O pó da CSN e o encontro politizado

by Paulo Moreira

Na leitura diária do DIÁRIO DO VALE de quinta feira, 23 de agosto, li na página 5: “Encontro na Cúria Diocesana”, para ouvir moradores afetados pelo pó da CSN promovido pelo chamado “Movimento dos Atingidos pelo Pó da CSN”.
Como todos, também, achando que muito pó estava sendo lançado na nossa cidade e tendo sido responsável técnico pelas especificações de compra do alto-forno nº 3 e sinterização nº 3 da CSN (quando esses equipamentos foram dotados dos mais modernos sistemas de limpeza de seus gases existentes na época) achei que talvez pudesse dar alguma ajuda na solução desse problema.
Imaginei que o representante da CSN, que certamente teria que estar num encontro dessa natureza, poderia fornecer informações sobre os atuais equipamentos de limpeza dos gases produzidos na usina, desde que novas e importantes unidades industriais foram adicionadas à mesma, como a fábrica de não planos(vergalhões de aço e fio máquina) e de cimento para saber das atuais causas desse aumento da poluição.
O encontro, marcado para as 18 horas, atrasou quase uma hora. Normalmente sou pontual nos meus compromissos e cheguei cerca de 10 minutos antes do horário marcado.
Nesse período de espera passei a observar os aparentes responsáveis pelo encontro, assim como os assistentes. Primeiro estranhei a presença de dois cartazes contra a CSN, criticando a empresas devido aos acidentes e dizendo que a mesma só mata seus funcionários e só pensa em lucro.
Depois observei não ter a presença de nenhum funcionário da CSN, no seu conhecido uniforme. Em seguida, vi um conhecido deputado federal, não representante de nossa cidade, mais tarde, recebi um folhetim de uma chamada Vanguarda Operária dizendo: “Nós acusamos: foi homicídio industrial e em letras garrafais”: CSN=MORTES, DEMISSÕES e LUCROS
Quando foi montada a mesa diretora do encontro, nenhum representante da CSN fora convidado e então confirmou o que já imaginara: tratava-se de uma reunião política, mas não para a solução de um grande e real problema que era a poluição da cidade pelos equipamentos da usina da CSN.
Um especialista fez uma palestra falando dos males para os moradores devido à poluição e em seguida dada a palavra aos ouvintes para perguntas dentro de tempos definidos.
Um morador reclamou da estocagem da escória perto de sua residência dizendo que membro da sua família teria morrido de doença provocada pela mesma.
A escória de um alto-forno é um subproduto constituído de cálcio, magnésio, sílica, alumina, ferro e alguns outros elementos. Na realidade tem quase a mesma composição dos magmas dos vulcões. Quando resfriada com água bruscamente, torna-se amorfa e toma a forma de areia e é utilizada como matéria prima para fabricação de cimento.
Como trabalhei diretamente nos altos-fornos, estando presente nas corridas de ferro gusa e escória, assim como durante a granulação da escória, durante mais de 15 anos, e trabalhei na usina 26 anos e nunca tive nada, creio ser difícil que a escória possa ser tão danosa à saúde. Sem dúvida é assunto para ser pesquisado.
Para se ter uma ideia da importância da movimentação e estocagem da escória do alto-forno, salientamos que, num alto-forno bem operado com as adequadas matérias primas, para cada tonelada de ferro gusa são produzidas cerca de 300 quilos ou 0,3 toneladas de escória.
No alto-forno 3 da CSN que produzem 10.000 toneladas de ferro gusa por dia são portanto produzidas 3.000 t de escória por dia ou seja mais de um milhão de toneladas de escória por ano que, forçosamente, terão que ser retiradas da usina.
Seguramente parte dessa escória deve ir para a fábrica de cimento e o restante para algum deposito próprio. É óbvio que isso demanda grande esforço e trabalho para a CSN.
A instalação da fábrica de cimento na usina é, claro, parte dessa solução.
Creio que a correta ação de nós moradores de Volta Redonda, onde mais de 9.000 moradores são beneficiados pelo emprego na empresa seria ajudá-la na solução desse e outros problemas e não pedir CPI para castigar a CSN, como pedido no encontro.
Mas o que pareceu estar acontecendo é que, pelo menos, para parte do pessoal do encontro, a CSN, por determinação pessoal de seu proprietário e através dos seus gestores, os engenheiros chefes da usina, produzia acidentes para matar seu funcionário e poluição para adoecer a população da cidade . Seguramente não é por esse caminho que teremos empregos permanentes e uma cidade civilizada, despoluída e harmoniosa.

