Voto contra Collor em 1992, Clinger optaria pela saída de Dilma Rousseff

by Diário do Vale
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Clinger: ‘Se compararmos com hoje, Collor deveria ter sido julgado no tribunal de pequenas causas’
(Foto: Paulo Dimas)

Volta Redonda- Em dezembro de 1992 chegava ao fim uma epopeia que teve no impeachment do então presidente da República, Fernando Collor de Mello, o grande ato. Vinte e quatro anos depois o Brasil vive momento parecido, com o iminente afastamento da presidente Dilma Rousseff. No caso de Collor, Volta Redonda também tinha um deputado federal no olho do furacão. Trata-se de Marino Clinger, que na época votou pela saída de Collor e hoje votaria contra Dilma.
Clinger foi vereador e prefeito de Volta Redonda antes de ser eleito deputado federal. Atualmente, segundo ele, está afastado da política, vivendo de suas aposentadorias e “curtindo sombra e água fresca”. No entanto, abriu uma exceção e voltou a falar sobre o tema que norteou sua vida durante décadas ao traçar um paralelo entre a crise atual e aquela enfrentada em 1992.
Nesta entrevista ao DIÁRIO DO VALE, Clinger comparou as situações de Collor e Dilma, sobre o que espera de Michel Temer e até mesmo sobre casos de captação ilícita de votos.
– Sou amplamente favorável à saída de Dilma do poder. As famosas pedaladas fiscais são motivos mais que fortes para o impeachment e não precisaria nem de outros. Esse (pedaladas fiscais) é o motivo real da necessidade do afastamento, mas existem outros motivos que não estão incluídos neste processo e que considero até mesmo mais graves – disse ele.

Poder das ruas: antes e hoje

Clinger destacou que as ruas tiveram em 1992 e continuam tendo agora protagonismo na condução da crise política. O ex-deputado afirmou que a força dos “caras pintadas” em 1992 foi fundamental para que Collor tivesse uma base mínima de apoio político no Congresso Nacional. “Não tinha rede social, mas a juventude foi com tudo para a rua”, e fez uma comparação com o que Dilma vive agora.
– O Collor não tinha ninguém a favor dele, nem movimentos sociais, nem a CUT (Central Única do Trabalhador) nem partidos, como a Dilma ainda tem o PT e o PC do B. Essa é uma diferença atual – destacou.
Na opinião de Clinger, as mobilizações atuais serão determinantes para queda do governo, assim como o sustentaram até o momento diante da crise.
– A queda do Collor foi até facilitada por conta disso. Ele não tinha ninguém. Já a Dilma ainda conta com esse aparato político e sindical, que se uniram aos movimentos sociais. Só por isso ainda se sustenta até agora. Não fosse isso, já estaria fora – destacou.

Collor x Dilma

Ao comparar os tipos de crimes de responsabilidade imputados a Collor e Dilma, o mineiro de Juiz de Fora usou de um artifício que sempre lhe foi peculiar: a ironia fina. “Se compararmos com o que temos hoje, o Collor deveria ter sido julgado em um tribunal de pequenas causas”, disse, para em seguida retomar o tom sério da conversa:
– O Collor foi cassado ao ser flagrado pagando despesas pessoais com dinheiro que havia sobrado da campanha. Foi aquele famoso caso da Elba (carro Fiat Elba). As pedaladas da Dilma são mais graves, fora os outros quatro pedidos de impeachment que estão em análise. Esses outros, em minha visão, são ainda mais graves – destacou.
Apesar disso, Clinger ressaltou que não se arrepende de ter votado pela saída de Collor. “Há quem diga que o Collor foi um injustiçado, mas não é assim. O Collor errou e estava mesmo aprontando um grande esquema de corrupção. Por isso, não me arrependo do voto de maneira alguma”, disse.

