Força no sarilho, Brasil!

by Paulo Moreira

João Guilherme Sabino Ometto

Dentre os muitos e deliciosos causos das pessoas sábias e simples do campo, lembrei-me de um relato muito interessante: um sitiante da região de Limeira, no interior paulista, teve a grande ideia de usar um balde maior para extrair água do poço, diminuindo, assim, o número de retiradas diárias. No entanto, o vasilhame ficava muito pesado. A solução encontrada não foi reduzi-lo, mas sim a colaboração das pessoas, que somavam forças para girar o sarilho, aquele cilindro no qual se enrola a corda.
A antiga história veio de imediato à minha mente ao ler a declaração sincera e transparente do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o País está no fundo do poço. Aliás, a difícil situação econômica brasileira está claramente dimensionada nas estimativas pessimistas sobre o crescimento do PIB em 2019.
Considerando que nossos problemas não podem ser removidos por mágica ou decretos e que o balde de nossa crise também é muito pesado — transbordante de rombo fiscal, insegurança jurídica, excesso de impostos, burocracia, criminalidade, infraestrutura, educação e saúde precárias —, precisamos adotar a mesma solução inteligente do sitiante limeirense, ou seja, somar forças no sarilho, e com sinergia! Afinal, é necessário que todos o girem no mesmo sentido, pois esforços dispersos, mesmo com ótimas intenções, são invariavelmente condenados ao fracasso.
Assim, a primeira providência é promover urgente entrosamento entre os membros do próprio Governo Federal, no qual se observam, quase diariamente, desencontros de informações e desmentidos, que acabam causando insegurança no mercado e nos investidores. Também é necessária mais articulação entre Executivo e Legislativo. O debate político não pode ser obstáculo à tramitação de prioridades nacionais e propostas de elevado interesse da população. Se, de modo muito louvável, estamos vencendo o fisiologismo e o “toma lá dá cá”, é preciso manter o diálogo e canais eficientes de negociação na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Em todas as instâncias do Estado, a discussão de questões menores e desnecessárias picuinhas conspiram contra as medidas mínimas que precisamos adotar para vencer a crise e voltar a crescer. Nesse contexto, é prioritária a reforma da Previdência e, logo em seguida, a tributária, bem como soluções até hoje postergadas, como o acesso ao crédito, com juros adequados, redução da burocracia, mais segurança jurídica e melhor ambiente de negócios. Será mais difícil fazer tudo isso sem o foco do poder público nas reais prioridades nacionais.
A democracia e o espírito republicano nos propiciam todos os meios necessários para que a saudável divergência de ideias seja construtiva e não um empecilho. Ainda é tempo, no âmbito do governo e da legislatura empossados este ano, de adotarmos políticas públicas capazes de nos reconduzir ao crescimento sustentado da economia. Porém, para tirar o Brasil do fundo do poço apontado pelo ministro Paulo Guedes, é crucial somar forças no sarilho e sintonizar todas as energias numa agenda viável de desenvolvimento.

João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), é vice-presidente do Conselho de Administração da Usina São Martinho e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).

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3 comments

Carlos Magno de Oliveira 6 de julho de 2019, 10:22h - 10:22

Só conseguiremos sair do fundo do poço quando a sociedade civil unida elaborar realmente as reformas necessárias e imparciais sem benefício para determinadas classes que dominam nossa classe política.
Feito isto e com união de todos exigir que as mesmas possam ser aprovadas integralmente para possibilitar a esperança de um Brasil que possa oferecer dignidade a todos e evite a debandada de nossos jovens para o exterior.
Reforma política, previdenciária, tributária, penal, trabalhista e etc… Necessitam sim de reformas radicais urgentes, e não será com as reformas em andamento atualmente que iremos conseguir tirar este país do atoleiro e entreguismo que se encontra devido a incapacidade governamental das últimas 5 décadas.

guto 5 de julho de 2019, 19:31h - 19:31

O índice de desemprego nos EUA é de 3,7%… Lá muitos empresários não conseguem achar gente para contratar… A economia está muito bem lá, pois o desemprego é o mais baixo desde 1969! Muito desses empregos vieram da Reforma Tributária realizada lá!
Logo é muito correto a análise do autor João Guilherme Sabino da importância das Reformas para trazer o equilíbrio das contas públicas e aquecer a econômia brasileira trazendo os tão sonhados empregos!

Marcelo Bretas 9 de julho de 2019, 12:15h - 12:15

Mirian leitão do DV, de onde retirou esse absurdo? Não compare alhos com bugalhos. Com comparar economia americana com a brasileira? Que reforma tributária você está falando? Da tributação sobre doações e transferência de bens que existe por lá e que aqui a nossa elite não quer nem pensar ou do imposto sobre mercadoria sobre o consumo que sobrecarrega os mais pobres? Em qualquer modelo apresentado no Brasil só se referem sobre reduzir a carga tributário para empresas, bancos e fortunas. Ora , são esses o que já pagam menos imposto no país. Num país desigual como o nosso , não reduzir os pagamentos da dívida pública no orçamento federal não existe o tal equilíbrio nas contas públicas. Acorda!!!

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