A última versão do doutor Dolittle, atualmente em cartaz nos cinemas, até que não é ruim. E, certamente, é muito melhor do que aqueles filmes com o Eddie Murphy feitos na década de 1990. Mas, apesar do carisma do Robert Downey Jr, ele não consegue superar o musical de 1967, que ganhou até um Oscar de melhor canção e outro de efeitos especiais. O filme foi feito especialmente para o astro dos musicais Rex Harrison, que emplacara um tremendo sucesso com a versão de 1964 do musical “My Fair Lady” com Audrey Hepburn. Além de fazer o papel de César no épico de 1963, “Cleópatra”. Harrison tinha uma boa voz, cantava bem, além de ser um ator conhecido. Daí a escolha da Fox para colocá-lo no papel do homem que consegue falar com os animais em “O Fabuloso Doutor Dolittle”.
Como na versão moderna, a história se passa no século XIX, onde o doutor Dolittle é internado como louco, em um hospício, depois de libertar uma foca apaixonada. Só ele consegue se comunicar com a foca e ouvir seus problemas. Felizmente, o herói é libertado pelos seus amigos, e embarca em uma viagem de veleiro, rumo as ilhas do Pacífico Sul. Seu objetivo é fazer contato com uma criatura mítica, o Grande Caracol Cor de Rosa.
Richard Fleischer, o diretor do filme, era filho do animador Max Fleischer, responsável pelos antigos desenhos do Pica-Pau. Sua carreira no cinema começou quando o Walt Disney o chamou para dirigir o clássico “Vinte Mil Léguas Submarinas”. A partir daí Fleischer se especializou em filmes de aventura e fantasia como a odisseia da estrela Rachel Welch no mundo microscópico, “Viagem Fantástica”, de 1968.
Em 1967 não existiam esses efeitos modernos de computação gráfica e tudo era feito com animais amestrados, no caso da foca, do macaco e dos outros bichos comuns, que aparecem no filme. E com efeitos animatrônicos, para os animais fantásticos. Além do Caracol Gigante, o doutor Dolittle do Rex Harrison termina viajando para a Inglaterra no dorso de uma mariposa gigante. Que também foi construída em tamanho natural para o filme.
Personagem
O personagem do homem que fala com animais foi criado por acaso pelo escritor inglês Hugh Lofting. Durante a Primeira Guerra Mundial ele foi convocado para servir na infantaria. E esboçou o personagem nas cartas que escrevia para seus filhos, de dentro das trincheiras. Sobrevivendo aos massacres da guerra, Lofting transformou o personagem em herói de uma série de livros. As aventuras se passam na Inglaterra vitoriana, aí por volta de 1839, um ambiente bem distante dos horrores da guerra que o autor tinha presenciado.
Ao todo foram oito livros, publicados entre 1923 e 1948, e se tornaram um sucesso da literatura infantil de língua inglesa.
O roteiro do filme de 1967 é baseado em vários livros, com a história da mariposa lunar sendo tirada de “Doutor Dolittle na Lua”, de 1928. Ele foi escrito pelo compositor Leslie Bricusse que também foi o autor das canções. O filme custou 17 milhões de dólares, o que era um orçamento de superprodução naquela época. No mesmo ano Stanley Kubrick filmava “2001: Uma odisseia no espaço” em Londres com um orçamento de 10 milhões de dólares. Não foi o sucesso que o estúdio esperava. Versões da trilha sonora em vários idiomas foram produzidas e acabaram encalhando nas lojas. Mas, o encantamento do filme é inegável e ele foi exibido muitas vezes na televisão. Hoje está disponível em DVD e pode ser baixado da internet.
Jorge Luiz Calife