Moradora de Angra dos Reis lança livro sobre comida árabe

by Diário do Vale
Igor Perreira: ‘Tenho orgulho dela e não poderia demonstrar de outra forma que não contado para todos a sua história de vida e revelando suas receitas’  (Foto: Luiz Eduardo de Araújo)

Igor Perreira: ‘Tenho orgulho dela e não poderia demonstrar de outra forma que não contado para todos a sua história de vida e revelando suas receitas’ (Foto: Luiz Eduardo de Araújo)

Mesmo com uma noite chuvosa não faltaram fãs da comida árabe e da história de vida de Nélia Coelho Miguel. No lançamento, que ocorreu na semana passada, o seu neto, Igor Miguel Pereira, lançou o livro “Uma história de amor e quibe”, que narra à aventura de uma culinária desconhecida, tendo como pano de fundo uma história de amor. O livro reúne receitas e histórias de família, além de fatos históricos e curiosidades sobre a culinária e a imigração libanesas no Brasil e em Angra dos Reis. A história tem Nélia como protagonista. O livro retrata sua transformação, de uma esposa, mãe de oito crianças, que nunca havia cozinhado, em uma cozinheira de mão cheia, que hoje é conhecida, dentre outras coisas, por seu único e exclusivo sleibe, uma de suas preciosidades na cozinha.

– Não sabia cozinhar e aprendi. Não quero que isso aconteça com minhas filhas. Por isso deixo esse legado, um livro com receitas e histórias. Uma delas é meu xodó. Foi o primeiro prato que aprendi a cozinhar, um simples e gostoso quibe – conta a matriarca Nélia, ao lado do neto, emocionado.

Para Igor, lançar um livro sobre a avó e ainda mais no mês da mulher, tem um gostinho especial.

– Minha avó é guerreira e sempre trabalhou para a família a vida inteira. Em uma época ela teve um bar. Tenho orgulho dela e não poderia demonstrar de outra forma que não contado para todos a sua história de vida e revelando suas receitas – disse Igor.

Ansioso por ver no livro a receita do prato que tanto gosta estava o deputado federal Luiz Sérgio Nóbrega, enquanto folheava o livro que acabara de comprar.

– Está aqui! Este prato é muito especial. Ela só faz uma vez ao ano, e comemos no Dia de Reis. Todo aniversário da cidade, após o corte de bolo ia correndo pra casa de dona Nélia para comer o sleibe – lembra o deputado, pedindo ajuda ao amigo Zequinha Miguel para pronunciar a palavra. O sleibe, segundo o deputado, lembra o famoso bolinho de chuva.

Amiga de dona Nélia há quase 60 anos, dona Auta Barbosa Gonçalves, proprietária da padaria do Comércio, também estava na fila para pegar autógrafo. Fã da culinária da amiga, ela garantiu que fará algumas de suas receitas.

– Sou fã de sua esfirra e kafta. Assim que ler o livro, vou buscar essas duas receitas para reproduzir – garante dona Auta.

A historiadora Edneia do Marco Pascoal também é fã de dona Nélia e seus pratos e estava presente na cerimônia de lançamento.

– Ela é uma mulher completa. Excelente mãe, esposa, cozinheira. Tenho a certeza de que aqui neste livro há ótimas receitas – frisa a historiadora.

A HISTÓRIA

Nélia se casou aos 19 anos com José (Youssef) Miguel e foi a primeira brasileira de uma família de imigrantes libaneses. Como a sogra havia acabado de falecer, coube a ela a tarefa de comandar o fogão e agradar os paladares da grande família do esposo. O amor por José e a solidariedade da colônia libanesa de Angra foram seus guias nessa jornada por temperos intensos e ingredientes exóticos para ela. Seu contato com a culinária libanesa se restringia aos raros almoços com a família do noivo. Anos depois, suas habilidades no preparo de quibes e esfirras garantiriam o estudo dos filhos e o sucesso do Dendecos, bar que foi o principal ponto de encontro de Angra nas décadas de 70 e 80.

O LIVRO

A ideia para a criação do livro partiu da própria Nélia. Em novembro de 2010 ela procurou o neto, escritor e jornalista, com um calhamaço de papéis de caderno, manuscritos por ela. Eram os primeiros registros das receitas, que ela aprendeu “de boca” e guardou na memória por décadas. Para Nélia, publicar um livro com elas era um sonho que tinha há muito tempo e por isso pediu ajuda ao neto.

O neto então iniciou uma extensa pesquisa, que englobou uma série de entrevistas com a avó, a consulta a uma professora da FGV especialista em imigração libanesa e cultura árabe e leituras sobre os mais variados temas, desde a história de um determinado ingrediente até as características da época e da cidade de origem do primeiro Miguel, sogro de Nélia e bisavô de Igor, que imigrou para o Brasil no começo do século XX.

Como resultado, o livro apresenta uma saborosa mistura. Os fatos da vida de Nélia e da família Miguel são contados em uma série de crônicas líricas e cativantes. Receitas como a do arroz marroquino, da galinha à moda síria e do famoso quibe vão surgindo aos poucos durante a história, na medida em que se cruzam com a trajetória da família. A leitura é contextualizada com textos sobre os mais variados assuntos: desde a história da chegada libaneses ao Brasil e em Angra dos Reis, até a invenção da cafta nas caravanas de beduínos.

Através do livro é possível conhecer peculiaridades sobre inúmeros aspectos da cultura libanesa, como as diferenças e semelhanças entre as várias culinárias da tradição árabe, o papel central que o ato de se reunir para comer ocupa na vida social dos povos de tradição árabe, o preconceito e a perseguição sofrida pelos imigrantes libaneses nos primeiros anos no Brasil. Uma história de amor e quibe oferece também uma viagem através de diferentes décadas da cidade de Angra dos Reis, retratando por exemplo, o Carnaval dos anos 40 e a efervescência cultural e política do bar Dendecos dos anos 70. Os inúmeros descendentes de libaneses e as pessoas que viveram aquela época na cidade certamente se reconhecerão nas páginas de Uma História de Amor e quibe.

Este é o terceiro livro de Igor Miguel Pereira, o primeiro de não-ficção, feito com recursos próprios, em parceria com a editora Bookstorming. Os dois primeiros foram os romances Txakazuê (Letras brasileiras- 2007) e Vão (Editora Torre-2011).

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