Por Jadir Pontes Bartolomeu, engenheiro metalúrgico aposentado.

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8 comments

Pagador de impostos 31 de agosto de 2018, 09:36h - 09:36

A discussão é importante. A mobilização da população é importantíssima. A empresa tem que continuar produzindo e sendo fiscalizada e cobrada pelos órgãos competentes, que existem para isso. Agora, só para lembrar, muitos dos que reclamam, com razão, da poluição, são os mesmos que jogam lixo e entulho de obras pelas ruas da cidade. Ainda estamos muito longe do mínimo aceitável em termos de meio ambiente.

Catilina 29 de agosto de 2018, 13:35h - 13:35

Parabéns aos organizadores do encontro e à Cúria. Pouco importa se o autor do texto acha o problema do pó “político”.
Também posso achar as doenças pulmonares “políticas”, as recorrentes mortes de operários “políticas”, and so forth…

Leitor 29 de agosto de 2018, 12:24h - 12:24

Kkkkk Com política ou sem política o ato é válido justamente pq os órgãos e políticos eleitos q deveriam inspecionar parecem mais colegas de reunião do Benjamin. Da pra perceber rancor do metalúrgico com causas do povo principalmente pq a direitona não foi convidada. PIEGAS esse cara. Parece mais uma vivandeiras. rs

Paulo Roberto 29 de agosto de 2018, 10:48h - 10:48

Com certeza é economia “porca” na manutenção.
A poluição sonora também está insuportável. Nesse caso, além da falta de manutenção adequada, pode ser equipamento ultrapassado com economia nos investimentos.
Acredito quase toda escória do pátio da Volta Grande seja da Aciaria e não de Alto Forno.
É menos difícil remover boa parte dos moradores da Volta Grande, por conta da CSN, claro, do que tirar toda aquela escória de lá. A empresa tem bastante terras onde se pode criar bairros inteiros.

POMBO 29 de agosto de 2018, 10:00h - 10:00

TUDO QUE VEM DESTE BISPO COMUNISTA NÃO PRESTA.

Cidadã 28 de agosto de 2018, 23:15h - 23:15

Estive no encontro também, porém não tive a mesma percepção. O que vi foi um encontro democrático onde a população pôde falar abertamente. Infelizmente, na democracia temos que escutar de um tudo, certo que há oportunistas, porém como cidadã devemos sim cobrar dos entes que fiscalizam que a CSN cumpra as leis, afinal onde foi que nós (quase 300 mil habitantes em Volta Redonda) assinamos que em troca de 9.000 empregos teríamos doenças decorridas de tanta poluição?

Cada organismo é diferente 28 de agosto de 2018, 21:58h - 21:58

Nunca trabalhei na CSN, mas já tive leucopenia 2 vezes e vivo com anemia provocada por metais pesados….
Isso vai de organismo.
Hoje mesmo mostrou um estudo na China , sobre os efeitos da poluição no organismo, provocado demência e auseymer…
Acho que tem que trocar os filtros…
O aumento considerável da poluição é nítido…

Cidadã 28 de agosto de 2018, 23:16h - 23:16

Estive no encontro também, porém não tive a mesma percepção. O que vi foi um encontro democrático onde a população pode falar abertamente. Infelizmente, na democracia temos que escutar de um tudo, certo que há oportunistas, porém como cidadã devemos sim cobrar dos entes que fiscalizam que a CSN cumpra as leis, afinal onde foi que nós (quase 300 mil habitantes em Volta Redonda) assinamos que em troca de 9.000 empregos teríamos doenças decorridas de tanta poluição?

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