Deficiente visual dá um ‘xeque mate’ na discriminação

by Diário do Vale

Professor de Xadrez se formará em direito


Volta Redonda – 
Morador do bairro Vila Rica Tiradentes, o bacharel em direito Renato Oliveira dos Santos, de 36 anos, desde criança aprendeu a superar seus limites com bastante esforço. E graças ao tabuleiro de xadrez. Deficiente com apenas 20% de visão em um dos olhos, ele conheceu o xadrez através de amigos aos 12 anos e não parou mais. Se tornou jogador, professor, treinador e árbitro.

– Me apaixonei pelo xadrez desde o início e aos poucos comecei a participar de torneios pela minha escola. Entrei em alguns campeonatos oficiais e cheguei a Campeão Estadual de Xadrez Rápido e de Xadrez Relâmpago. A partir de 2001, comecei a dar aulas de xadrez em escolas públicas e particulares. Como treinador também ganhei campeonatos estudantis. Já tive até alguns alunos que se destacaram em campeonatos nacionais e internacionais – comentou.

Renato conta que a deficiência visual impôs barreiras de uma maneira geral em diversas etapas de sua jornada. A começar pela escola, onde se lembra bem das dificuldades que iam desde a leitura até a realização das provas. Na época nada ou quase nada era adaptado para receber um aluno como ele.

Bem diferente do que encontrou no Centro Universitário de Barra Mansa (UBM), onde estudou direito e vai se formar no dia 23 de agosto. Por lá, segundo Renato, recebeu todo o suporte e estrutura para conseguir concluir o curso.

– Não encontrei dificuldade, pois sempre tive o apoio do núcleo de atendimento à acessibilidade, da coordenadora Márcia Beatriz. Graças a este núcleo, tive toda ajuda para conseguir concluir o meu curso. Aliás, só tive acesso através de uma bolsa de acessibilidade integral – disse ele.

O Xadrez no tabuleiro da vida

Renato afirma que aprender e praticar Xadrez o ajudou, aumentando a agilidade de raciocínio, memória e concentração. Outro ponto que ele destacou foi a evolução da inteligência emocional.
– O xadrez deve ser recomendado para todas as crianças. Tinha um aluno que era portador de síndrome do pânico e depressão e o xadrez auxiliou na recuperação dele – comenta.

Renato diz ainda que o Xadrez se tornou uma ferramenta de trabalho, que o ajudou no sustento de uma forma geral. Mesmo agora, apesar de já realizar trabalhos na área jurídica, ainda trabalha no Colégio Batista como professor de xadrez. Além disso, é orientador técnico do projeto de Xadrez nas Escolas de período integral em Barra Mansa, trabalhando com o coordenador geral do projeto Nilson Abrantes.

– Este projeto se iniciou em março e no momento atende nove escolas do período integral do município de Barra Mansa. A proposta é que até 2019 todas as escolas do município tenham aulas de xadrez – acredita.

O enxadrista explicou que ele e Nilson Abrantes criaram em 2015 a Real Academia de Xadrez Evoluindo Mentes (RAXEM). É a partir da academia que atualmente eles coordenam o projeto de Xadrez em Barra Mansa.

Entre os projetos e trabalhos já realizados, se destaca uma parceria com os intérpretes do colégio Marcello Drable, no ano Bom e outro em Quatis.

– No colégio Marcello Drable nós desenvolvemos uma apostila de Xadrez para alunos com deficiência visual e auditiva. Já em Quatis desenvolvi um projeto de Xadrez nas escolas que durou até 2012. E graças a este projeto, o município conquistou a quinta posição de Xadrez Escolar do Brasil – disse.

O professor de Educação Física e Coordenador Geral do projeto de Xadrez em Barra Mansa, Nilson Abrantes, diz conhecer o Renato há nove anos.

– Eu já desenvolvia um projeto de xadrez nas escolas de Barra Mansa e após conhecer o Renato ele nos auxiliou a aprimorar as técnicas junto aos alunos e professores. E apesar de suas limitações como deficiente visual, o Renato é um excelente enxadrista e professor de xadrez com grande capacidade de dar aulas para iniciantes e instrutores – elogiou Nilson.

Só para constar: mesmo com isso tudo, Renato ajuda a Coopenea (Cooperadores com Necessidades Especiais e Amigos) e o Sindicato Nacional dos Aposentados Pensionistas e Idosos (Sindinap) com práticas jurídicas.

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3 comments

guto 15 de julho de 2018, 13:48h - 13:48

Muitas pessoas, dotadas de olhos perfeitos, são cegas em suas percepções. Muitas outras, com ouvidos bem aguçados, são emocionalmente surdas. São precisamente essas pessoas que pretendem fixar limites para os que estão privados de um ou mais sentidos.
Não há barreiras que o ser humano não possa transpor!
O que dizer daqueles que diziam do Renato que não seria nada na vida devido às suas limitações?!

Como diria o ex-Senador Mão Santa: “A ignorância é audaciosa!”…

Juarez 15 de julho de 2018, 11:26h - 11:26

Parabéns Doutor Renato!!!
Mostrou para todos que com vontade e perceverança se atinge o objetivo!!!
Sua excelência está de parabéns!!!

Alexsander 14 de julho de 2018, 13:36h - 13:36

Parabéns ao professor enxadrista e futuro advogado!
Que teus caminhos sejam sempre guiados pelo Criador!

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