O futuro perdido do novo Blade Runner

by Diário do Vale

O problema com o cinema moderno é a falta de ideias novas e originais. Vivemos uma era de remakes e continuações onde tudo parece cópia de alguma coisa que já vimos no passado. É o caso do “Blade Runner 2049”, a versão século XXI do caçador de androides que encantou toda uma geração. Quando o primeiro filme foi exibido nos cinemas, em 1982, ele deslumbrou a plateia com sua ousadia. A versão moderna parece uma mistura de todos os filmes futuristas que vimos nos últimos 17 anos, incluindo o “A.I. – Inteligência Artificial” do Steven Spielberg ou o “Minority Report – A Nova Lei”, com o Tom Cruise.

Estamos em 2017 e já sabemos que o futuro não vai ter cidades supermodernas nem carros voadores. Mas esse é o visual de futuro que o cinema insiste em mostrar. Em uma das cenas do “Blade Runner 2049” o policial interpretado pelo Ryan Gosling dirige até um bairro boêmio da cidade do futuro, cheio de boates e prostíbulos. Como a Rouge City do Inteligência Artificial.

Nesse lugar nosso herói é recebido pelo holograma de uma mulher nua gigante (interpretado pela atriz Ana de Armas) que sai de dentro de um imenso outdoor. E convida nosso herói a experimentar os prazeres do lugar.

Onde foi que vimos algo semelhante? Há muito tempo atrás, no filme “Boccaccio ’70”, de 1962, dirigido pelo inesquecível Frederico Fellini. Onde Marcello Mastroiani tinha um pesadelo onde era perseguido por uma versão gigante da Anita Ekberg, que saía de um outdoor. Tudo bem, 99% das pessoas que vão ver o novo Blade Runner nunca ouviu falar em Fellini, mas será que eles não podiam ter uma ideia mais original do que a prostituta androide ou o holograma gigante? Ideias já exploradas em outros filme como o Inteligência Artificial.

A origem dos androides nunca era mostrada no Blade Runner original. Sabíamos que eles eram seres artificiais, com um tempo de vida curto. Mas sua criação era deixada para a imaginação do espectador. Não no novo filme. No novo filme os androides aparecem dentro de uns tubos transparentes cheios de líquidos. Igual aos clones dos filmes do Resident Evil ou a Ripley do Alien 4. É outro exemplo de algo que já foi mostrado a exaustão em outros filmes e podia ter sido deixado oculto.

Custo

O problema com os filmes pós-modernos é que eles custam muito caro. O recente “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” custou quase 200 milhões de dólares. E não rendeu nem a metade. “Blade Runner 2049” tem um custo semelhante, estimado em 185 milhões de dólares. Devido a essa quantidade imensa de dinheiro investido os estúdios não querem arriscar. Se a ideia funcionou no passado vamos fazer tudo de novo. E para dar lucro o filme precisa agradar a uma enorme faixa de público, no ocidente e no oriente. O que é outro estímulo à política do mais do mesmo.

No caso do novo Blade Runner a possibilidade de dar lucro é meio remota. O filme recebeu a classificação R, de Restrito, nos EUA, devido a violência, nudez e sexualidade. Com isso virou um filme para o público adulto, deixando de fora os adolescentes, que formam a maior parte da plateia moderna nos cinemas de shoppings. A nudez e a violência também vão criar problemas em certos mercados como o dos países árabes. Onde a gigante holográfica certamente será censurada.

Depois do novo “Blade Runner” teremos o novo “Guerra nas Estrelas” e por aí afora. Em 1982, quando o primeiro Blade Runner foi exibido, o cinema vivia cheio de surpresas e novidades. Cada filme era diferente de todos os outros. Assistíamos “Guerra nas Estrelas”, “Alien”, “E.T. – O Extraterrestre” e tudo parecia original e interessante. Hoje é tudo remake e parece que vai continuar assim por mais algum tempo. Até que os prejuízos com essas mega refilmagens levem os estúdios a apostar novamente nas novidades.

 

Veículo: Ryan Gosling e seu carro voador
Retrô: Coca-Cola e Atari fazem parte do futuro
Holograma: Ana de Armas e a mulher nua gigante

 

Por Jorge Luiz Calife

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2 comments

Anderson 6 de outubro de 2017, 13:17h - 13:17

Ainda vou dar uma chance para este filme, pois o Denis Villeneuve merece nosso respeito. Mas concordo que já está chato esse monte de remakes e continuações.

VOTONULO 6 de outubro de 2017, 07:31h - 07:31

QUANTO MAIS “EFEITOS ESPECIAIS”, TANTO MENOS O PÚBLICO TEM QUE PENSAR, O QUE É DOLOROSO E ENFADONHO, ESPECIALMENTE NO brasil DE HOJE, QUANDO PENSAR PASSA A SER ALGO MARGINAL, NOS LIMITES DE UM CRIME…

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