Jorge Luiz Calife
A sonda espacial Dawn (Aurora) chega amanhã a sua órbita final em torno do mini planeta Ceres. As últimas imagens mostram pontos luminosos dentro de uma cratera, na superfície do pequeno astro, luzes que ainda não foram explicadas pelos cientistas da Nasa. Ceres é pequeno demais para ter vulcões ativos, mas é possível que sejam gêiseres de gelo, como os que já foram observados na lua Encélado, do planeta Saturno. Outra possibilidade é que os pontos brilhantes sejam provocados por formações de cristal de rocha refletindo a luz do Sol. Amanhã o mistério será solucionado.
Hoje o motor iônico da pequena nave está funcionando o planeta potência, para reduzir a velocidade e colocar a sonda em órbita do planeta, descoberto em 1801 pelo astrônomo siciliano padre Giuseppe Piazzi. Ceres foi classificado inicialmente como planeta, e depois como asteroide. Durante quase todo o século XX ele foi conhecido como o maior dos asteroides que formam um cinturão entre os planetas Marte e Júpiter. Em 2006 a União Astronômica Internacional criou uma nova classificação e atualmente Ceres, Plutão e Eris são considerados planetas anões.
O que não os torna menos interessantes. A sonda New Horizons, que se aproxima atualmente de Plutão, descobriu que ele tem todo um sistema de luas girando ao seu redor. Já Ceres surpreendeu os cientistas com suas manchas e pontos brilhantes. Ceres tem 950 quilômetros de diâmetro e se fosse colocado na Terra cobriria 38% do território dos Estados Unidos. Como o asteroide que ameaçou colidir com a Terra no filme “Armagedon” do Bruce Willis, Ceres tem mais ou menos o tamanho do estado do Texas e é o corpo mais maciço do cinturão de asteroides.
A sonda espacial iônica Dawn foi lançada de Cabo Canaveral em 2007 para explorar o cinturão de asteroides. Antes de chegar a Ceres ela visitou o asteroide Vesta, que tem 525 quilômetros de diâmetro e passou 14 meses em órbita daquele corpo celeste, fotografando e mapeando toda a sua superfície. Acredita-se que tanto Ceres quanto Vesta iam se tornar planetas como a Terra e Marte, mas tiveram seu desenvolvimento abortado pela gravidade do planeta gigante Júpiter que desviou os asteroides que iriam colidir com eles, acrescentando massa. É o que diz a doutora Carol Raymond do Laboratório de Propulsão a Jato de Pasadena, que controla as missões das naves não tripuladas, como a Dawn.
– Estudando Vesta e Ceres vamos compreender melhor como o nosso sistema solar se formou, principalmente os planetas terrestres, como o nosso. Esses corpos são os blocos de construção que formaram Vênus, a Terra e Marte – disse a doutora Raymond.
Ao contrário de Vesta, Ceres é muito seco, mesmo assim calcula-se que 25% de sua massa seja água. A água pode ser outra explicação possível para os pontos brilhantes na superfície do minimundo, eles podem ser blocos de gelo descobertos pelo impacto de meteoritos.
A performance da sonda Dawn só é possível graças ao seu sistema de propulsão. A maioria das naves desse tipo deixa a Terra impulsionada por foguetes químicos e depois viaja pelo espaço empurrada pela gravidade dos planetas. É o caso da nave Rosetta, que se encontra orbitando um cometa. Já a Dawn tem três motores de propulsão iônica que permitem que a nave acelere ou freie, visitando vários corpos celestes diferentes. Na propulsão iônica um feixe de íons, ou partículas atômicas carregadas, é expelido da cauda da nave, gerando o impulso na direção oposta. A vantagem é que um motor desse tipo consome muito pouco combustível, comparado com, os foguete químicos. E pode funcionar durante anos.
Depois da missão Dawn a Nasa planeja lançar a sonda Osiris-Rex, em 2016, para colher um pedaço de um asteroide e traze-lo para a Terra.