Mais de 90 pessoas foram presas nesta quinta-feira (15) durante uma operação contra facções criminosas que reuniu ministérios públicos de nove estados, em diferentes regiões.
“O crime, infelizmente, se nacionalizou. É uma realidade nacional, as facções se espalharam e se transformaram em grandes empresas que têm esses vínculos em todos os estados da federação”, disse o presidente do Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC), Alfredo Gaspar, em entrevista coletiva, na sede do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
Segundo Gaspar, que também é o procurador-geral do Ministério Público de Alagoas, o combate ao crime precisa acompanhar o grau de integração e capilaridade das facções no território nacional. “As facções se fortaleceram demais no Norte e no Nordeste, mas deixaram tentáculos e o coração financeiro no Centro-Sul. Tem que se ter um olhar globalizado, se não, não vai conseguir combater.”
A operação cumpriu 305 mandados, sendo cerca de 190 de busca e apreensão e os demais de prisão. As ações ocorreram em Alagoas, Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro.
Pelo menos 25 pessoas foram presas no Ceará; 21 em Alagoas; 20 em flagrante no Amapá; 12 detidas na Bahia; 5 no Rio de Janeiro; 5 em Mato Grosso do Sul e uma no Amazonas. Os números devem ser atualizados ao longo do dia.
De acordo com Gaspar, a operação promove a integração entre os procuradores de cada estado e prestigia a independência dos ministérios públicos. “Demonstra também a necessidade de se manter nacionalmente o poder de investigação do Ministério Público.”
Associação ao tráfico
Uma das três operações em curso no Rio cumpriu mandados de busca e apreensão contra nove policiais denunciados por participar de esquema de recebimento de propina de traficantes de drogas. A ação se dá com apoio da Polícia Federal e da Corregedoria da Polícia Militar. O MP-RJ chegou a pedir a prisão dos militares, mas o pleito foi rejeitado pela Justiça.
Segundo o Ministério Público, os PMs recebiam vantagens indevidas para deixar de combater o tráfico na área do 9º Batalhão (Rocha Miranda) e também forneciam aos criminosos informações sobre operações policiais na região. As investigações apontaram que um policial vendia armas e drogas apreendidas em outras operações para traficantes da região do 9º Batalhão.
Sem detalhar valores, o promotor de Justiça Lúcio Pereira afirmou que as investigações chegaram a captar a movimentação de dezenas de milhares de reais por semana, em pagamentos aos policiais.
No grupo denunciado, há sete oficiais da PM, incluindo integrantes do Estado Maior do batalhão. Segundo o MP, foram cumpridos mandados de busca contra outros policiais que ainda não foram denunciados.
A denúncia contra os nove PMs já foi recebida pela Auditoria Militar, que deferiu o afastamento dos agentes públicos de suas funções, apesar de ter rejeitado a prisão dos acusados. Eles também responderão a processos administrativos que podem resultar em expulsão.
Até lá, os policiais não poderão andar armados nem entrar em quartéis, mas continuam a receber salários.
O porta-voz da Secretaria Estadual de Polícia Militar, Mauro Fleiss, disse que bons e maus profissionais existem em quaisquer profissões. “Reafirmamos nossa total intolerância contra qualquer desvio de conduta. A corporação vem se sacrificando a cada dia buscando resultados melhores, é um esforço muito grande, e não podemos permitir ações dessa natureza”.
Madureira
O MP-RJ também realizou hoje operações contra traficantes que atuam em favelas de Madureira, na zona norte do Rio, região dentro da área de atuação do 9º Batalhão. O grupo, da facção Terceiro Comando Puro, comercializava grande quantidade de armas e drogas, e disputava o controle de territórios na capital por meio de homicídios e corrupção policial.
Entre os denunciados que tiveram a prisão preventiva decretada pela 2ª Vara Criminal de Madureira está o acusado de chefiar o grupo, Wallace de Brito Trindade, conhecido como Lacoste.
A terceira ação deflagrada hoje no Rio de Janeiro mirou pessoas acusadas de atuar como laranjas que ocultavam recursos para a facção Comando Vermelho. As contas dos seis acusados teriam recebido, em um ano e 11 meses, 3.357 depósitos que somam mais de R$ 1 milhão. Os recursos seriam originados de diversos municípios fluminenses, o que, para o MP, evidência que a ocultação se dava a favor de toda a facção criminosa.
Por Vinícius Lisboa, repórter da Agência Brasil.
1 comment
Bom se as facções se tornaram empresa agora é só fazer o registros como empresas para se tornarem legalmente .
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