uma falha nos motores a colocou em uma órbita muito alta, de onde ela só retornou vários anos depois. Se fosse tripulada o cosmonauta teria morrido ao fim de suas reservas de oxigênio.
No segundo teste o foguete explodiu matando seus tripulantes, os cachorros Chayka e Lisichka. Foi só em agosto de 1960 que um Korabl-Sputnik retornou com sucesso do espaço, trazendo as cadelas Strelka e Belka. Outro voo com cachorros foi lançado em dezembro, com outra dupla de cães, Pchyolka e Muskha. Os foguetes de reentrada dispararam por tempo insuficiente e o Krabl-Sputnik 3 iniciou uma descida fora do território soviético. O controle da missão acionou o mecanismo de autodestruição, explodindo a nave e matando os dois cães para que a tecnologia soviética não caísse em mãos estrangeiras.
Em 1961 mais dois voos de teste foram realizados, desta vez com sucesso. Num deles o cachorro Chernuskha viajou ao redor da Terra junto com um boneco, chamado Ivan Ivanovich e retornou são e salvo. E o engenheiro chefe, Serguei Korolev considerou a nave pronta para carregar um homem. Mesmo assim, com essa proporção de sucessos e fracassos, Gagarin sabia que suas chances de sobreviver eram de 50%. Era um piloto da Força Aérea Soviética e missões de alto risco faziam parte de seu trabalho. O foguete R-7, movido por uma mistura de querosene e oxigênio líquido estava coberto de gelo, devido ao frio do gás liquefeito. Gagarin fez um breve discurso para seus colegas e subiu no elevador, que o levaria ao topo do míssil, na base de Baikonur, no Cazaquistão. Usava um traje vermelho, com um capacete branco. Onde tinham sido pintadas, apressadamente, as iniciais CCCP da União Soviética. Para não ser confundido com um espião americano quando descesse do céu.
A decolagem foi perfeita, mas nem tudo ocorreu como programado. A cápsula entrou em uma órbita com um apogeu, o ponto mais alto, de 327 quilometros. Se os retrofoguetes falhassem ela só retornaria depois de 20 dias, muito além da reserva de oxigênio de Gagarin. Do espaço ele olhou pela pequena escotilha e anunciou ao mundo que a Terra era azul. Até aquela data o recorde de altitude para aeronaves tripuladas pertencia a alguns aviões-foguete americanos, que tinham subido a 80 quilômetros. Gagarin chegara quatro vezes mais alto.
No retorno a Terra a cápsula ficou presa por um cabo ao módulo com os motores. E rodopiou sem controle. Gagarin se viu dentro de uma nuvem de fogo mas o cabo logo derreteu, libertando a cápsula. A sete mil metros de altura ele acionou o assento ejetável e desceu suavemente de paraquedas numa plantação de trigo.
Virou embaixador da União Soviética e correu o mundo. Na Itália ganhou um beijo da atriz Gina Lolobrigida, estrela do cinema italiano. E no Brasil foi condecorado pelo presidente Jânio Quadros. Mas viveu pouco. Morreu sete anos depois, num acidente de avião, em 1968. Quando os livros de história já o tinham imortalizado.
Jorge Luiz Calife