Ditadura deixou pelo menos 200 mortos e desaparecidos no campo

by Diário do Vale

Rio – As violações de direitos humanos cometidos pela ditadura militar deixaram pelo menos 200 camponeses mortos ou desaparecidos no estado do Rio de Janeiro. A estimativa é da Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio), que ouviu esta semana o depoimento de pessoas que sofreram perseguição e repressão no campo. Nadine Borges, que faz parte da CEV-Rio, criticou o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), finalizado em dezembro. Segundo ela, o documento não foi profundo na abordagem das violações na área rural.
– No Rio de Janeiro, que não é um estado reconhecido por violações na área agrária, a CNV avaliou algumas situações em Cachoeiras de Macacu. Mas, com essa pesquisa, a gente já identificou várias outras cidades, na região do Sul Fluminense, Angra dos Reis, Paraty, Magé e Baixada Fluminense. A repressão no campo, principalmente em 1964, no início da ditadura, foi muito forte. Centenas de famílias foram despejadas, removidas das suas terras – disse.
Nos depoimentos, Jair da Anunciação relatou sua luta contra grandes empreendimentos imobiliários em Trindade, vila de pescadores perto de Paraty. “Na década de 1970, chegou a Paraty uma companhia multinacional para fazer um condomínio grande de luxo. Começaram a executar a obra na Praia de Laranjeira e falavam que Trindade fazia parte. Começaram a queimar as casas, trouxeram 70 jagunços. Foram anos de horror. Quem tinha lavoura abandonou a lavoura, a pesca ficou difícil. A gente não tinha como trabalhar, precisava de doação para sobreviver. A comunidade estava vivendo em cavernas, montamos barracas no meio do mato”, disse.
A lavradora Roseli Borges relatou que a família foi expulsa da fazenda na região de Campos dos Goytacazes. “Vivíamos num paraíso. Minha mãe, meu avó, minha avô, todo mundo trabalhava na fazenda. Até que um dia apareceu um grileiro dizendo que aquilo era dele. Meu avô tinha a escritura de usucapião, mas pegaram o documento dele, ele foi preso e torturado. Chegavam de cavalo e davam chicotada nas costas dele. Os outros moradores da região não aguentaram e foram saindo, mas meu avô ficou. Eles colocaram gado para comer a nossa roça, cortaram as fruteiras, colocaram fogo na casa, então ficamos morando no mato”.
Também prestaram depoimento Ney Fernandes, que integrava a União Operária da cidade de Valença; Laerte Bastos, liderança nos anos 1950 e 1960 em conflitos de terra em Duque de Caxias; e Jorge Francisco de Brito, morador de Lagoinhas, Cachoeira de Macacu, preso pela ditadura, acusado de participar de uma emboscada que matou um militar que grilava terras na região.

Relatório final

O levantamento dos 200 nomes foi feito por pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que venceu edital da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para subsidiar os trabalhos da CEV-Rio. De acordo com Nadine, estão sendo desenvolvidas sete pesquisas, por seis universidades, que integrarão o relatório final da comissão, a ser apresentado em outubro.
Nadine Borges disse ainda que a comissão está iniciando a redação do relatório final e que as pesquisas relacionadas ao trabalho devem continuar após a entrega do documento.
Ela informou que, com a saída de Wadih Damous da CEV-Rio, para assumir o mandato de deputado federal, a advogada Rosa Cardoso, que participou da CNV, aceitou o convite para integrar a equipe do Rio e vai assumir a presidência da comissão até o fim dos trabalhos.

Setor privado

A coordenadora do projeto da Faperj, Leonildes Medeiros, destacou que os camponeses sofreram a repressão tanto do Estado quanto do setor privado. – A repressão no campo assume duas faces. Primeiro é a violência da ditadura militar: as casas invadidas, pessoas retiradas de suas casas, lideranças presas e torturadas. Mas, também, uma repressão que normalmente não é contabilizada, que se dá pelo poder privado: as grandes empresas que chegam com os tais grandes projetos de desenvolvimento, que removem as pessoas, que queimam casas, que jogam gado nas lavouras – disse.
Para o membro da Comissão Camponesa da Verdade Gilney Viana, o campo pode ter sido o setor que mais sofreu repressão e perseguição durante a ditadura militar. “Quando se deu o golpe, a maioria da classe trabalhadora era camponesa, a maioria da população brasileira estava no campo. Isso só é revertido com o processo de urbanização que é acelerado também pela ditadura. Não se sabe até hoje a proporção, mas é possível que a maioria dos atingidos tenha sido os camponeses e os povos indígenas, que foram igualmente sacrificados”, afirmou.
De acordo com ele, a estimativa é que 8,5 mil indígenas tenham sido assas

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3 comments

ÊTA POVINHO 24 de maio de 2015, 19:15h - 19:15

A ditadura (para os bandeiras vermelhos, inclusive os de hoje) foi a única alternativa contra o comunismo. Se os militares não tivesse sucesso, hoje a bandeira do MEU BRasil seria vermelha. Se precisássemos fugir teria de ser de barco com é em Cuba.

Fora comunistas! Vão para Cuba, Venezuela, Córéia do Norte, China, e deixem o MEU BRasil em paz. Ah, e leve os capitalistas tbm.

Nico 24 de maio de 2015, 14:00h - 14:00

Haja revanchismo! O regime militar acabou há 30 anos! Os ex-guerrilheiros, que com a maior cara de pau dizem ter lutado pela democracia (MENTIRA), já estão com o bolso cheio do nosso dinheiro – vide a bolsa ditadura. Que tal se preocupar com coisas realmente importantes? Os mortos e desaparecidos durante os 21 anos do regime militar foram cerca de 400, incluindo os legitimamente mortos em confrontos armados. Enquanto atualmente no Brasil cerca de 1000 pessoas são assassinadas por SEMANA. O governo não está preocupado com as vítimas da violência, está preocupado apenas em disseminar a ideologia assassina do socialismo/comunismo…

Paulo 24 de maio de 2015, 12:03h - 12:03

É preciso comparar esses números com os números de outros regimes, como o da Revolução Cubana, quantos foram ao ‘paredón’ lá… religiosos e até homossexuais eram perseguidos. A tal ditadura militar brasileira não foi nada quando comparada a União Soviética, Cuba, Coréia do Norte… Até nossa vizinha Venezuela, lá Direitos Humanos só serve para quem não é oposição ao governo.
O golpe militar foi a única saída naquela época, engana-se quem acha que havia outra via ‘democrática’.

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