Barganha por votos

Outro ponto que se assemelha nas duas maiores crises políticas é a barganha por votos. No entanto, Clinger diz que há uma grande diferença entre o que se passa agora e do que ele vivenciou em 1992. “Na nossa época só sabíamos de ofertas pelo lado do governo. Era o Collor tentando se salvar. Hoje temos notícias que os dois lados estão oferecendo possíveis vantagens”, destacou o ex-deputado.
Sem citar nomes, Clinger lembrou que teve um colega de plenário que teria cedido às tentações. “Na época disseram que tinha uma tabela: para votar contra o impeachment ou então se ausentar. Era um momento decisivo e um colega nosso acabou indo para os Estados Unidos no dia da votação. Na época, cada parlamentar que se ausentasse receberia 200 mil cruzeiros”, contou.

Temer x Itamar

Clinger destacou também que, como agora, em sua época havia esperança de que o novo governo trouxesse melhorias para o país. Em 1992 o Brasil também enfrentava uma forte crise econômica, mas na opinião de Clinger sem comparação com a atual, muito mais forte.
– Minha esperança com Michel Temer é boa. Temos de ter esperança. Espero seja como foi com Itamar Franco – afirmou Clinger, referindo-se ao então vice-presidente de Collor.
No entanto, o ex-deputado mais uma vez apontou antagonismos entre os vice-presidentes.
– O Itamar foi muito mais discreto do que está sendo o Temer. O Itamar não se envolveu nas disputas do Congresso e permaneceu assim até a queda definitiva de Collor. Hoje o Temer está assumidamente à frente das negociações do grupo que quer a saída da Dilma. O Itamar foi a consequência do impeachment, Temer é um dos causadores – afirmou.

PMDB

O ex-deputado afirmou que muito da desconfiança que paira sobre um eventual governo de Michel Temer se dá pelo fato do vice ser do PMDB.
– Em todas as irregularidades apontadas, seja no governo do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, lá está o PMDB. Por isso o Temer não é uma unanimidade, como foi no caso do Itamar. Na verdade, só uma corrente política não apoiou o Itamar naquele momento, que foi justamente o PT – destacou Clinger.

‘Melhores tempos’

Clinger ainda lembrou que após a queda de Collor viveu um grande momento de seu mandato. Itamar, assim como Clinger, tinha suas origens em Juiz de Fora, o que por si só já ajudou o então deputado a aumentar o prestígio junto ao Governo Federal. Ao montar seu ministério, Itamar ainda nomeou Murílio de Avellar Hingel, que havia estudado com Clinger, para a Educação. “Foi um bom tempo, no qual consegui muitas coisas boas para Volta Redonda. Quem sabe Volta Redonda não encontra um novo amigo em um novo governo”, finalizou Clinger.

Por Rafael de Paiva

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6 comments

Jose Carlos 18 de abril de 2016, 09:44h - 09:44

A foto esta muito diferente. É mesmo o ex-prefeito de Volta Redonda ?

Zero 18 de abril de 2016, 01:28h - 01:28

Não adianta choramingar. Fora Dilma. Fora PT. Lula na prisão.
O Brasil é nosso.

sérgio luiz 17 de abril de 2016, 22:17h - 22:17

COMO PODE UM HOMEM TÃO BEM INFORMAD E IDOSO, COMPARAR O COLOR COM DILMAR , DILMA NÃO ROUBOU NADA. NADA FOI PROVADA COMTRA ESTÁ SENHORA; AGORA TODA VEZ QUE O BRASIL ESTIVER EM CRISE TRACA-SE O PRESIDENTE.

Observador 18 de abril de 2016, 11:28h - 11:28

Tchau querida.

Caetano 17 de abril de 2016, 14:40h - 14:40

Sempre esses mineiros provincianos entregando o nosso país aos interesses internacional

Paulão 17 de abril de 2016, 10:44h - 10:44

Prefiro acreditar que o Clinger está tão iludido quanto a maioria da classe média que apoia a ideia de que Temer pode melhorar o futuro do Brasil. Com Eduardo Cunha, família Sarney, Eliseu Resende, Jucá, mais o apoio do PSDB de Serra, Aécio, Alckmin, FHC e mais o PP e outros partidos menores cheios de suspeitos de corrupção, não há nenhum interesse em combater os corruptos aliados a favor do impeachment. Muito pelo contrário, é tudo que eles querem, o fim das investigações contra os corruptos do PMDB e seus aliados.

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