Simples ações

by Diário do Vale

Anos atrás, alguns amigos e eu fizemos um projeto que consistia na conscientização de crianças da rede pública na cidade de Volta Redonda.

Fomos até uma escola onde iriamos fazer o primeiro trabalho. Era coisa simples, mas queríamos causar um efeito atômico na vida das crianças e professoras. Chegamos e nos recebeu muito prontamente a diretora da escola do qual eu agora não me recordo o nome, nos encaminhou até a sala dos professores onde lá estava a maioria; entramos na sala, ela nos apresentou dizendo que íamos fazer um trabalho de conscientização ambiental com as turmas do 6º e 7º ano. Os professores nos olharam, avaliaram-nos e nem todos se mostraram interessados no que estávamos propondo. Uma das professoras que estavam na sala que por sinal era de Biologia veio nos perguntar do que se tratava aquele trabalho e nós ávidos começamos a explicar para aquela senhora.

Nesse meio termo, os outros professores que estavam na sala estavam todos alvoroçados, parece que naquela semana havia acontecido alguma coisa na política brasileira, e eles revoltados berravam na sala:

– Tá vendo, é por isso que esse país não vai pra frente. Só tem ladrão, ninguém faz nada que presta.

Pedi licença da conversa que estávamos tendo com a gentil mestre, chamei Leandro e Priscilla no canto e disse a eles.

– Olha, vocês ouviram tudo o que esses professores disseram, e quando entramos nessa sala propondo fazer algo de bom e para contribuir se quer nos deram atenção. Precisamos dizer alguma coisa.

-Verdade, precisamos dizer alguma coisa. Mas como diremos?

Pedi licença mais uma vez, entretanto agora para todos. E disse:

– Sabemos que o Brasil está afundando, nossos políticos são da pior espécie possível, que vocês profissionais da educação estão completamente desvalorizados e que os pobres nessa nação não tem vez. Mas eu gostaria de lembrar a professora (foi direto pra uma que estava mais exaltada) que nós estamos fazendo sim alguma coisa pra melhorar isso aqui, tanto é que estamos aqui hoje sem ganhar nada, pelo simples prazer de ver e fazer alguma coisa pra esse país melhor.

– Menino! Vocês são muito idealizadores. Já vi muitos iguais a vocês que só usaram da causa para depois se elegerem. Quero ver no futuro!

– A senhora pode ficar tranquila, porque pelo menos da minha parte não serei eleito a nada. Não sou homem de defender uma causa apenas e pensar numa forma como ditam os partidos.

Nesse momento o sinal do recreio tocou, só assim pra acalmar aquela conversa quente. A diretora nos levou até a sala e advinha quem era a professora? Ela nos apresentou aos alunos que com cara de assustados nos olhavam. Todos sentados em fileiras. Passaram-nos a palavra.

Leandro e Priscilla começaram a introduzir o nosso projeto que era reaproveitamento de óleo de cozinha e reciclagem de materiais. Antes que eu começasse a atividade com eles disse:

– Agora vocês não estão mais em uma escola, nem sequer numa sala de aula. Sendo assim afastem as mesas e cadeiras, sentem onde e como quiserem, deitem também se preferirem. Pedi que colocasse um CD de músicas para relaxar e que eles fechassem os olhos.

Começamos a dizer pra eles então imaginarem um mundo limpo, justo, honesto, onde eles pudessem ter tudo que eles quisessem, sem violência, onde as pessoas se amassem de verdade. E todos lá compenetrados, enquanto isso sujou toda a sala e depois de 10 minutos com eles pensando, pedimos que abrissem os olhos, veio o susto, espanto e revolta por parte deles.

Com isso explicamos que é exatamente o que temos feito, estamos sujando nossa própria casa, e perguntamos a eles se durante a imaginação de um mundo melhor, eles haviam pensado em estar num lugar sujo. Claro que não né tio!

Depois de tudo, nós todos prontamente limpamos a sala e todos eles ganharam uma lembrança nossa.

A tal professora assistiu tudo, e quando acabou ela levantou uma proposta aos alunos, a turma que mantivesse o pátio da escola limpo ganharia um presente dela. Soube dias depois que todas as turmas se mobilizaram e o pátio e corredor da escola não havia mais nenhuma sujeira depois do recreio.

E a professora? Bom, espero que tenha compreendido o valor que ações com propósitos verdadeiros têm. Quanto ao projeto? Não foi pra frente, mas não faz mal valeu a experiência vivida. Parabéns a todos os envolvidos.

 

 Geisler Vanil Alves da Silva

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