Nunca um filme sobre um cachorro provocou tanta polêmica. De um lado estão defensores dos animais, concentrados em torno da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals – Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais) dos Estados Unidos. Do outro os produtores e atores do filme “Quatro Vidas de um Cachorro”. O pivô é um pastor alemão de dois anos de idade, chamado Hércules, que aparece sendo forçado a mergulhar em um tanque de água fria, durante as filmagens do longa do diretor Lasse Hallström.
O vídeo foi feito há quinze meses, mas só foi divulgado na quarta-feira passada, alguns dias antes da estreia do filme. O que levou o autor do livro, W. Bruce Cameron, a questionar a suposta denúncia: “Porque eles levaram 15 meses para fazer esta denúncia no lugar de procurar as autoridades imediatamente?”, disse o autor em uma entrevista para a rede de TV CNN. Cameron acha que o vídeo foi editado e manipulado para sugerir que o animal foi maltratado.
De qualquer forma a Universal Pictures achou melhor cancelar a festa de estreia do filme em Los Angeles. Dennis Quaid, que faz um dos donos do cachorro herói também defende a produção. Ele garante que teria abandonado as filmagens ao menor sinal de maltrato aos animais. “Os animais foram muito bem tratados. O episódio mostrado no vídeo aconteceu no final de um dia de filmagem, quando o cachorro estava cansado de mergulhar e pronto para ir embora. E foi isso o que aconteceu”, garante o ator de 62 anos em outra entrevista divulgada na internet.
“Quatro Vidas de um Cachorro” conta a história de um cão que vive quatro vidas diferentes em um período de cinco décadas. A cada nova encarnação ele nasce com uma raça ou sexo diferentes. Daí terem sido usados inúmeros cães das raças Golden retriever, Pastor-alemão e outras durante as filmagens. Os animais foram fornecidos por uma empresa especializada chamada Birds and Animals Unlimited (Pássaros e animais ilimitados). Todo o trabalho com os cachorros foi monitorado pela American Humane Association, que vigia o tratamento dos animais nos filmes americanos.
Segundo a AHS o vídeo foi editado para sugerir que o cachorro estava exausto e correndo risco de afogamento. Em uma entrevista para o jornal The New York Times o produtor Gary Polone conta que o episódio aconteceu quando o treinador tentou fazer o cachorro Hercules pular no tanque de um lado oposto ao que ele estava acostumado. O cachorro se recusou e esperneou, sendo levado para o lado em que ele estava acostumado. Polone garante que depois disso o cachorro pulou no tanque e nadou contente. Hercules fora selecionado para fazer esta cena porque gosta muito de brincar na água.
A Amblin Entertainment, empresa fundada pelo cineasta Steven Spielberg, garante que havia um mergulhador de plantão no tanque, o tempo todo, pronto a resgatar o cachorro em caso de acidente. Organizações como a PETA defendem que filmes como “Quatro Vidas de um Cachorro” deviam ser feitos com animais digitais, feitos em computadores, mas os produtores dizem que seria muito caro e defendem o uso de animais reais.
De qualquer forma Polone acha que o treinador errou ao forçar o cachorro a mergulhar quando ele se mostrou estressado. E diz que isso foi indesculpável. Independente da polêmica os críticos americanos acharam que o filme de Lasse Halström contém todos os clichês imagináveis em filmes sobre cachorros, como salvamentos de pessoas de casas em chamas e rios turbulentos além de abusar de algo que sempre provoca lágrimas nas plateias: a morte de um cachorro.
Por Jorge Luiz Calife