Geisler Vanil
Acho que estou morto. Essa foi à frase dita por Benjamim logo depois que acordou. Todas as noites sempre quando ele ia se deitar levava junto consigo para a cama todo o stress que tivera tido durante o dia, levava também as preocupações do dia seguinte perguntando-se como iria resolvê-las, o medo, anseio, dúvida, frustrações… eram suas companhias certas nas noites de sono; além claro de sua mulher Ana, com quem ele apenas dividia o colchão.
Noite passada antes que eles se deitassem Ana lhe perguntou.
-Benjamim, se te retirassem à vida, e apenas deixassem as tuas histórias, qual delas você elegeria como sendo a melhor?
-Não sei te dizer, que pergunta mais difícil! Vamos dormir que amanhã o dia vai ser longo, tenho que fazer inúmeras coisas e blá blá blá…
-Boa noite então, e bons sonhos!
-Obrigado, mas a tanto tempo que eu não sonho.
Cada um virou para o seu lado, os dois logo pegaram no sono. Passado umas 2 horas depois Benjamim começa ter um sonho completamente estranho.
Era dia, seus filhos e sua mulher estavam na cozinha tomando o café da manhã, sorrindo e muito felizes, sua mulher cantava, dançava. Mas ele não podia participar daquilo, ele houvera sido voluntário de um teste, do qual se instalava um cronômetro da vida no pulso, onde foi lhes dado um tempo que era medido em contagem regressiva. De modo que, tudo e todas as coisas ele deveria fazer muito rápido, assim poderia fazer muitas coisas, mas em pouco tempo. E além disso tinha uma máquina registradora em todos os ambientes que ele entrava ou saia, tendo que passar seu equipamento, era proibido exceder o tempo limite em cada lugar. Se acontecesse era descontado um tempo de vida como uma espécie de multa, e caso ele não registrasse em algum momento, o relógio poderia zerar e ele morrer.
Saiu de casa muito rápido, pegou seu carro na garagem e lá estava a máquina registradora, hora da entrada; desembestado e em alta velocidade passava nas ruas, às vezes furando semáforo, desrespeitando pedestre; quando de fato era impossível as ultrapassagens e ele ficava no engarrafamento o desespero tomava conta. O olho não parava de ver o tal contador, a aflição ia aumentando a medida que nada andava, e para não surtar pegava logo o celular e ali mesmo começava os ordenamentos.
Chegado no estacionamento do trabalho parou o carro e em seguida registrou a hora de saída. Dessa vez ultrapassou o limite, perdeu três horas de vida. Subiu correndo as escadas, entrou em uma pressa na sua sala e logo registrou sua entrada. Fez todo o trabalho incansavelmente na parte da manhã, e já quase não aguentando mais eis que o relógio avisa; hora do almoço. Não diferente das outras vezes antes de sair da sala registrou seu horário de almoço, não poderia demorar muito, sequer poderia bater um bom papo com seus colegas de trabalho. Desceu as escadas bem rápido, e foi em direção ao restaurante, entrando, eis que lá estava ela! Há máquina registradora, arrumou seu prato e inacreditavelmente mandou tudo para dentro em poucos minutos. Ele queria compensar o tempo perdido no trânsito. Pagou, registrou sua saída do restaurante e logo voltou ao seu escritório. Seu chefe que estava em pé na porta disse:
– Hoje você está de parabéns Benjamin, se tivéssemos mais funcionários como você nossa empresa estava feita.
Empenhado e agora mais motivado do que nunca voltou para seu trabalho agilizando a pilha de coisas que já estava parado em sua mesa há muito tempo. Nem sentiu o tempo passar, só quando ouviu o soar do seu contador avisando que era hora de ir para casa.
Saiu; registrou-se na empresa, registrou-se em seu carro. Estava indo para casa, quando se distraiu um minuto talvez, olhou para o lado e viu alguns adultos felizes brincando com umas crianças sem, portanto preocuparem com o tempo. Aquilo ficou cravado em sua memória, de tal forma que o fez pensar nem que fosse um pouco em sua vida.
Chegou em casa, seus filhos e sua mulher ainda não estavam. Foi, tomou um banho, assistiu televisão, enfiou-se em seu escritório para agilizar seu trabalho. O tempo passou, hora de dormir. Foi para o quarto e sua mulher já estava deitada, sentou-se na cama e automaticamente aquela cena das crianças brincando com os adultos sem preocupação de tempo, voltou em sua mente, extasiado ele ainda se perguntava como e porque eles conseguiam fazer aquilo. Os pensamentos foram tantos que o sono logo veio, ele deitou-se, entretanto dessa vez esqueceu-se de registrar o seu tempo.